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AUSÊNCIA DO ESTADO
FAZ GRILAGEM DE TERRAS PROSPERAR NO PARÁ,
DIZ SUPERINTENDENTE DA PF
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Fevereiro de 2005
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25/02/2005 - O superintendente
da Polícia Federal no Pará, delegado
José Ferreira Salles, afirma que a ausência
da estrutura do Estado em algumas regiões
dificulta a fiscalização no que se
refere à ocupação ilegal de
terras. "Onde o Estado não se faz presente,
como aqui, nesse caso, a criminalidade prospera",
diz Salles, ao chamar a atenção para
a "incógnita" em que se transformou
o conteúdo dos livros de cartórios
de registro de imóveis na região.
"Os grileiros são pessoas quase sempre
oriundas de outros estados, que vêm para a
região atraídas pela qualidade dessas
terras, pela imensidão dos seus recursos
florestais e hídricos, e então se
instalam aqui. Eles ficam usufruindo desses cartórios
da região, que já mereceram correções,
mas ainda há uma incógnita muito grande
sobre o que contém seus livros".
O superintendente cita a intervenção
no Cartório de Registro de Imóveis
de Altamira como uma medida eficaz de combate à
grilagem de terras no Pará. A intervenção
foi decretada há três anos, a pedido
do Ministério Público Federal do estado,
sob acusação de o cartório
reconhecer documentos irregulares para emitir títulos
de propriedade. No entanto, Salles alerta que a
iniciativa por si só não é
suficiente, uma vez que não implica a anulação
de títulos concedidos de maneira irregular.
"Eu acredito que, estando sob intervenção,
há pelo menos um alerta. Mas também
não se corrigiu, não se repôs
a verdade, anulando alguns títulos e sobretudo
responsabilizando os culpados".
Na avaliação do delegado, para conter
o avanço dos grileiros no Pará, o
Estado precisa estar presente de forma permanente.
"Essa grilagem, esses crimes ambientais, prosperam
à sombra da omissão do Estado. Tinha
um bispo amigo nosso que falava em pecados de estimação,
aqueles com os quais a gente convive. Esses são
crimes de estimação do Estado, que
vêm acontecendo há muito tempo e parece
que o Estado já se acostumou com eles. É
um perigo a gente achar tudo muito natural".
Para José Ferreira Salles, faltam também
medidas para promover a regularização
fundiária. "A polícia não
faz reforma agrária, não constrói
estradas, não faz assentamentos. Quando a
polícia é chamada a atuar num cenário
como esse, é porque outros órgãos
fracassaram".
Fonte: Agência Brasil - Radiobras
(www.radiobras.gov.br)
Juliana Andrade