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INDÍGENAS RECLAMAM
QUE NÃO ESTÃO SENDO OUVIDOS
SOBRE MORTES DE CRIANÇAS
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Março de 2005
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09/03/2005 - "Estamos
muito tristes com a morte de dezenas de nossas crianças
nestes últimos meses. Ao mesmo tempo em que
agradecemos todo apoio e ajuda que estão
procurando nos dar, nos sentimos indignados por
não estarmos sendo ouvidos e respeitados
em muitos aspectos do nosso jeito de ser e nossos
direitos". A declaração faz parte
do documento divulgado nesta semana pela Comissão
de Direitos Indígenas do Povo Kaiowá–Guarani.
Segundo as lideranças indígenas que
assinam a nota, as mortes e desnutrição
são causadas por vários fatores, mas
a falta de terra é apontada como raiz dos
problemas. "Aqui no Mato Grosso do Sul, nós
indígenas fomos sendo expulsos de nossas
terras, assassinados para a entrada de gado e, depois,
de grandes plantações monocultoras
como a soja. Foi um processo de violência
contra as pessoas e contra as nossas formas de vida.
As matas, onde podíamos caçar, foram
destruídas pelos madeireiros e os tratores
dos fazendeiros. Era lá que podíamos
coletar alimentos como as frutas, o mel e a matéria
prima para fazer nossas casas e utensílios",
afirma o texto.
A Comissão avalia também que o assunto
não pode ser tratado como se fosse um problema
que se resolve ao "dar comida aos índios",
nem a cultura indígena pode ser julgada como
responsável pelas mortes. Dessa forma, as
soluções vão além da
distribuição de cestas básicas,
sem levar em conta se o tipo de alimentos está
adaptado aos seus costumes. "Nós precisamos,
especialmente, de terras homologadas e respeitadas,
sem invasores. Mas acima de tudo exigimos respeito
e justiça. Não queremos ser mais uma
vez objeto de caridade ou de projetos paternalistas.
Temos o direto de ser diferentes e livres, de exercer
nossa autonomia , sendo ouvidos na estruturação
de políticas para nossos povos", conclui.
O Estado do Mato Grosso do Sul já registrou
neste ano oito mortes de crianças índias
por desnutrição. Seis casos ocorreram
em Dourados, um em Japorã e outro em Iguatemi.
Mais duas crianças morreram no dia 04 de
marçono estado, mas a Fundação
Nacional de Saúde (Funasa), órgão
do Ministério da Saúde responsável
pelo atendimento à saúde do índio,
não aponta a desnutrição como
causa dessas mortes.
Fonte: Agência Brasil - Radiobras
(www.radiobras.gov.br)
Cibele Maciel