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CERRADO ESTÁ AMEAÇADO
POR DECISÃO ILEGAL E IRRESPONSÁVEL
DA CTNBio
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Março de 2005
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17-03-2005 - Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança
(CTNBio) libera apressadamente algodão transgênico,
com gene de resistência a antibiótico,
sem estudos de efeitos sobre o meio ambiente e coloca
em risco biodiversidade do Cerrado
A CTNBio liberou hoje a variedade de algodão
geneticamente modificado Bollgard, da multinacional
Monsanto, sem aguardar a sanção presidencial
à Lei de Biossegurança, que regulamenta
o processo de liberação dos transgênicos.
O algodão é uma planta de polinização
cruzada, ou seja, o pólen pode fecundar outras
plantas distantes. A região do cerrado é
centro de origem do algodão e as variedades
selvagens podem ser contaminadas com o pólen
de plantas transgênicas, gerando a perda das
espécies nativas.
“Os atuais integrantes da CTNBio estão aproveitando
os seus últimos dias de poder para liberar
apressadamente todos os pedidos que beneficiam as
grandes corporações de biotecnologia”,
disse Ventura Barbeiro, engenheiro agrônomo
do Greenpeace. A aprovação antes da
sanção presidencial à Lei de
Biossegurança é um ato ilegal e irresponsável
(1). A motivação da CTNBio em apressar
a liberação é parte de uma
estratégia de garantir a liberação
desse cultivar assim que o presidente sancione a
Lei (2). “Isso é um escândalo, um ato
imoral, que a sociedade brasileira não pode
tolerar, principalmente a liberação
de uma planta com dois genes que podem conferir
resistência a antibióticos”, completou
Barbeiro.
A Comissão Técnica de Biossegurança
sofrerá grandes modificações
com a nova lei de biossegurança, passando
de 18 para 27 integrantes, o que ocasionará
um tempo maior para a composição da
nova equipe e conseqüentemente impedindo liberações
comerciais de alimentos transgênicos para
a próxima safra. Por isso, a pressa nessa
aprovação. A Lei de Biossegurança
aguarda uma decisão presidencial sobre o
veto de dois polêmicos artigos que atribuem
poder total à CTNBio sobre o tema transgênicos
e tornam facultativa a realização
de estudos de impacto ambiental e dos efeitos dos
transgênicos sobre a saúde humana e
animal.
A variedade liberada é uma planta inseticida.
O algodão Bollgard também é
chamado de Bt por receber o gene Cry1Ac da bactéria
Bacilus thuringiensis, que codifica proteínas
tóxicas, fazendo o papel de agrotóxico.
A planta também recebe dois genes da bactéria
Escherichia coli que confere resistência aos
antibióticos espectinomicina e estreptomicina.
Esses genes, o nptII e o aad podem ser incorporados
por bactérias, transferindo a esses microorganismos
resistência a antibióticos. Um gene
do vírus do mosaico da couve-flor também
é inserido nesse pacote.
Essa variedade de algodão inseticida produz
proteínas tóxicas e pode comprometer
toda a cadeia ecológica do Cerrado. A flor
do algodoeiro atrai muitas abelhas e vespas selvagens
devido à grande quantidade de néctar
e estes insetos podem desaparecer pelo efeito da
proteína tóxica. “No cerrado, 35%
das plantas silvestres dependem de abelhas e vespas
para a polinização. O desaparecimento
desses agentes polinizadores pode causar a extinção
de muitas plantas”, disse Barbeiro, “o algodão
transgênico inseticida é uma ameaça
muito séria à nossa biodiversidade”,
completou.
Notas
(1) A liberação
traduz-se em ato ilegal e arbitrário, que
viola decisão judicial em vigor. A decisão
judicial vigente é aquela proferida nos autos
da Ação Civil Pública (processo
no. 1998.34.00.0210002-0), que proibe a liberação
de qualquer variedade de semente transgênica.
Permanecem preservadas as competências do
Ministérios incumbidos da aplicação
da legislação vigente de exigir e
conduzir prévio Estudo de Impacto Ambiental
- EIA/RIMA e licenciamento ambiental.
(2) A nova Lei de
Biossegurança, pretende em seus artigos 30,
32 e 34 "convalidar" os atos ilegais e
inconstitucionais praticados pela CTNBio tornando
permanente os registros provisórios concedido
pela mesma. Com a sanção presidencial
da Lei, as decisões tomadas antes do dia
da sanção tornam-se definitivas.
Fonte: Greenpeace-Brasil (www.greenpeace.org.br)
Assessoria de imprensa