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O HOMEM E A PEDRA: PRÉ-HISTÓRIA
NA AMAZÔNIA
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Abril de 2005
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04/04/2005 As sociedades
de caçadores coletores que habitaram a região
amazônica há cerca de doze mil anos
deixaram vários vestígios que revelam
parte do seu cotidiano, crenças e tecnologias
desenvolvidas. E é justamente este pedaço
da história da Amazônia, ainda pouco
conhecido, que será apresentado na exposição
"O Homem e a Pedra: a Pré-história
na Amazônia", organizada pelo Museu Paraense
Emílio Goeldi (MPEG), com patrocínio
da Companhia Vale do Rio Doce.
A exposição arqueológica, que
apresenta 35 peças, incluindo cinco cerâmicas,
integrantes do acervo arqueológico do Museu
Goeldi – vinculado ao Ministério da Ciência
e Tecnologia (MCT) e considerado um dos mais importantes
do Brasil –, será realizada até 30
de junho, no Parque Zoobotânico do Museu,
em Belém (PA).
A exposição tem como foco o período
que compreende a chegada dos primeiros habitantes
na Amazônia, há cerca de doze mil anos,
até o advento das sociedades agricultoras,
há cerca de cinco mil anos. O visitante vai
literalmente voltar ao tempo da pedra lascada.
Segundo o curador da mostra, Marcos Magalhães,
arqueólogo do MPEG, o objetivo principal
da exposição é mostrar a importância
e as contribuições das sociedades
de caçadores coletores que habitaram a Amazônia
nesse período. A região era repleta
de ilhas naturais de frutíferas e tubérculos
que atraíam caça (geralmente animais
herbívoros) e eram coletados e consumidos
pelos caçadores coletores. "Foram estas
sociedades que desenvolveram as primeiras técnicas
de manejo dos ecossistemas amazônicos".
Para Magalhães, o domínio das técnicas
da pedra lascada e a evolução para
a pedra polida contribuíram para o surgimento
das primeiras práticas agrícolas na
Amazônia. Os caçadores coletores fizeram
ainda grandes experiências na domesticação
de plantas, selecionando espécies e disseminando
sementes. "Essas práticas bastante comuns
entre os caçadores coletores criaram as condições
tecnológicas necessárias para o início
da agricultura e a fixação do homem
na Amazônia e é um pouco dessa história
que queremos contar nesta exposição".
Peças
Além de peças inéditas, serão
expostos artefatos que já viajaram pelo mundo
mas que ainda não tinham sido exibidos em
Belém ou que estão fora do circuito
de exibição do Museu há um
bom tempo. A amostra é composta basicamente
por objetos de pedra lascada ou polida, principalmente
lâminas de machados, encontrados em diversas
localidades e regiões da Amazônia como
Carajás, Marabá, Alenquer, Xingu,
Paraoapebas, Marajó, Alto do Tapajós,
Rio Xingu, entre outros. Há ainda uma diversidade
de objetos utilitários como pontas de projeteis
e de lanças, cunhas, percutores, cavadores
e moedores.
Durante o trajeto, os visitantes poderão
contemplar ainda alguns exemplares de cerâmicas
produzidas neste período, como vasos ritualísticos
encontrados em cavernas da Serra de Carajás
e urnas funerárias de Itacaiúnas,
rio que corta esta região.
Entre os destaques da exposição estão
três pontas de lanças de quartzo hialino
(silício) e silex e pedras de hematitas lascadas
(minério de ferro) encontradas no platô
da Serra de Carajás, no Pará, e que
ainda estão sendo estudadas pelos pesquisadores
do Museu Goeldi.
Carajás
As peças mais antigas da exposição
com datação comprovada cientificamente
são provenientes da região de Carajás
e datam cerca de nove mil anos de idade. Segundo
Marcos Magalhães, as pesquisas realizadas
nas cavernas de Carajás, iniciadas em 1983,
através de uma parceria entre o Museu Paraense
Emílio Goeldi e a Companhia Vale do Rio Doce,
comprovaram efetivamente a ocupação
da Amazônia por grupos humanos formados por
caçadores coletores.
Uma grande quantidade de material arqueológico
foi encontrada em quatro grutas de Carajás
– Piquiá, Gavião, Guarita e Rato,
que começaram a ser estudadas em 1986. "Em
apenas uma dessas cavernas foram encontradas mais
de três mil peças e fragmentos arqueológicos
desse período", revela Magalhães.
De acordo com o arqueólogo, as peças
encontradas nas grutas de Carajás mantém
um mesmo padrão cultural: peças utilitárias,
como pequenas facas, raspadores e furadores, de
cristais de quartzo e de ametista. Há ainda
objetos mais elaborados, como vasos de cerâmica
e rodelas de fuso que serviam para tecer. "Havia
todo um ritual em relação à
confecção dessas peças e provavelmente
quem dominava essas técnicas possuía
um certo domínio moral ou religioso sobre
o resto do grupo", presume Magalhães.
O solo das cavernas, coberto por uma camada de cinzas
e restos de carapaças de moluscos, preservou
ainda os restos alimentares dos habitantes das cavernas,
como ossos de mamíferos e de peixes, e foi
justamente este material orgânico preservado
que possibilitou a identificação precisa
da idade dos objetos encontrados em Carajás,
cerca de nove mil anos.
A forma e o posicionamento como os artefatos líticos,
fragmentos e restos alimentares foram encontrados
indicam uma divisão funcional e ritualística
do ambiente interno das grutas, com espaços
específicos para lascar as pedras, alimentação
e realização de rituais e oferendas
religiosas