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VENDEDOR DE TERRAS ILEGAIS
DIZ DESCONHECER PROIBIÇÃO
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Março de 2005
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02/03/2005 O sócio-proprietário
da Kramer Escritório Imobiliário Valdemir
Kramer e o presidente do Instituto de Terras do
Estado do Acre, Henrique Corinto, depuseram nesta
quarta-feira (2) na Comissão Parlamentar
de Inquérito (CPI) da Biopirataria para esclarecer
um anúncio publicado no ano passado em jornais
e revistas do Acre e do Amazonas sobre a venda de
uma propriedade de 975 mil hectares no Vale do Rio
Chandless. Kramer, corretor de Manaus responsável
pela venda, disse que soube há pouco tempo
que a área não poderia ser vendida,
mas admitiu não ter conferido os documentos
sobre a propriedade.
A venda seria ilegal pelo fato de o terreno concentrar
minérios, fósseis e a maior reserva
de mogno da Amazônia. A terra anunciada, equivalente
a seis vezes o tamanho da cidade de São Paulo,
ou 300 vezes a da Floresta da Tijuca, no Rio de
Janeiro, inclui duas reservas indígenas e
o Parque Estadual do Chandless, área de preservação
ambiental permanente em posse da União. No
anúncio, o vendedor informava até
os supostos atrativos da região: ouro e até
fósseis de animais desconhecidos.
O presidente do Instituto de Terras do Estado do
Acre, Henrique Corinto, explicou que a falta de
definição específica das certidões
produzidas em toda a região Amazônica
dá margem à exploração
ilegal baseada na indefinição dos
limites legais das propriedades públicas
e privadas. As ocupações irregulares,
a exploração da madeira e a negociação
ilegal das terras públicas estão sendo
combatidas com a ampliação da fiscalização
e o pedido de abertura de Inquéritos Policiais
Federais sobre os casos denunciados.
Ele ressaltou que o local anunciado abriga 800 espécies
de aves, 200 de mamíferos, 120 de anfíbios,
80 de répteis e mais de 120 espécies
de borboletas e mariposas, muitas delas ainda não
catalogadas.
Descuido
O presidente da CPI,
Antonio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP), questionou
o fato de, em um negócio envolvendo uma “propriedade
incomum”, Kramer não ter tomado todas as
precauções para garantir a venda.
“Esse raciocínio não tem lógica:
o senhor gastou em , mas não confirmou a
veracidade da certidão da terra que seria
negociada por R$ 35 milhões?”, indagou o
parlamentar.
Kramer afirmou que não conferiu a documentação
da área de 9,75 mil hectares que sua imobiliária
colocou à venda. Apesar de concordar que
é natural que todo corretor imobiliário
tenha o cuidado de avaliar os documentos sobre as
propriedades em negociação, disse
que não tomou as precauções
em relação à área oferecida
no anúncio porque não tinha recursos
financeiros, na época, para ir até
o Acre.
Ele explicou à CPI ter sido autorizado a
vender a terra pela procuradora de dois supostos
donos da área, Manuel Meireles de Queiroz
e Raimundo Meireles de Queiroz. A procuradora, Maria
Cleide de Meireles, apresentou-se como professora
universitária. "Eu não tenho
certeza se houve má fé deles, mas
me pareceram estar de boa-fé quando me trouxeram
a documentação, tanto que acreditei
no dossiê de documentos que me passaram",
disse o corretor. Esses envolvidos também
serão ouvidos pela CPI.
Com o valor de R$ 35 por hectare, o negócio
foi estimado em R$ 35 milhões, dos quais
Kramer levaria 10%. O corretor confirmou que o interesse
dos compradores, especialmente estrangeiros, é
despertado pela presença de minérios
e madeiras nobres no terreno — fato anunciado por
ele, pois “a propaganda é a alma do negócio”.
Próxima
reunião
A CPI da Biopirataria
volta a se reunir na próxima quarta-feira
(9), às 14h30. A CPI vai continuar ouvindo,
nas próximas semanas, testemunhas sobre as
denúncias de vendas de terras públicas,
comércio ilegal de madeiras e tráfico
de animais.
Fonte: Câmara de Deputados
(www.camara.gov.br)
Assessoria de imprensa (Cristiane Bernardes, Antônio
Vital e patrícia Roedel)