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EM RORAIMA, PREFEITO E
ÍNDIOS TEMEM QUE HOMOLOGAÇÃO
DA RESERVA PROVOQUE ISOLAMENTO
Panorama
Ambiental
Boa Vista (RR) – Brasil
Abril de 2005
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21/04/2005 - O prefeito
de Normandia (RR), Orlando Justino (PSB), teme que
a homologação contínua das
terras indígenas Raposa Serra do Sol possa
isolar comunidades indígenas. A preocupação
é compartilhada pelos índios tuxauas
macuxi Gabriel Silveira e Anastácio da Silva,
das comunidades Raposa e Patativa, respectivamente
– ambas localizadas no município. "Nós
já temos 200 anos de contato com os não-índios,
nossa situação é muito diferente
daquela vivida pelos ianomâmi. Hoje, a comida
consumida na área indígena vem da
cidade. Se o Lula não se reeleger e o próximo
presidente não apoiar os indígenas,
quem vai garantir nossa sobrevivência?",
disse o prefeito, que se auto-denomina macuxi.
Gabriel informou que os 800 macuxi, que vivem na
comunidade Raposa, plantam seu próprio alimento,
especialmente milho e mandioca. Mas ele confirmou
que a dependência em relação
ao estado é grande. "Há hoje
23 professores macuxi, funcionários públicos
estaduais, na Raposa. Eles temem perder o emprego",
contou Gabriel. O governador de Roraima, Ottomar
Pinto (PTB), já afirmou que vai tirar da
terra indígena todos os serviços prestados
pelo estado.
Para o prefeito de Normandia, o outro lado negativo
da homologação contínua da
reserva é o fato de expulsar os 15 produtores
de arroz que lá trabalham. Os arrozeiros,
porém, não pagam impostos à
prefeitura. "A gente está elaborando
o Código Tributário Municipal e a
saída dos arrozeiros de Normândia frustrou
nossa expectativa de aumento de receita", argumentou
Orlando. Segundo ele, a atual verba da prefeitura,
de cerca de R$ 45 mil mensais, vem de repasse federal,
do Fundo de Participação dos Municípios
(FPM).
Ainda segundo o prefeito, Normandia tem quase sete
mil habitantes, dos quais quatro mil vivem na sede
do município. "Ainda não sei
exatamente os marcos da reserva indígena,
mas creio que 80% de Normandia ficaram dentro da
Raposa Serra do Sol", disse.
Hoje (21) é o quarto dos sete dias de luto
oficial decretado pelo governador de Roraima em
função da homologação
da terra indígena. Para a antropóloga
Mônica de Freitas, da Secretaria de Estado
do Trabalho e Bem Estar Social, a população
está sendo vítima do terrorismo ideológico.
"As pessoas são contra a Raposa Serra
do Sol sem nunca terem ido lá. Elas não
sabem que no fundo defendem apenas meia dúzia
de arrozeiros", analisou. O vereador de Normandia,
Eduardo Oliveira (PDT), resumiu o clima de hoje
na capital de Roraima. "Aparentemente, é
mais um feriado tranqüilo. Mas há muita
tensão e incerteza no ar", alertou.
Fonte: Radiobras – Agência
Brasil (www.radiobras.gov.br)
Thaís Brianezi