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GOVERNO
CRIA 5,2 MILHÕES DE HECTARES DE ÁREAS
PROTEGIDAS E INTERDITA OUTROS 8,2 MILHÕES
PARA ESTUDOS
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Fevereiro de 2005
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18/02/2005 Medidas
são uma reação à violência
e aos assassinatos que vêm ocorrendo no Pará.
Também deve ser instalado um gabinete provisório
no estado. Mais uma pessoa foi morta, ontem, desta
vez em Altamira.
No final da tarde de ontem, dia 17 de fevereiro,
a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, finalmente
divulgou um conjunto de ações do governo
federal para conter a grilagem de terras e o desmatamento
desordenado na Amazônia.
Foram criadas cinco novas Unidades de Conservação
(UCs), totalizando 5,2 milhões de hectares,
o equivalente ao território do estado do
Rio Grande do Norte. Em termos de área total,
as medidas podem ser consideradas como o maior “pacote
ambiental” da história do país. Somadas
a estas últimas áreas, a gestão
Lula já criou 7,9 milhões de hectares
de terras protegidas na Amazônia (veja abaixo
a tabela com as UCs criadas no governo atual).
Também foram “interditados” por seis meses
– para estudos e possível criação
de novas UCs, principalmente Florestas Nacionais
– outros 8,2 milhões de hectares localizados
em terras publicas federais na área de influência
da rodovia BR-163 (Cuiabá-Santarém),
sobretudo em sua margem esquerda (Oeste). Este último
procedimento será feito por “limitação
administrativa provisória”, instrumento legal
que será instituído por uma Medida
Provisória e regulamentado por Decreto –
ambos ainda não publicados. Além disso,
o governo resolveu autorizar a finalização
do processo para o estabelecimento de mais duas
Reservas Extrativistas também na Terra do
Meio: Iriri e Xingu.
Foram criados a Estação Ecológica
da Terra do Meio (PA), com 3,3 milhões de
hectares, e o Parque Nacional da Serra do Pardo
(PA), com 445 mil hectares. Ambos estão localizados
na região de maior pressão do desmatamento,
da grilagem e dos conflitos fundiários no
Pará (para saber mais, clique aqui). A Estação
Ecológica passa a ser a segunda maior UC
do País, só perdendo para o Parque
Nacional do Tumucumaque (AP), com 3,8 milhões
de hectares.
Também foram instituídas a Floresta
Nacional de Balata-Tufari (AM), com 802 mil hectares,
e a Reserva Extrativista do Riozinho da Liberdade
(AC e AM), com 325 mil hectares. A Floresta Nacional
de Anauá (RR), com 259 mil hectares, ainda
será formalizada nos próximos dias.
Será instalado ainda um gabinete executivo
provisório do governo federal - no Pará,
provavelmente em Belém ou em Altamira - para
apoiar os vários órgãos públicos
que pretendem implementar as ações.
O Projeto de Lei (PL) que trata da gestão
de florestas públicas também será
enviado, nos próximos dias, ao Congresso
Nacional em regime de urgência constitucional.
A proposta pretende regulamentar o manejo das florestas
em terras públicas, criar o Serviço
Florestal Brasileiro e o Fundo Nacional de Desenvolvimento
Florestal (saiba mais)
Consideradas pelo governo como necessárias
à manutenção da “ordem pública
e do Estado de Direito no Pará”, as medidas
vinham sendo esperadas há alguns dias e são
uma reação ao assassinato de trabalhadores
rurais, em especial, da missionária Dorothy
Stang, ocorrido no último sábado,
dia 12, em Anapu, no sudoeste do estado. Desde a
morte da freira, mais sete pessoas foram assassinadas
na região. Ainda ontem, um trabalhador rural
conhecido como Jaílton foi assassinado perto
da localidade de Bom Jardim I, a cerca de 40 km
de Altamira. A polícia trabalha com a hipótese
de que seis dos crimes estariam relacionados com
conflitos de terra.
Governo garante que
medidas vão sair do papel
“O governo quer deixar
claro para a opinião pública que não
haverá retrocesso nas ações
de ordenamento fundiário e de criação
de unidades de conservação”, disse
a ministra Marina Silva. Ela acredita que as providências
irão conseguir bloquear a expansão
da frente de desmatamento no sul do Pará.
O pacote ambiental foi acertado em uma reunião,
na manhã de ontem, que contou com participação
do presidente Lula, do vice-presidente e ministro
da Defesa, José Alencar, da ministra Marina
e dos ministros da Casa Civil, José Dirceu,
da Secretaria-geral da Presidência, Luiz Dulci,
da Comunicação de Governo, Luiz Gushiken,
da Coordenação Política, Aldo
Rebelo, e do Desenvolvimento Agrário, Miguel
Rosseto.
Durante a entrevista coletiva em que foram comunicadas
as medidas, o porta-voz oficial da presidência
da República, André Singer, disse
que, durante a reunião, o presidente Lula
classificou os assassinatos no Pará como
“cruéis e covardes”. Lula voltou a dizer
que eles são uma “uma reação
à implantação dos programas
de governo federal voltados para o ordenamento fundiário
e a preservação ambiental naquela
região". O presidente também
insistiu que esses programas continuarão
a ser implementados e ampliados.
Também presente à entrevista, o secretário
de Florestas e Biodiversidade do MMA, João
Paulo Capobianco, explicou que a nova figura jurídica
da “interdição”, criada por uma emenda
à Lei do Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SNUC), irá proibir
os órgãos públicos de autorizar
atividades de corte raso da floresta. Os empreendimentos
legais já em curso serão mantidos.
Sobre as dificuldades para proteger as áreas
sob interdição e as possíveis
contestações judiciais sobre o processo,
Capobianco afirmou que o problema já havia
sido equacionado. “Apesar de grilada e invadida,
a maior parte dessas terras é pública
e não regularmente titulada”, confirmou.
A ministra e o secretário garantiram que
o governo já tomou, nos últimos dias,
as providências necessárias para efetivar
a fiscalização das UCs e das áreas
que ficarão sob estudo.
“A idéia da interdição é
muito boa e já havia sido bastante discutida
na época da elaboração da Lei
do SNUC. A implementação será
um desafio uma vez que não foram anunciados
novos recursos”, diz Adriana Ramos, coordenadora
do Programa de Política e Direito Socioambiental
(PPDS) do ISA. Ela esclarece que a medida pode dar
ao Estado a possibilidade de restringir o uso de
uma área, garantindo a integridade de seus
atributos ecológicos, podendo realizar pesquisas
e definir a categoria a ser criada de um modo mais
inteligente e adequado.
Os recursos para concretizar as ações
virão das verbas já aprovadas para
vários setores do governo e programas já
em andamento – Ibama, Incra, Plano de Ação
para Prevenção e Controle ao Desmatamento
na Amazônia, o Plano BR-163 Sustentável,
o Programa Amazônia Sustentável (PAS)
e o Programa Nacional de Florestas (PNF). Não
foi feita uma estimativa sobre o orçamento
total para todas as intervenções divulgadas
ontem.
“Na presença do ministro da Fazenda, Antônio
Palocci, o presidente Lula disse que cada um dos
ministros envolvidos terá os recursos necessários
para assegurar as ações”, relatou
a ministra do Meio Ambiente. Ainda segundo Marina,
sete helicópteros e um "reforço
logístico” do Exército, além
de 25 agentes da Policia Federal, serão usados
nas operações cotidianas do Ibama.
“Fazer no papel é fácil, o problema
é colocar em prática”, adverte Tarcísio
Feitosa, secretário-executivo da Comissão
Pastoral da Terra em Altamira (PA). Ele conta que,
por conta dos assassinatos, o Exército e
a Polícia Federal foram deslocados apenas
para Anapu, mas que outros lugares da região,
especialmente na Terra do Meio, também sofrem
com graves conflitos e violência. “O governo
brasileiro já sabia do problema desde o início
de 2003. Fazendeiros, trabalhadores e índios
disputam as terras. Existem áreas grandes
guardadas por pessoas armadas. Se a polícia
e os militares não chegarem logo, não
vai adiantar nada”.
Tarcísio também alerta para o fato
de que o Poder Judiciário paraense pode transformar-se
num obstáculo para a implantação
das UCs ao acatar ações em cascata
contra o processo. “O governo federal precisa negociar
isso com calma porque senão as coisas não
vão sair do papel. Além de tudo, os
grileiros ainda podem ganhar dinheiro com as indenizações”.
Áreas foram
estudadas pelo ISA
As UCs propostas
pelo governo, mesmo aquelas destinadas apenas à
conservação, contam com a aprovação
das populações locais. A proteção
das áreas consolida a tendência de
preservar os recursos ambientais e costuma frear
a ação dos grileiros e madeireiros.
Na verdade, as terras delimitadas agora já
haviam passado por um amplo e longo processo de
discussão com a sociedade e com os governos
estaduais (Mato Grosso e Pará), com pesquisas,
consultas e audiências públicas que
contaram com a participação de representantes
de movimentos sociais, organizações
não-governamentais, institutos de pesquisas
e órgãos públicos. Durante
a entrevista de ontem, o secretário Capobianco
fez questão de frisar que as novas UCs foram
definidas a partir do macrozoneamento econômico-ecológico
elaborado pelo governo do Pará.
É bom lembrar que, em 2002, a equipe do Programa
Xingu do ISA foi responsável, em parceria
com organizações da região,
por um estudo socioambiental encomendado pelo MMA
que identificou o mosaico de UCs da Terra do Meio.
O mapeamento realizado revelou que a região,
além de ser uma das áreas menos conhecidas
do País, é também uma das menos
povoadas e apresenta cerca de 98% de sua área
bem preservada. O trabalho apontou ainda que a grilagem
de terras e a exploração do mogno
têm avançado, provocando graves conflitos
sociais. A incorporação da Floresta
Nacional do Xingu à Estação
Ecológica da Terra do Meio foi uma das propostas
originadas pelo estudo coordenado pelo ISA.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Oswaldo Braga de Souza)