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SOCIEDADE CIVIL PEDE NOVOS
ESTUDOS SOBRE IMPACTOS DO RODOANEL DE SP
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Abril de 2005
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20/04/2005 Audiência
Pública realizada ontem (19/4) em São
Paulo sobre os impactos da rodovia na Mata Atlântica,
Reserva da Biosfera e Terras Indígenas foi
marcada por protestos e alertas da população
e de entidades da sociedade civil, que entregaram
documento solicitando mais informação
sobre os efeitos potenciais de sua construção
e operação.
Aconteceu ontem à noite, em São Paulo,
a primeira Audiência Pública para o
licenciamento ambiental do trecho sul do Rodoanel
com a participação do Instituto Brasileiro
de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis
(Ibama). O evento está previsto no acordo
judicial entre o governo do estado de São
Paulo e o órgão federal. O acordo
foi costurado pelo Ministério Público
Federal e homologado no começo de março
pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região.
A audiência foi marcada por diversas manifestações
populares contra a obra – as exposições
do secretário-adjunto de Transportes, Paulo
Tromboni, e da consultora Ana Maria Iderson, do
Dersa, foram interrompidas diversas vezes. E pela
apresentação do documento “Estudos
Complementares para o Termo de Referência
dos trechos sul, leste e norte do Rodoanel”, por
parte de entidades da sociedade civil, entre elas
o Instituto Socioambiental, que requer a incorporação
destes estudos no Termo de Referência (TR)
da obra, no qual se baseia o Estudo de Impacto Ambiental
EIA) do empreendimento.
O documento solicita a realização
de análises aprofundadas e levantamentos
detalhados sobre o papel do Rodoanel em questões
de logística, transportes e mobilidade urbana;
sobre o potencial de indução à
ocupação urbana, por parte da rodovia,
em área de mananciais e de importância
ambiental; sobre o impacto da construção
e operação da estrada sobre a vegetação
e a fauna da região transpassada; sobre a
situação atual dos reservatórios
de abastecimento da Região Metropolitana
de São Paulo; sobre as áreas indígenas
potencialmente afetadas pelo Rodoanel; sobre o patrimônio
cultural e arqueológico da região
afetada pelo traçado da obra. Leia aqui o
documento na íntegra.
As entidades signatárias do documento também
pedem que as informações apresentadas
durante consultas e audiências públicas
sejam incorporadas ao TR. O documento foi enviado
à Secretaria de Meio Ambiente de São
Paulo, Dersa, Ibama e Ministério Público
Federal e as respostas ás suas questões
deverão ser fornecidas antes de nova Audiência
Pública, para que sejam avaliadas por especialistas
nos respectivos temas.
Cinturão Verde,
Mata Atlântica e Terras Indígenas
A Audiência
Pública de ontem teve como assuntos específicos
os impactos do Rodoanel sobre a Reserva da Biosfera
do Cinturão Verde de São Paulo, sobre
a Mata Atlântica e sobre as Terras Indígenas
Guarani Barragem e Krukutu. O Ibama deverá
se manifestar oficialmente sobre os impactos do
empreendimento sobre estes três tópicos
para dar seqüência ao licenciamento.
Vale lembrar que a audiência discutia questões
relativas à terras indígenas exatamente
no Dia do Índio (que se comemora em 19 de
abril), o que impediu a participação
das entidades e comunidades envolvidas. Da aldeia
Krukutu, por exemplo, apenas o cacique Marcos Tupã
esteve presente, manifestando sua preocupação
sobre as alterações no meio ambiente
que poderão ser causadas pela nova rodovia.
A Audiência Pública também gerou
polêmica entre as entidades ambientalistas.
Muitos representantes destas instituições
se perguntavam qual o sentido de se analisar os
impactos do trecho sul da rodovia sobre as Terras
Indígenas, Mata Atlântica e Reserva
da Biosfera se a Avaliação Ambiental
Estratégica - considerada o Termo de Referência
da obra - analisa os impactos socioambientais de
todo o anel viário, cuja data de conclusão
sequer está prevista. Além disso,
o Ibama está encarregado, pelo acordo judicial,
de avaliar as conseqüências da alça
sul da estrada sobre a Reserva da Biosfera, Mata
Atlântica e as áreas indígenas
de Barragem e Krukutu, mas não há
dúvidas de que os efeitos sobre eles serão
outros - e certamente ainda maiores - quando da
construção e operação
de todos os trechos do anel.
Assoreamento progressivo
As entidades ambientalistas
aproveitaram a oportunidade para mostrar a situação
dos mananciais da RMSP, como fotos que provam o
progressivo desaparecimento dos braços da
represa Billings. “Onde antes havia água,
hoje há campos de futebol, fazendas e até
edificações de três andares”,
apontou Carlos Bocuhy, do Instituto Brasileiro de
Proteção Ambiental. O assoreamento
da represa atingiu a média de 7% a cada dez
anos, desde sua criação em 1930. Nestes
75 anos, perdeu 25% da capacidade de armazenamento
de água. Diante deste quadro crítico,
Bocuhy perguntou se a represa poderá absorver
o impacto da obra e do funcionamento da estrada.
“Sem contar os efeitos causados pelo aumento da
ocupação urbana ao redor dos acessos
da estrada”, frisou o ambientalista.
Marussia Whately, coordenadora do Programa Mananciais
do ISA, questionou a propalada eficácia da
obra para reduzir o tráfego de caminhões
na Grande São Paulo. “Um decreto do prefeito
José Serra publicado este mês vai tirar
da cidade 3% dos caminhões sem gastar nenhum
centavo. Será que a relação
custo benefício do Rodoanel é realmente
vantajosa?”, indagou Marussia.
A representante do Dersa, consultora Ana Maria Iderson,
afirmou que o traçado do Rodoanel não
interfere na Reserva da Biosfera de forma relevante
pois passa “o mais próximo possível”
da mancha urbana da RMSP. Disse também que
a obra deve desmatar 297 hectares de Mata Atlântica
e que nenhuma espécie da região estaria
ameaçada. Sobre as terras Guarani, apontou
que o traçado do Rodoanel passa a 15 quilômetros
das aldeias Barragem e Krukutu, não causando
impacto direto. A consultora passou mais de dois
terços de sua exposição explicando
a metodologia adotada pela empresa na avaliação
dos impactos e menos de dez minutos para tratar
diretamente deles. Recebeu sonora vaia dos presentes.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Bruno Weis e Lilia Toledo
Diniz)