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DEFENSORIA DA ÁGUA
REVELA QUE 15 MIL COMUNIDADES ESTÃO
EXPOSTAS A SOLOS CONTAMINADOS
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Março de 2005
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31/03/2005 - A Defensoria
da Água (colegiado de instituições
que atua em defesa da sociedade nas questões
relativas ao acesso, uso e contaminação
das águas) divulgou hoje (31) um relatório
contendo os casos mais graves de violação
de direitos humanos envolvendo 15 mil comunidades
expostas a áreas com solo contaminado. O
documento, que já havia sido entregue a representantes
da Organização das Nações
Unidas (ONU) no dia 17 de março, também
revela o nome de autoridades públicas e grandes
empresas nacionais e multinacionais tidas pela instituição
como responsáveis pela contaminação.
No relatório são apresentados casos
como do Aterro Montovani e da Lagoa de Carapicuíba,
no Estado de São Paulo. No Aterro, que fica
em Campinas (SP), há 30 anos, 63 indústrias
depositaram cerca de 500 mil toneladas de lixo tóxico
numa área rural, onde vivem inúmeras
comunidades. Na Lagoa de Carapicuíba, na
cidade de mesmo nome, cerca de cinco milhões
de toneladas de material contaminado, capaz de provocar
câncer, e lixo do Rio Tietê, foram jogadas
sem controle e acabaram afetando os moradores da
cidade que tem 600 mil habitantes, segundo a denúncia.
Entre as empresas acusadas de cometer "crime
por violação de direitos humanos"
- e não apenas crime ambiental -, estão
as seguintes empresas: Du Pont, Ashland, Johnson’s,
Petrobrás, Monsanto, Basf, Philips, Ericson,
Usafarma, Bosch, Akro, Texaco, Filtros Mann, Hydrosol,
Química Nobel, Prolub, Stauffer, Texas Instrumentos,
Furukawa e Tekno. Entre as autoridades acusadas
estão o governador de São Paulo, Geraldo
Alckimin, o engenheiro Mauro Arce, secretário
de Energia do Estado de São Paulo, o professor
José Goldemberg, secretário de Meio
Ambiente do Estado de São Paulo, o ministro
Cezar Peluzzo, do Supremo Tribunal Federal, e a
consultora do Banco Banco Japonês, Mônica
Porto.
De acordo com o secretário-geral da Defensoria
da Água, Leonardo Morelli, a ONU encaminhou
o relatório para ser avaliado pelo Tribunal
Latino Americano da Água, na Corte Internacional
de Direitos Humanos, na Costa Rica. "Tanto
as empresas que foram denunciadas no caso Montovani,
quanto as autoridades do governo de São Paulo,
do Banco Japonês e o ministro Peluzzo, serão
julgados por uma corte internacional", afirmou,
assinalando que todos são responsáveis
por "provocar doenças em populações
pobres que não têm acesso à
Justiça".
Segundo secretário da Defensoria da Água,
a instituição divulga o nome das indústrias
multinacionais porque "não poderiam
estar imunes do jeito que estão", uma
vez que nos seus países de origem não
fazem o que estão fazendo no Brasil. No caso
das autoridades que têm seus nomes revelados,
Morelli disse que "todos eles receberam as
denúncias com relação aos casos
de contaminação na lagoa de Carapicuíba
e agiram deliberadamente para proliferar a contaminação".
No Brasil, na avaliação de Leonardo
Morelli, apenas 3% das cidades têm lixões
controlados, sendo que a grande parte são
clandestinos. "Os dados variam, mas apontam
que cerca de 60% da população brasileira
não têm acesso à água
de boa qualidade", afirma. Morelli observa
ainda que o tratamento de água no Brasil
é feito com tecnologia atrasada, "que
não acompanha a velocidade dos contaminantes
e poluentes".
Na visão do procurador da República,
Alexandre Camanho, do Ministério Público
Federal (MPU), em todos esses casos exemplares de
contaminação que foram levados à
ONU, têm havido a presença do MPU.
"A partir de abril, o MPU começa uma
investigação em 14 estados do Brasil,
junto com a Polícia Federal, para tentar
responsabilizar criminalmente uma parte significativa
dessa contaminação hídrica,
que é a dos lixões". Ele contabiliza
que no país existem cerca de sete mil lixões,
"sempre utilizados de forma clandestina e irresponsável".
Fonte: Agência Brasil - Radiobras
(www.radiobras.gov.br)
Benedito Mendonça