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COMISSÃO DO SENADO
VOTA ATÉ DIA 18 RELATÓRIO
SOBRE ASSASSINATO DE MISSIONÁRIA
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Março de 2005
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11/03/2005 - Criada
cinco dias após o assassinato da missionária
Dorothy Stang, a comissão externa do Senado
que acompanha as investigações sobre
o caso votará o relatório final até
a próxima sexta-feira (18). Em entrevista
à Agência Brasil, a presidente da comissão,
senadora Ana Júlia Carepa (PT-PA), antecipou
que o relatório do senador Demóstenes
Torres (PFL-GO) não se restringirá
às circunstâncias da morte da freira,
no dia 12 de fevereiro, em Anapu, no Pará.
O relatório também deverá traçar
um cenário sobre a grilagem de terras e a
atuação ilegal de madeireiros e analisar
os fatores que possibilitam a continuidade dessas
atividades na região. Norte-americana naturalizada
brasileira, a freira Dorothy Stang defendia os trabalhadores
rurais da região e lutava pela preservação
do meio ambiente.
Segundo Ana Júlia, o relatório deverá
conter ainda sugestões de medidas legislativas,
como a aprovação de regulamentação
da produção ambiental sustentável
na região. "É necessário
não apenas dizer o que não pode ser
feito, mas também como fazer e como incentivar
isso, mostrando à sociedade que as reservas
também são uma fonte de recursos,
que podem proporcionar uma fonte de renda melhor
para aquela população", disse
Ana Júlia, ao destacar que parte dessas medidas
já está prevista no projeto de regulamentação
de florestas, em tramitação no Congresso.
A agenda da comissão prevê para a próxima
terça-feira (15) depoimento reservado de
uma testemunha do caso que está sob proteção
policial. Ana Júlia informou que os resultados
do trabalhos da comissão serão encaminhados
à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
da Reforma Agrária e Urbana (CPMI da Terra)
e ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Ela adiantou que uma das principais conclusões
dos parlamentares é que o assassinato da
freira é uma reação de fazendeiros
à implantação dos Projetos
de Desenvolvimentos Sustentável (PDS), uma
das causas pelas quais a missionária lutava.
"É uma visão clara, que mostra
para gente o seguinte: a vontade política
do governo de implementar os PDS fez com que eles
(fazendeiros) reagissem mais fortemente".
Para a senadora, a morosidade da Justiça
também faz a grilagem de terras prosperar
no Pará. Ela lembra que, em 1999, uma comissão
parlamentar de inquérito da Assembléia
Legislativa do estado verificou irregularidades
na concessão de títulos de propriedade
de terra por cartórios da região.
"É importante que a justiça seja
mais célere. Isso ficou claro, porque muitos
daqueles títulos de terra de que essas pessoas
se dizem donas são títulos esquentados,
na verdade, a partir do cartório de Altamira,
que está sob intervenção",
observou.
"Se, desde a CPI da Assembléia Legislativa
sobre o assunto, o Tribunal de Justiça do
Pará já tivesse julgado nulos todos
os títulos, com certeza eles não estariam
mais servindo como provimento dessas ações",
acrescentou Ana Júlia. Há três
anos, o Cartório de Registro de Imóveis
de Altamira está sob intervenção.
A medida foi decretada a pedido do Ministério
Público Federal do estado, sob acusação
de o cartório reconhecer documentos irregulares
para emitir títulos de propriedade.
Ana Júlia também cobrou medidas mais
duras contra a impunidade no Pará. De acordo
com a parlamentar, nos últimos 30 anos, cerca
de 700 pessoas foram assassinadas no estado, mas
apenas três mandantes foram a julgamento.
Só um foi condenado e cumpre prisão
domiciliar. "O maior incentivo à violência,
infelizmente, é a impunidade, e isso tem
tido um histórico muito negativo no estado
do Pará", ressaltou a senadora.
No final de fevereiro, a comissão externa
do Senado ouviu, em Altamira, os três acusados
de envolvimento na morte freira que estão
presos: Rayfran das Neves Sales, Clodoaldo Carlos
Batista e Amair Feijoli da Cunha. Rayfran e Clodoaldo
disseram aos parlamentares que o prefeito de Anapu,
Luiz dos Reis Carvalho, ajudaria a pagar um advogado
para defendê-los, caso fossem presos. Segundo
os acusados, a informação teria partido
do fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida,
acusado de mandante do crime, que está foragido.
À época, o prefeito de Anapu negou
participação no caso. "Acho que
foram muito infelizes no que disseram. Fiquei muito
indignado ao saber. Não conheço os
assassinos, conheço o Bida. Se ele estiver
na cidade, eu sei quem é ele", disse
Carvalho, após participar de audiência
pública em Anapu.
Para a senadora, outro depoimento importante foi
o do presidente da Associação de Produtores
Rurais da Terra do Meio, Laudi José Witeck,
que explicou como os grileiros atuam na região.
"Esse depoimento mostrou claramente como eles
agem. Eles chegam, demarcam uma terra, começam
a trabalhar, alguns loteiam aquela terra e vendem,
especulam, e se sentem donos", relatou a presidente
da comissão.
Fonte: Agência Brasil - Radiobras
(www.radiobras.gov.br)
Juliana Andrade