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SOCIEDADE
CIVIL COBRA PUNIÇÃO DOS RESOPNSÁVEIS
PELO ASSASSINATO DA IRMÃ DOTOTHY
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Fevereiro de 2005
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15/02/2005 Um abaixo-assinado
enviado hoje ao presidente Lula por organizações
da sociedade civil chama a atenção
do governo para o fato de que não basta punir
os responsáveis pela morte da freira missionária
Dorothy Mae Stang, assassinada no último
sábado, dia 12 de fevereiro, em Anapu (PA),
no sudoeste do Pará (confira abaixo a íntegra
do texto), com seis tiros disparados à queima-roupa
por pistoleiros. Para as entidades, o momento é
de promover uma virada de mesa na atuação
do Poder Público na região, dando
um basta na ação de grupos criminosos
que se beneficiam da expropriação
do patrimônio público.
O texto é assinado por organizações
do movimento social e ambiental de todo o Brasil.
Além do ISA estão o Fórum Brasileiro
de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente
e o Desenvolvimento (FBOMS), o Greenpeace, o WWF,
o Conselho Nacional de Seringueiros (CNS) e o Instituto
de Estudos Sócio-econômicos (INESC).
A carta analisa a situação do conflito
de terras no Pará e informa que “o assassinato
da irmã Dorothy Stang é o mais recente
entre os cerca de 125 que vitimaram lideranças
e apoiadores dos movimentos sociais rurais durante
o governo” Lula. O documento indica que o assassinato
da irmã Dorothy se tornou o fiel da balança
da atuação do governo na região
e cobra a imediata implantação dos
planos do governo federal, que ainda não
saíram do papel, com ênfase no ordenamento
territorial e na presença dos órgãos
públicos federais na região.
Mas as organizações não estão
preocupadas apenas com a Amazônia. "É
preciso não esquecer que este crime reflete
os compromissos que o Governo Federal vem assumido
com a expansão do agronegócio nos
cerrados (um bioma que já se encontra em
agonia) e que hoje tem os seus interesses penetrando
mortalmente na Amazonia Brasileira", diz Carlos
Dayrell, do Centro de Agricultura Alternativa do
Norte de Minas.
As entidades chamam atenção ainda
para a necessidade das autoridades esclarecerem
publicamente que o governo não vai tolerar
a lógica do fato consumado na ocupação
ilegal de terras públicas. O caso da demarcação
da Terra Indígena Raposa Serra do Sol também
é citado como emblemático. Ao reconhecer
como parte interessada no processo os fazendeiros
de arroz que ocuparam a terra depois de sua identificação,
o governo acirrou os conflitos na região.
O governo afirmou, hoje, dia 15, que o crime contra
a irmã Dorothy é uma “reação”
às medidas que já estão sendo
tomadas na região no sentido de coibir a
grilagem de terras e combater o desmatamento desordenado.
Nenhum pacote de medidas estaria sendo elaborado
uma vez que as ações necessárias
ao controle dos conflitos de terra no Pará
e ao combate da criminalidade no interior do estado
também já estariam sendo implementadas.
As informações foram concedidas depois
de uma reunião realizada, no Palácio
do Planalto, em Brasília com a presença
do presidente em exercício e ministro da
Defesa, José Alencar, e de vários
ministros, entre eles o ministro-chefe da Casa Civil,
José Dirceu, a ministra do Meio Ambiente,
Marina Silva, o ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos, e o secretário de Direitos
Humanos, Nilmário Miranda. "O governo
não vai anunciar pacote, não vai organizar
força-tarefa porque a questão é
permanente, não é conjuntural. O que
nós precisamos é ir consolidando a
política de zoneamento do estado", afirmou.
Zé Dirceu.
Crime anunciado
A irmã Dorothy
foi assassinada com seis tiros: o primeiro, na nuca,
causou morte instantânea. Mais três
tiros foram disparados nas costas e dois pela frente.
O crime ocorreu quando a freira se dirigia a um
encontro em que iria organizar um mutirão
para construir um salão comunitário,
a 45 km de Anapu, onde residia há 27 anos.
A irmã era estadunidense, mas naturalizada
brasileira.
A Justiça de Pacajá, 521 km de Belém,
decretou ontem a prisão de um quarto suspeito
do assassinato: Vitalmiro Bastos de Moura, proprietário
de terras da região. No domingo, já
havia sido expedida ordem de prisão para
outros três envolvidos: dois pistoleiros,
conhecidos como "Eduardo" e "Fogoió",
e um terceiro homem, chamado de Tato, que teria
atuado como intermediário.
Ofícios do Ministério Público
Federal (MPF) e da Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) da Terra, da Câmara
dos Deputados, depoimentos e cartas escritas pela
própria irmã Dorothy mostram que o
Ministério da Justiça e o governo
do Pará foram informados com pelo menos um
ano de antecedência da possibilidade do crime.
Segundo familiares da freira, ela ia constantemente
a Brasília denunciar crimes cometidos contra
trabalhadores rurais no sudoeste do Pará.
Carta das
Organizações da Sociedade Civil sobre
o assassinato da irmã Dorothy Stang
Ao Excelentíssimo
Senhor Luiz Inácio Lula da Silva Presidente
do Brasil
Brasília,
14 de fevereiro de 2005
Senhor Presidente,
O assassinato da
irmã Dorothy Stang é o mais recente
entre os cerca de 125 que vitimaram lideranças
e apoiadores dos movimentos sociais rurais durante
o governo de Vossa Excelência, sendo que aproximadamente
40% desse total ocorreram somente no Estado do Pará.
São números recordes, que indicam
o agravamento da violência e da impunidade,
associadas à grilagem de terras e ao desmatamento
ilegal, e que revelam a ausência do Estado
de Direito em várias regiões do Brasil
e, em especial, no Pará.
O governo federal precisa assumir a responsabilidade
direta pela apuração e punição
dos culpados. Precisa, ainda, assumir o poder e
estabelecer a lei numa região que está
sob o domínio do crime organizado.
Todavia, não basta a apuração
deste crime escabroso. Os Programas do governo de
Vossa Excelência para a Amazônia precisam
sair do papel: Plano de Prevenção
e Combate ao Desmatamento, Plano BR 163 Sustentável,
Plano Amazônia Sustentável; bem como
a implantação do Projeto de Desenvolvimento
Sustentável Esperança, das Reservas
Extrativistas Verde Para Sempre e Riozinho do Anfrísio,
a criação das Reservas Extrativistas
Xingu e Iriri e das demais unidades de conservação
na Amazônia, em especial na região
da Terra do Meio, entre outras medidas.
Ademais, a manutenção e a exemplar
aplicação da Portaria MDA/INCRA 10/04,
sem flexibilizações setoriais que
a fragilizem, deve ser prioridade do governo.
Reivindicamos também que todos os integrantes
de seu governo esclareçam publica e explicitamente
que não serão tolerados fatos consumados
na ocupação do território e
no estabelecimento de atividades ilegais, expectativas
que constituem o principal estímulo à
violência e à expulsão de moradores
na região.
Se o governo de Vossa Excelência não
for capaz de estabelecer sua autoridade na região
agora, sem mais tardar, antecipando-se a novos assassinatos,
correrá o risco de passar para a história
como o campeão da violência rural,
da grilagem de terras públicas e do desmatamento
ilegal.
Certos de vossa atenção
e empenho, subscrevemo-nos,
Conselho Nacional
de Seringueiros - CNS Grupo de Trabalho Amazônico
- GTA Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos
Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
- FBOMS Fórum Matogrossense de Meio Ambiente
e Desenvolvimento - FORMAD Rede de ONGs da Mata
Atlântica - RMA Rede Pantanal Fórum
Carajás Federação dos Trabalhadores
na Agricultura - FETAGRI - PA
Amigos da Terra -
Amazônia Brasileira Argonautas Ambientalistas
da Amazônia Associação Caeté:
Cultura e Natureza Associação de defesa
do meio ambiente de Araucária - AMAR Associação
de Preservação do Meio-Ambiente do
Alto Vale do Itajaí - APREMAVI Associação
de Proteção ao Meio Ambiente de Cianorte
- APROMAC Associação Gaúcha
de Proteção ao Ambiente Natural -
AGAPAN Centro de Agricultura Alternativa do Norte
de Minas - CAA NM Centro dos Trabalhadores da Amazônia
- CTA Comissão Pastoral da Terra - Xingu
(Prelazia do Xingu) Cooperação Associativo-Ambiental
Panamazônica - OSC CAMPA Ecologia e Ação
- ECOA FASE Bahia Fórum DLIS de Muaná
Fundação CEBRAC Fundação
Vitória Amazônica - FVA Greenpeace
GTA Marajó Instituto Ambiental Vidágua
Instituto Centro Vida - ICV Instituto de Certificação
e Manejo Florestal e Agrícola - IMAFLORA
Instituto de Estudos Sócio-econômicos
- INESC Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia
- IPAM Instituto do Homem e do Meio Ambiente da
Amazônia - IMAZON Instituto Sociedade, População
e Natureza - ISPN Instituto Socioambiental - ISA
Kanindé - Associação de Defesa
Etnoambiental OS VERDES - Movimento de Ecologia
Social Rio Terra - Rondônia WWF - Brasil
C/C: Ministra do
Meio Ambiente Marina Silva Ministro da Justiça
Márcio Tomaz Bastos Ministro da Reforma Agrária
Miguel Rossetto Secretário Nacional de Direitos
Humanos Nilmário Miranda Procurador Geral
da República Cláudio Fontelles
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa