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JUSTIÇA EMBARGA
OBRA DE USINA NO RIO CULUENE (MT)
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Fevereiro de 2005
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23/02/2005 A obra
da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Paranatinga
II no rio Culuene em Mato Grosso, principal formador
do rio Xingu, está embargada pela Justiça
Federal. Em liminar concedida no último dia
18 de fevereiro, o Juiz Julier Sebastião
da Silva determinou a interrupção
da obra e proibiu que a Fundação Estadual
do Meio Ambiente (Fema-MT) conduza o processo de
licenciamento ambiental da usina.
De acordo com a liminar, o licenciamento da PCH
deve ser realizado pelo Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) por tratar-se de obra que impacta diretamente
sobre o ecossistema da região e Terras Indígenas
vizinhas. A decisão também ordena
o cancelamento dos financiamentos concedidos pelo
Banco do Brasil e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento
Social (Bndes) à empresa Paranatinga Energia
S/A, responsável pelo empreendimento. Acesse
aqui a decisão na íntegra.
A liminar atende a uma reivindicação
do Ministério Público Federal (MPF)
que, em Ação Civil Pública
ajuizada em 27 de dezembro de 2004, questiona a
competência da Fema-MT na condução
do licenciamento ambiental. Para o MPF, os documentos
apresentados pelo órgão estadual liberando
a construção da barragem não
atendem as mínimas condições
previstas em lei.
O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) produzido pela
Fema-MT, de acordo com o MPF, não apresenta
informações detalhadas sobre as conseqüências
da construção e funcionamento da usina
para a Terra Indígena (TI) Parabubure, do
povo Xavante, e para o Parque Indígena do
Xingu, onde vivem 14 etnias distintas. Segundo a
ação que embasa a liminar da semana
passada, o EIA limita-se a defender o projeto e
não prevê os impactos da obra sobre
a bacia do rio Xingu, bem como sobre a fauna, flora
e demais bens naturais da região. Procurada
pela reportagem do ISA, a Fema-MT preferiu não
se manifestar sobre a decisão judicial.
A PCH Paranatinga II está sendo erguida no
leito do rio Culuene entre os municípios
mato-grossenses de Campinópolis e Paranatinga.
O projeto prevê o alagamento de uma área
de 1.290 hectares, dos quais 920 de vegetação
nativa. O lago será formado pela edificação
de duas barragens e o projeto está orçado
em R$ 4,6 milhões. O trecho do Culuene no
qual a obra está sendo feita é considerado
sagrado pelos povos indígenas do Alto Xingu.
O local foi palco, de acordo com lideranças
indígenas, da realização do
primeiro ritual funerário do Quarup.
Esse motivo levou o governador do estado, Blairo
Maggi, a suspender a obra até a realização
de laudo antropológico para avaliar o patrimônio
indígena que estaria sendo colocado em risco
pelo empreendimento. A decisão do governador
ocorreu após reunião ocorrida na cidade
de Canarana, em 13 de novembro, quando mais de 200
representantes dos povos do Alto Xingu manifestaram
sua preocupação quanto aos impactos
que a barragem produziria para a saúde dos
rios e para a reprodução dos peixes
que constituem base da alimentação
de todas as comunidades xinguanas.
O laudo, produzido pelo antropólogo Carlos
Fausto, do Museu Nacional, do Rio de Janeiro, confirmou
que o local onde está sendo erguida a usina
é o mesmo apontado pelos índios como
sagrado para sua cultura e história. O estudo,
porém, não foi levado em conta pelas
autoridades estaduais e a obra foi retomada.
Acordo sob pressão
A liminar concedida
na semana passada cita, como prova do conflito de
interesses entre os povos do Xingu e a Paranatinga
Energia S/A, o acordo firmado em dezembro passado
entre a empresa, o governo do estado do Mato Grosso
e lideranças indígenas do PIX. Neste
acordo, o governo teria conseguido a anuência
dos povos xinguanos para o prosseguimento da obra.
Na semana passada, porém, em reunião
dentro do Parque Indígena do Xingu com a
presença de lideranças das 14 etnias
do PIX, os caciques que firmaram o acordo em favor
da barragem disseram que o fizeram sob pressão
de representantes da empresa. Afirmaram também
que estão arrependidos de tê-lo feito.
Diante do esclarecimento em relação
às circunstâncias nas quais o acordo
foi assinado, as lideranças xinguanas decidiram
se organizar para invalidá-lo e encaminhar
nos próximos dias uma carta à Fundação
Nacional do Índio (Funai) afirmando que a
barragem não interessa aos povos indígenas
do Xingu. “O acordo gerou muita insatisfação
entre os índios porque foi assinado sem a
consciência de todas as lideranças”,
afirma Ianukulá Kaiabí Suiá,
diretor de projetos da Associação
Terra Indígena Xingu (Atix). Ianukulá
diz que a decisão que proíbe a continuidade
da obra é uma boa notícia para todos
no PIX e um incentivo a mais para que os povos xinguanos
se mobilizem contra o empreendimento.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Bruno Weis