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FISCALIZAÇÃO
DO IBAMA SERÁ PERMANENTE NA AMAZÔNIA,
DIZ MONTIEL
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Março de 2005
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15/03/2005 O diretor de Proteção
Ambiental do Ibama (Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis),
Flavio Montiel, garante, em entrevista ao
ISA, que não faltarão recursos
e pessoal para a fiscalização
do órgão na Amazônia.
Ele também detalha as ações
e a estrutura disponíveis para atender
ao pacote ambiental anunciado pelo governo
em fevereiro. |
Divulgação
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No
último dia 17 de fevereiro, a ministra
do Meio Ambiente, Marina Silva, anunciou a
criação de 5,2 milhões
de hectares de áreas protegidas e a
“interdição” de outros 8,2 milhões
de hectares na Amazônia. O governo também
encaminhou ao Congresso um Projeto de Lei
para regulamentar o manejo em florestas públicas.
As medidas foram tomadas em resposta à
série de assassinatos de lideranças
e de trabalhadores rurais registrados no Pará,
em especial à morte da freira Dorothy
Stang, no dia 12 de fevereiro, em Anapu (saiba
mais).
O efetivo de pessoal, o volume de recursos,
a estrutura e o número de órgãos
públicos necessários, bem como
o tamanho da área abrangida e o ineditismo
de algumas iniciativas, fizeram com que alguns
setores da sociedade contestassem a possibilidade
de colocar em prática as ações
anunciadas. Será que o governo federal,
em curto prazo, conseguirá, por exemplo,
colocar ordem na caótica situação
fundiária da região? Os órgãos
públicos envolvidos dispõem
de recursos e pessoal suficiente para isso?
Para tentar responder essas e outras perguntas,
a reportagem do ISA procurou o diretor de
Proteção
Ambiental do Ibama, Flávio Montiel.
Na entrevista, ele garantiu que a presença
do Ibama no Pará e na Amazônia,
a partir de agora, será permanente.
Além de detalhar as ações
propostas, Montiel também falou sobre
algumas outras iniciativas que estão
sendo pensadas para coibir o desmatamento
ilegal. |
ISA - O que mudou
na atuação do governo com o assassinato
da irmã Dorothy, em Anapu?
Flávio Montiel – É preciso fazer uma
distinção entre as ações.
De um lado, as que foram anunciadas no sentido de
“garantir a lei e a ordem” no Pará - que
levaram dois mil militares para a cidade de Altamira,
além de efetivos da Polícia Federal
e da Polícia Rodoviária Federal -
que pretendem apurar tudo o que envolve os crimes.
De outro, o planejamento de ações
que já vinham sendo discutidas por vários
órgãos de governo, há um ano,
no âmbito do Plano de Controle e Combate ao
Desmatamento na Amazônia e que, com a crise,
foram antecipadas, em cerca de um mês. Não
houve mudança, mas sim maior agilidade para
que essas ações começassem
a acontecer o mais breve possível.
Então, não
existe nada de novo?
O que podemos dizer que é novo é que,
em 2003 e 2004 já vínhamos atuando
na região, realizando ações
de fiscalização, mas de forma esporádica.
Em 2003, em Anapu, por exemplo, o Ibama autuou o
Bida - acusado de ser o mandante do assassinato
da irmã Dorothy - em R$ 3 milhões
por desmatamento e queima ilegal O que há
de novo, em 2005, é presença permanente
do Ibama na região. Já havíamos
começado a reverter um pouco esse quadro
nas regiões de Itaituba, Alta Floresta, Altamira
e no sul do Amazonas, mas de forma ainda experimental.
Uma premissa do plano é que nós ocupemos
esses espaços vazios deixados pela ausência
do Estado de Direito, garantindo, portanto, a segurança
e a fiscalização integrada.
Qual a estrutura de que o Ibama dispõe hoje
para atender a Amazônia, mais especificamente
o Pará?
Temos 360 fiscais na Amazônia, sendo que 90
deles vieram de outras regiões do País.
Todos estão trabalhando em sistema de rodízio.
Temos um investimento da ordem de R$ 13 milhões
em equipamentos – veículos, computadores,
antenas, câmeras, aparelhos de GPS. Estão
sendo distribuídos para 19 bases operativas
previstas para a Amazônia. A montagem dessas
bases, que, em alguns casos, coincidem com a sede
das superintendências, será feita em
sistema de rodízio dos técnicos, fiscais
e analistas ambientais do Ibama. A mudança,
então, é esta.
Nossa previsão é que haverá
coincidência de ações em sete
bases operativas. Então, no mínimo,
teremos sete frentes de trabalho concomitantes ocorrendo
na Amazônia com ações de fiscalização.
Elas contarão com diferentes órgãos
do Estado numa ação integrada que
cubra os aspectos fundiário, tributário,
ambiental e trabalhista. Essas ações
vão acompanhar a dinâmica do desmatamento.
No sul da Amazonas, por exemplo, o desmatamento
só começa em maio. Então vamos
concentrar nossas ações em março
e abril no Mato Grosso e no Pará. Depois
elas irão se deslocando de acordo com a dinâmica
do desmatamento.
No Pará, pretendemos montar seis bases operativas
– Novo Progresso, Itaituba, Altamira, Tucuruí,
Marabá e Tucumã.
Qual a freqüência
com que as operações de fiscalização
vão acontecer?
As operações vão durar entre
20 e 30 dias em períodos intercalados de
45 dias. O mais importante é que, nesses
intervalos, o governo não sairá de
cena. Vamos manter a presença nessas bases
operativas. Isso faz com que as pessoas tenham mais
cuidado na hora de fazer qualquer desmatamento ilegal
com o Ibama na região.
Não existe
risco de outras regiões do País ficarem
descobertas com a realocação de pessoal?
Existem funcionários em número suficiente?
Esta é nossa preocupação. Estamos
fazendo um sistema de rodízio. Isso com certeza
permite que tenhamos mais flexibilidade, otimização
do uso do pessoal em função da sazonalidade
com que as ações de crimes ambientais
ocorrem. Paralelamente, agora em março, estaremos
lançando um concurso com a previsão
de preencher 915 vagas. Do concurso de 2002, que
também abriu 915 vagas, nós já
capacitamos 268 analistas ambientais. Então,
cerca de 300 analistas passarão a atuar,
este ano, na área de fiscalização
do Ibama.
Qual é exatamente
o orçamento disponível do Ibama para
atender a região amazônica?
Só no ano passado gastamos R$ 26 milhões
com custeio de operações, que resultaram,
de 2003 para 2004, num aumento de 41% no montante
de multas aplicadas – um salto de R$ 360 milhões
para R$ 568 milhões. Este ano, no orçamento
do Plano de Combate ao Desmatamento, temos previstos
R$ 55 milhões de reais – R$ 8 milhões
serão destinados para a compra de equipamentos
que vão complementar aquelas 19 bases – e
mais R$ 30 milhões para operações
de fiscalização para coibir o desmatamento.
Mas o corte do orçamento
federal, anunciado há umas duas semanas,
não afetará o MMA e o Ibama?
Em relação ao MMA, o contingenciamento
do orçamento federal não será
aplicado de forma linear. Cada plano e cada programa,
de acordo com a sua prioridade, será atendido
em sua totalidade. Há um cuidado e uma diferenciação
em relação ao MMA e ao Ibama para
que esse tipo de ação não sofra
cortes. A princípio, aqueles R$ 55 milhões
não vão sofrer cortes.
Além disso, nós fizemos um cronograma
para que as ações tenham eficácia
ao longo do ano. Nós vamos negociar com o
governo créditos suplementares ou extraordinários
para que não haja risco de falta de recursos.
Temos, por exemplo, um cronograma de desembolsos
garantidos para grandes operações
até outubro deste ano. Estamos mudando a
dinâmica dos desembolsos. Tradicionalmente,
eles vão crescendo ao longo do ano e, no
fim do período, você acaba não
tendo tempo para gastar. Este fluxo será
invertido. Teremos, agora, R$ 13 milhões,
em seguida três parcelas de R$ 7 milhões
e, depois, quatro parcelas de R$ 4 milhões
até dezembro.
Qual o risco de faltarem
recursos para as ações do órgão?
Como invertemos esse fluxo e agora estaremos recebendo
a quantia maior, há uma previsão de
que esses recursos se esgotem de setembro para outubro.
Mas aí teremos tempo suficiente para que
o MMA negocie a captação de novos
recursos antes que isso aconteça, justamente
pela mudança dessa lógica. Além
disso, a diretoria tem mais R$ 13 milhões
para financiar as ações de fiscalização
no restante do País.
No ano passado, o governo anunciou o sistema Deter
(Detecção de Desmatamento em Tempo
Real) como uma revolução no monitoramento
do desflorestamento na Amazônia. A expectativa
era de que o Ibama poderia sair em campo para fiscalizar
cada área em um tempo muito curto. Isso está
acontecendo? Como o Ibama vem utilizando o novo
serviço?
Em junho, julho e agosto do ano passado, realizamos
fiscalizações com base nas imagens
que recebemos do Deter em maio, junho e julho. Isso
aconteceu ainda em caráter experimental.
2005 é o ano de consolidação
do sistema, em que ele não vai mais operar
em caráter experimental. No ano passado,
foram repassados R$ 600 mil do Ibama para o Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para que
esse sistema pudesse operar em caráter experimental.
Em 2005, a previsão de recursos está
entre R$ 500 e R$ 600 mil para que o sistema funcione
ao longo de todo o ano.
Temos uma limitação em relação
ao Deter que é a cobertura de nuvens. Este
ano, em caráter excepcional, estamos tendo
um volume de chuvas muito grande. Isso tem dificultado
a captação de imagens. Em 2005, ainda
não temos nenhuma imagem disponível
para, eventualmente, identificar corte raso, por
exemplo. O que nós fizemos foi solicitar
ao Sipam (Sistema de Proteção da Amazônia)
que faça sobrevôos com coordenadas
geográficas bem definidas, por exemplo, no
noroeste do Mato Grosso, na Terra do Meio e nas
áreas de influência da BR-63 e da Transamazônica.
Essas imagens já foram diagnosticadas e temos
informações de campo que permitem
saber para aonde estão se movimentando os
consórcios de desmatamento ilegal. Dessa
forma é possível nos anteciparmos
a qualquer ação de desmatamento. Há
uma probabilidade muito grande de que as taxas de
desmatamento registradas em 2003 e 2004 caiam significativamente
neste ano.
O Ibama tem estrutura
para agir com a rapidez que o ritmo do desmatamento
exige?
Teremos condições de atuar em tempo,
a partir do recebimento destas imagens, quando aquelas
bases operativas estiverem funcionando. Aí
elas terão toda a infra-estrutura tecnológica
necessária para receber via satélite
essas informações e repassá-las
em tempo real, para que as equipes possam ir a campo.
Mas quando as bases
estarão funcionando?
Das 19 bases, consolidamos quatro, no ano passado,
e estaremos finalizando outras 15 até março
deste ano. Até junho, estarão operando
as 19 bases. Elas estão posicionadas em áreas
críticas do desmatamento, onde ele é
mais intenso.
Hoje, caso um infrator
seja pego desmatando a Reserva Legal, por exemplo,
a multa a ele aplicada é de R$ 300,00 por
hectare desmatado. O infrator fatura mais por hectare
com a venda de madeira e com o uso da área
enquanto a multa passa por um trâmite demorado.
Depois, às vezes, ela acaba sendo anulada.
O que o Ibama pretende fazer sobre isso?
Por ser a Amazônia um patrimônio nacional,
e isso é um agravante, os fiscais estão
orientados a aplicar a multa máxima por desmatamentos
ilegais na região. Desde agosto do ano passado,
o valor subiu para R$ 1,5 mil por hectare. Com relação
à tramitação, também
no ano passado, reduzimos em uma instância
– a da ministra Marina Silva – o trâmite das
multas. A multa era aplicada no âmbito local,
passava pela gerência, chegava até
o Ibama, depois ia até a ministra e ao Conselho
Nacional do Meio Ambiente (Conama). Como o MMA exerce
a presidência do Conselho, eliminamos a instância
dele. Isso já reduz um pouco a tramitação,
mas ainda não é o suficiente. Estamos
estudando uma forma de inverter a lógica
do pagamento da multa, que ela possa ser aplicada
e paga de forma imediata e, caso o infrator seja
absolvido, ele possa ser ressarcido. Isso acontece
em outros setores da fiscalização
no País. O estudo ainda não está
concluído, mas precisamos encontrar mecanismos
para reduzir esse trâmite.
Além disso, estamos indo a campo com a Polícia
Federal para que, com a multa aplicada pelo Ibama,
seja aberto um processo penal. Caso haja flagrante
de crime ambiental, as “armas do crime” – caminhões,
tratores, motoserras – podem ser confiscadas imediatamente.
Isso será um prejuízo, porque uma
coisa é você tirar uma motoserra ou
aplicar uma multa de R$ 100 mil, outra coisa é
você tirar de circulação um
equipamento que custa caro e que não é
tão fácil assim você renovar
para o desmatamento do ano que vem. Os donos podem
até recorrer, mas as chances de conseguirem
os equipamentos de volta são pequenas.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Oswaldo Braga de Souza)
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