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HOMOLOGADA TI NHANDE RU
MARANGATU
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Março de 2005
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29/03/2005 O presidente
Luiz Inácio Lula da Silva assinou ontem (28/03)
a homologação da Terra Indígena
Nhande Ru Marangatu, em Mato Grosso do Sul. A terra,
com 9,3 mil hectares, é uma antiga reivindicação
dos índios Gurarani Kaiowá Nhandeva.
Cerca de 600 Guarani já estavam morando na
área, mas estavam ameaçados por uma
ação de despejo, a ser cumprida a
partir de 31 de março. Com a homologação,
fica garantida a permanência dos índios,
que já plantaram no local roças de
milho e mandioca.
Para presidente da Fundação Nacional
do Índio (Funai), Mércio Pereira Gomes,
a homologação de Nhande Ru Marangatu
é mais um passo no sentido de consolidar
uma política indigenista voltada para o maior
interesse dos índios, terras em que tenham
condições de produzir para garantir
seu sustento e manter sua cultura. “Esta homologação
é um marco em relação aos Guarani
Kaiowá de Mato Grosso do Sul. Junto com a
homologação da Terra Indígena
de Panambizinho, o governo se posiciona afirmativamente
na recuperação das terras dos Guarani
Kayowá Nhandeva”, disse Gomes.
Na quarta-feira o presidente da Funai recebeu quatro
lideranças Kaiowá e Guarani, que vieram
a Brasília solicitar a homologação.
Mércio Gomes garantiu que a terra seria homologada
antes do dia previsto para o despejo dos índio,
pois o ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos, já encaminhara a minuta do
Decreto de Homologação para que o
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinasse.
Os Guarani Kaiowá e os seis povos indígenas
do Mato Grosso do Sul (Kadiwéu, Ofaié-Xavante,
Guató, Guarani, Nandeva e Terena) que participam
da Conferência Regional dos Povos Indígenas
receberam a notícia da homologação
de Nhande Ru Marangatu durante uma palestra sobre
a questão fundiária com a participação
dos 220 delegados. O cacique Guarani de Dourados,
Getulio Juca de Oliveira, mostrou a importância
da homologação de Nhande Ru Marangatu
para os Guarani. “Estamos muito felizes com o nosso
presidente Lula. Ele fez certo. Em primeiro lugar,
nós indígenas estamos muito felizes.
Esperamos que a homologação venha
para muitos Guarani Kaiowá e Nhandeva e que
a terra seja desocupada pelos fazendeiros”.
A terra fica no município de Antonio João,
a 230 km de Dourados, onde os Guarani Kaiowá
enfrentam sérios problemas com a falta de
terras. A área está dentro do território
reconhecido pela Funai desde 1999 como de ocupação
tradicional indígena e demarcada desde outubro
de 2004.
Para o antropólogo Rubem Thomaz Almeida,
que trabalha com os Guarani há 30 anos, a
homologação é fator estímulo,
pois os Guarani-Kaiowá vinham demonstrando
um grande desânimo em relação
à questão fundiária. “O que
se observou é que o governo federal avançou
e isso foi uma demonstração que vai
contribuir para o avanço do processo de organização
dos índios e também da questão
fundiária”, afirma Almeida.
Para Lea Aquino Pedro, professora indígena
na T.I. Nhande Ru Marangatu e uma das quatro representantes
na Conferência de Dourados, a homologação
é mais uma vitória dos povos indígenas.
“A nossa luta é muito demorada, mas a gente
vê que tem resultado. Nossa luta não
pode enfraquecer. Tudo que vamos passando, estamos
colhendo o resultado. É um exemplo para todos
os povos do Mato Grosso do Sul que lutam para conquistar
a terra e a vida”, concluiu.
Histórico
Pesquisas antropológicas
indicam que os Guarani, na chegada dos primeiros
europeus, ocupavam as florestas existentes na região
entre os rios Paraguai, Miranda, Paraná,
Tiete-Añemby, Uruguai, Jacuí e afluentes,
e também no litoral sul do Brasil. Os Guarani
foram mencionados nos diários das expedições
que definiram os limites da fronteira entre as possessões
de Portugal e Espanha na América do Sul a
partir do Tratado de Madri (10000). Nos diários,
eram citados como sendo “índios monteces”
ou ocupantes de “montes” existentes nas proximidades
de vales e afluentes dos rios Paraná, Iguatemi,
Amambaí, Dourados, Brilhante, Apa – todos
localizados em Mato Grosso do Sul.
Com o fim da Guerra do Paraguai, e a conseqüente
redefinição dos limites entre Brasil,
o território dos índios foi parcialmente
afetado. Nessa mesma época foi criada a companhia
Mate Laranjeira, que arrendou e monopolizou um território
que incidia exatamente sobre o território
Guarani-Kaiowá. Com o fim do monopólio
da Cia Mate Laranjeira (1919), teve início
uma sistemática desapropriação
das terras Kaiowá e Ñandeva e, conseqüentemente,
um aumento do número de colonos. Em 1950,
o governo federal criou a Colônia Agrícola
de Dourados e empresas agropecuárias e fazendas
se instalaram na área e os índios
começaram a ser despejados, trasladados e
até mesmo expulsos violentamente.
Mas o Guarani-Kaiowá sempre procuraram voltar
ao lugar de onde tinham sido expulsos e mantinham
uma “circulação” permanente dentro
do Tekoha (aldeia), que se transformara em fazenda,
mudando-se de um lugar para outro na tentativa de
driblar o fazendeiro e permanecer em suas terras.
Ñande Ru Marangatu é exemplo dessa
situação. A comunidade do tekoha Ñande
Ru Marangatu manteve-se nessa situação
por mais de 50 anos e teve, agora, coroados os seus
esforços com a homologação
de suas terras. A terra indígena Ñande
Ru Marangatu está situada no município
de Antonio João (MS) e possui uma superfície
de 9.317,2160 hectares e população
de 600 índios.
Fonte: Funai – Fundação
Nacional do Índio (www.funai.gov.br)
Assessoria de imprensa