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MUITA EMOÇÃO
NA DESPEDIDA DE IRMÃ DOROTHY
Panorama
Ambiental
Anapu (PA) – Brasil
Fevereiro de 2005
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15-02-2005 - Uma
missa de corpo presente foi realizada nesta terça,
dia 15, no Centro de Treinamento dos Trabalhadores
Rurais de Anapu, onde a missionária americana
Dorothy Stang, 74 anos, será sepultada. Irmã
Dorothy, como era conhecida, foi assassinada por
pistoleiros no sábado (12/02) no Travessão
do Santana, em Anapu, na região da Transamazônica,
no Pará.
O caso será o primeiro crime de violação
dos direitos humanos a ser transferido para a Justiça
Federal. A decisão foi anunciada ontem pelo
Procurador Geral da República, Cláudio
Fontelles. Isso significa que a responsabilidade
pela investigação será transferida
para a Polícia Federal e a competência
para o julgamento será de juízes federais.
No entanto, o Procurador Federal da República,
Felício Pontes, denunciou hoje a falta de
estrutura da Polícia Federal para realizar
o trabalho de investigação com eficiência.
“Os agentes da Polícia Federal estão
hospedados em um barracão emprestado do sindicato,
usando computadores que também são
emprestados. Eles precisam de um helicóptero
aqui, já que não conseguem chegar
de carro ao local do crime”, disse Pontes. “A melhor
estrutura disponível neste momento para o
trabalho de investigação é
da polícia estadual”.
Antes do cortejo em direção ao Centro
de Treinamento, pessoas ligadas à Irmã
Dorothy prestaram suas últimas homenagens
na igreja da cidade. Um dos depoimentos mais emocionados
foi de Maria Federicci, viúva do líder
sindical Ademir Federicci, o Dema. Ela declarou
que a luta continua e conclamou todos os presentes
a continuar o trabalho de irmã Dorothy.
Irmã Dorothy acreditava num futuro pacífico
e sustentável. Defendia como poucos o patrimônio
nacional dos ataques de grileiros e era incansável
defensora de uma forte presença do Estado
na Amazônia. Há mais de 30 anos vivia
na região da Transamazônica e dedicou
quase metade de sua vida para dar voz às
comunidades rurais, defendendo o direito à
terra e lutando por um modelo de desenvolvimento
sem destruição da floresta.
Trabalhava intensamente na tentativa de minimizar
os conflitos fundiários, principalmente a
grilagem de terras e a extração ilegal
de madeira. Por causa disso, chegou a ser acusada,
em 2001, de instigar a violência no município
e recebeu inúmeras ameaças de morte
nos últimos anos por causa de sua luta pela
preservação da Amazônia. Também
fez diversas denúncias sobre a participação
de policiais civis e militares na expulsão
de trabalhadores a mando de fazendeiros e grileiros
da região.
Durante a missa, o Procurador Felício Pontes
declarou: “Os madeireiros e grileiros que operam
ilegalmente em Amazônia vão ter que
matar cada um de nós. Nós não
vamos desistir; vamos continuar lutando. Vamos expulsar
cada madeireiro e grileiro de terra que continuar
desafiando o Estado de Direito na Amazônia”.
"É indiscutível que o crime contra
irmã Dorothy deve ser investigado e punido
exemplarmente. Porém, é fundamental
resolver as causas da violência em regiões
remotas da Amazônia e freqüente no estado
do Pará. O governo precisa adotar medidas
efetivas para resolução de conflitos
fundiários decorrentes da invasão
e grilagem de terras e florestas públicas
e a conseqüente exploração predatória
dos recursos naturais", afirmou Paulo Adário,
coordenador da Campanha Amazônia do Greenpeace.
Entre as propostas já encaminhadas pelo Greenpeace
ao governo, destacam-se a realização
urgente do zoneamento econômico ecológico
na Amazônia com amplo processo de consulta
às comunidades, para garantir a posse da
terra e uso sustentável dos recursos naturais
às populações tradicionais
e assentados rurais da região e a criação
de unidades de conservação de proteção
integral e uso sustentável. Além disso,
faz-se necessária uma maior presença
do Estado, com o fortalecimento de instituições
como a Polícia Federal, o Ibama e o Incra.
Fonte: Greenpeace-Brasil (www.greenpeace.org.br)
Assessoria de imprensa