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CPI AVALIA ‘MORATÓRIA
DO DESMATAMENTO’ NA AMAZÔNIA
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Março de 2005
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09/03/2005 Sarney Filho diz
que muitas empresas enviam madeira para o exterior
sem pagar impostos.
O relator da Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) da Biopirataria, deputado Sarney Filho (PV-MA),
defendeu, nesta quarta-feira (9), a "moratória
do desmatamento" na Amazônia até
que um modelo de desenvolvimento sustentável
seja definido pelo Governo brasileiro.
Elton Bomfim
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"Se
depender da vontade do relator, a moratória
será recomendada. É lógico,
porém, que vamos ouvir os integrantes
da Comissão. Ou se dá um basta
nesse processo de desmatamento que é
quase todo ilegal, ou amanhã não
vai haver mais o que se discutir", disse
Sarney Filho.
O parlamentar assinalou que muitos governos
estaduais estão sendo enganados, porque
defendem a indústria madeireira por
razões econômicas. O problema,
explicou o relator, é que muitas empresas
enviam ilegalmente madeira para o exterior
sem pagar impostos e, portanto, sem gerar
nenhum benefício para as populações
locais.
A devastação da Amazônia
causada pela extração e a remessa
ilegal de madeiras nobres para o Exterior
foi o principal tema de audiência pública
da CPI realizada na tarde desta quarta-feira.
Os convidados debateram também outras
questões relacionadas à devastação
da floresta, como a grilagem de terras públicas
e as regras de exploração da
biodiversidade que devem ser adotadas pelo
Brasil para garantir o desenvolvimento sustentável
da região. |
Exclusão
ameaçadora
O secretário-executivo
do Grupo de Trabalho da Amazônia (GTA), uma
rede de aproximadamente 600 entidades e organizações
sociais da região amazônica, Fábio
de Andrade Abdala, defendeu a aprovação
de uma legislação adequada às
necessidades das comunidades locais em relação
à propriedade intelectual e ao acesso à
biodiversidade. Ele citou como exemplo da luta das
entidades amazônicas o caso do cupuaçu,
que foi registrado como marca por uma empresa japonesa,
mas teve o registro cancelado em razão da
atuação de organizações
não-governamentais (ONGs) brasileiras.
Segundo Abdala, a mercantilização
do acesso aos recursos e conhecimentos tradicionais,
a possibilidade de extinção do Conselho
de Gestão do Patrimônio Genético,
a exclusão social e a concentração
dos benefícios da exploração
da biodiversidade ameaçam os direitos das
comunidades da Amazônia. Para ele, "a
maior ameaça à Amazônia é
a exclusão social e econômica das populações
da região, a falta de políticas públicas
que incentivem o desenvolvimento com a preservação
dos recursos". O incentivo a formas de desenvolvimento
sustentável precisa somar-se às políticas
de combate à biopirataria e de aumento da
fiscalização, segundo ele.
Abdala afirmou ainda que outras espécies
da fauna e da flora brasileira sofrem tentativa
de registro de marca no exterior, como guaraná,
copaíba, cupuaçu e acerola, entre
outros exemplos.
Legislação
para punir
O representante da
Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério
do Meio Ambiente, Eduardo Vélez Martim, destacou
que o Congresso precisa discutir uma legislação
que incentive a preservação dos conhecimentos
tradicionais, estabeleça o esquema de repartição
de benefícios para garantir uso sustentável
da biodiversidade e inclua sanções
criminais para quem não respeitar a lei.
Martim também afirmou que a Medida Provisória
2186-16, de 2001, responsável pela regulação
da utilização do patrimônio
genético no País, precisa ser aperfeiçoada.
Na avaliação dele, os parlamentares
precisam discutir também um sistema eficiente
de gestão dos recursos da biodiversidade.
O palestrante ainda explicou o funcionamento do
Conselho de Gestão do Patrimônio Genético,
órgão subordinado ao Ministério
do Meio Ambiente que regula a bioprospecção
para fins comerciais, o desenvolvimento tecnológico
e as pesquisas científicas na área
da biodiversidade.
Grilagem e destruição
O coordenador do
Greenpeace, Paulo Adário, informou que 20%
da Amazônia, o equivalente a 100 milhões
de hectares, estão em mãos de grileiros.
A grilagem de terras e a extração
ilegal de madeira são os principais fatores
para a destruição da floresta e uma
das razões para o grande número de
conflitos da região, segundo ele. Adário
disse ainda que a indústria de extração
ilegal desperdiça 70% da madeira retirada
da Amazônia, pois utiliza processo obsoletos
e predatórios.
Como solução para o fim do comércio
ilegal de madeira - que responde aproximadamente
por 70% do volume enviado para o Exterior a cada
ano -, o coordenador sugeriu o fortalecimento da
intervenção do Estado. Esse fortalecimento,
explicou, não seria só com o aperfeiçoamento
dos órgãos de fiscalização,
como o Ibama ou a Polícia Federal, mas também
com o estímulo para a legalização
do comércio na região.
Reunião reservada
Depois do encerramento da audiência pública,
deputados e palestrantes participaram de uma reunião
reservada para que os convidados pudessem passar
informações sigilosas e denúncias
à CPI. Segundo os palestrantes, as informações
não poderiam ser divulgadas para não
prejudicar as investigações da Comissão
e de outros órgãos como Polícia
Federal e Ministério Público. De acordo
com o Regimento Interno da Câmara, as reuniões
reservadas são feitas apenas com a presença
de deputados, convidados e funcionários da
comissão.
Fonte: Câmara de Deputados
(www.agencia.camara.gov.br)
Assessoria de imprensa (Cristiane Bernardes e Wilson
Silveira)
Foto: Elton Bomfim