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QUILOMBOLAS RECEBEM MARINA
SILVA E
PROTESTAM CONTRA USINA DE TIJUCO ALTO
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Março de 2005
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18/03/2005 A ministra
do Meio Ambiente, Marina Silva, esteve na última
sexta-feira (18/3) no Vale do Ribeira, em São
Paulo, para lançar projetos de desenvolvimento
sustentável e proteção da Mata
Atlântica. Na visita ao Quilombo de Ivaporunduva,
recebeu carta contra o licenciamento em curso da
barragem no rio Ribeira de Iguape.
Os barcos e canoas cruzavam o rio Ribeira de Iguape
em ritmo frenético. Idas e vindas para levar
centenas de quilombolas, das dezenas de comunidades
espalhadas pelo Vale do Ribeira, no sul do estado
de São Paulo, para um encontro inédito.
Todos se dirigiam para a igreja Nossa Senhora do
Rosário dos Homens Pretos - especialmente
decorada com flores e frutos para a ocasião
-, localizada no centro de Ivaporunduva, vilarejo
às margens do rio Ribeira, onde vivem mais
de 70 famílias quilombolas. Lá, pela
primeira vez na história, uma ministra de
Estado do Meio Ambiente visitava as comunidades
mais tradicionais do Vale do Ribeira, região
que abriga 21% de toda a Mata Atlântica remanescente
no Brasil.
O encontro da última sexta-feira, 18 de março,
foi histórico. Marcou a assinatura de dois
convênios do Ministério do Meio Ambiente
(MMA) com as associações quilombolas
de Ivaporunduva e de Mandira, no baixo Ribeira,
para projetos de apoio a iniciativas de geração
de renda e de proteção ambiental,
como a produção, comercialização
e processamento de banana orgânica, o repovoamento
do palmito juçara e de outras sementes nativas
nas matas da região, além da exploração
de recursos naturais de maneira sustentável.
Marina também anunciou um pacote ambiental
para a Mata Atlântica (leia box).
As comunidades quilombolas não desperdiçaram
a oportunidade e entregaram à ministra uma
carta, também assinada por várias
organizações da sociedade civil, na
qual se posicionam contra a construção
da usina hidrelétrica de Tijuco Alto. A carta
também solicita que o licenciamento ambiental
em curso para a construção da barragem
no rio Ribeira de Iguape seja revisto e obedeça
as novas regras do modelo hidrelétrico nacional.
Leia a íntegra da carta entregue à
ministra.
Por uma avaliação
ambiental correta
O protesto das comunidades
quilombolas do Vale do Ribeira foi motivado pela
retomada no ano passado do licenciamento ambiental
de Tijuco Alto pela Companhia Brasileira de Alumínio
(CBA). Em 2003, o Instituto Brasileiro de Recursos
Naturais Renováveis (Ibama) negara a licença
prévia para o empreendimento, em razão
do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) apresentado
pela empresa conter dados defasados em quase vinte
anos, quando do início do projeto da barragem.
A principal polêmica hoje está relacionada
à mudança no modelo hidrelétrico
brasileiro, ocorrida em 2004. Este novo modelo prevê
que a concessão de um rio para a iniciativa
privada, visando a construção de uma
usina hidrelétrica, deve ser precedida por
avaliação ambiental do conjunto de
barragens projetado para a bacia hidrográfica
em questão. No caso do Ribeira de Iguape,
o governo federal prevê quatro barragens.
Como esta avaliação nunca foi feita,
a concessão para a CBA licenciar Tijuco Alto
seria inválida. O Ribeira de Iguape é
o único curso d´água de grande
porte não barrado em toda a região
Sudeste do País e, caso as barragens sejam
erguidas, cerca de 11 mil hectares de terras agricultáveis
serão inundados, boa parte em territórios
quilombolas.
O impasse de Tijuco Alto tem sido objeto de reuniões
entre os ministérios de Meio Ambiente e Minas
e Energia. “O novo modelo determina o estudo completo
da bacia, mas a empresa obteve a outorga antes da
mudança da lei”, afirma João Paulo
Capobianco, secretário de Biodiversidade
e Florestas do MMA. “Estamos avaliando se a outorga
tem validade ou não”. Outro ingrediente do
imbróglio é uma sentença em
primeira instância da Justiça Federal
de São Paulo, que invalida a concessão
dada pelo governo federal à empresa. A CBA
recorreu da decisão.
Marina Silva ouviu a leitura da carta e reconheceu
a importância das comunidades quilombolas
para a preservação ambiental do Vale
do Ribeira. “Vocês, assim como os povos indígenas
de todo o País e as comunidades extrativistas
da Amazônia, contribuem para a conservação
dos recursos naturais e da biodiversidade de nossas
florestas”, comparou. Em um discurso emocionado,
a ministra disse que índios, babaçueiros,
castanheiros, seringueiros e quilombolas são
como servidores não remunerados do Estado
brasileiro. “Por isso, não estamos aqui hoje
por acaso”, completou Marina, sob forte aplauso.
Ninguém parecia se importar com o calor inclemente
que fez a ministra comparar o clima local com o
de sua terra natal, o estado amazônico do
Acre.
Um pacote
para a Mata Atlântica
Horas antes da visita
a Ivaporunduva, Marina lançara na cidade
de Registro, também no Vale do Ribeira, um
programa que financiará projetos de recuperação
e conservação da Mata Atlântica
no valor de R$ 48 milhões. Os projetos serão
executados em parceria com entidades não-governamentais
e governos locais. A Mata Atlântica é
o bioma mais ameaçado do País, com
apenas 7% de sua cobertura original preservada.
O objetivo do programa é criar no Vale do
Ribeira áreas protegidas federais, estaduais,
municipais e privadas, implantar corredores ecológicos,
recuperar florestas e promover o ecoturismo. Visa
também aumentar a renda das comunidades tradicionais
como caiçaras e quilombolas, e abrir caminho
para a titulação das terras destes
últimos.
A ministra também anunciou a implementação
de um pólo de biotecnologia na região,
o segundo a ser instalado no país, para fomentar
pesquisas para o uso sustentável dos recursos
naturais. O primeiro pólo deste tipo no Brasil
está localizado na Amazônia.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Bruno Weis)