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REGISTROS MOSTRAM QUE ÍNDIOS
DA RAPOSA VIVEM NA REGIÃO HÁ
QUATRO SÉCULOS
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Abril de 2005
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16/04/2005 – A homologação
da terra indígena Raposa Serra do Sol legitimou
nesta semana a posse da terra para índios
que viviam na região há cerca de quatro
séculos. É o que mostram os registros
arqueológicos. As características
da língua revelam, por sua vez, origens ainda
mais antigas. Os índios de Roraima seriam
descendentes de tribos caribenhas, há quatro
mil anos no continente americano.
"A ocupação da região
atual pelos índios é imemorial. Alguns
registros permanecem de forma figurada na tradição
oral, nos mitos e lendas da tribo", afirma
o professor de Antropologia e Etnologia da Universidade
do Estado de São Paulo (Unesp) Paulo Santilli.
"Durante séculos, a Raposa foi alvo
de invasões. Diante disso, os conflitos eram
inevitáveis. A homologação
é, de forma geral, uma medida pacificadora.
Vai de encontro a reivindicações indígenas
antigas."
A demarcação da Raposa Serra do Sol
foi preparada pela Fundação Nacional
do Índio (Funai) com base nos estudos do
professor da Unesp. Há 15 anos, ele pesquisa
os índios da região. Seus estudos
revelaram as múltiplas invasões a
que as comunidades indígenas da Raposa foram
submetidas. Ainda na época da colonização,
holandeses, ingleses, espanhóis e portugueses
estiveram no local, atraente pela abundância
de rios.
O Forte São Joaquim, construído em
1775, foi o marco da colonização portuguesa.
Em torno dele, foram criados aldeamentos onde os
índios eram confinados, atraídos por
presentes ou mesmo à força. O forte
tinha posição estratégica.
Entre dois rios, permitia o controle da entrada
para a Venezuela e a então Guiana Inglesa.
Os aldeamentos construídos nas proximidades
logo foram abandonados pelos portugueses por causa
da resistência dos índios.
No passado mais recente, durante todo o século
passado, as tentativas de desenvolver o Norte do
país levaram mais invasores para as terras
indígenas da Raposa. Depois de participar
da construção de estradas e pontes,
trabalhadores – a maioria vinda do Nordeste – permaneciam
na região com incentivos do governo. "Quando
comecei a trabalhar na região, na década
de 80, a decadência da borracha liberou um
exército para ficar na Raposa. Logo depois,
vieram os garimpeiros. O garimpo provocou epidemias
de malária e poluição dos rios",
lembra o professor Santilli.
De acordo com ele, os mais recentes invasores da
terra indígena, os arrozeiros, também
chegaram à Raposa com apoio público.
No caso deles, do governo estadual. Esses agricultores
se fixaram depois que a demarcação
já estava feita. Muitos receberam financiamento
estatal para permanecer na região. "As
benfeitorias feitas são resultado de recursos
públicos", denuncia Santilli. "Agora,
o governo vai ressarci-los por essas benfeitorias
para que saiam da Raposa? É no mínimo
um ponto controverso."
Fonte: Radiobras – Agência
Brasil (www.radiobras.gov.br)
Juliana Cézar Nunes