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MINISTRO DA JUSTIÇA
SE COMPROMETE COM A CRIAÇÃO
DO CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA
INDIGENISTA
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Abril de 2005
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Governo acata principal
reivindicação do acampamento indígena
Terra Livre, montado na Esplanada dos Ministérios,
desde o dia 25.
29/04/2005 Durante
audiência com 30 lideranças indígenas,
em Brasília, ontem, dia 28 de abril, o ministro
da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, comprometeu-se
a apresentar até maio uma proposta para a
criação de um Conselho Nacional de
Política Indigenista. A implementação
do colegiado – com a atribuição de
formular e fiscalizar as diretrizes da política
para os povos indígenas, com participação
do governo, de organizações indígenas
e de outras entidades da sociedade civil – é
a primeira das principais reivindicações
das mais de 700 lideranças indígenas
que participam do acampamento Terra Livre, organizado
em Brasília pelo Fórum em Defesa dos
Direitos Indígenas (FDDI).
Na audiência com o ministro, os indígenas
apresentaram também outras três reivindicações:
uma manifestação pública do
governo rejeitando as propostas em tramitação
no Congresso Nacional que pretendam obstruir ou
impedir o reconhecimento dos direitos indígenas;
a criação de um sistema que garanta
o direito dos povos de decidir sobre o uso de seus
conhecimentos tradicionais e a justa repartição
dos benefícios oriundos da biodiversidade;
e a declaração imediata de 14 Terras
Indígenas cujos processos estão paralisados
no Ministério da Justiça.
Quanto ao último pedido, Thomaz Bastos disse
apenas que sua pasta vai estudar, caso a caso, a
situação de cada área.
“Só um pacto político entre governo,
sociedade e índios pode resolver os problemas
dos indígenas. O FDDI está à
disposição para isto e este Conselho
é um primeiro passo importante para construirmos
este pacto”, afirmou Gersen Baniwa, secretário-geral
da Coordenação das Organizações
Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).
“Essas propostas abrem um caminho fundamental para
uma nova política indigenista”, concordou
o presidente da Fundação Nacional
do Índio (Funai), Mercio Pereira Gomes, que
também participou do encontro. Ele apresentou
a proposta de realização de uma Conferência
indígena no próximo ano, quando seria
debatido o Estatuto dos Povos Indígenas.
“Para que o Congresso Nacional saiba que esta é
a vontade dos indígenas”, afirmou.
“A Conferência será uma assembléia
geral e o Conselho será espaço para
discutir as políticas”, disse Márcio
Thomaz Bastos. “O fórum para esta discussão
pode ser, além da assembléia, o Conselho,
que o Ministério da Justiça apóia”.
Durante a audiência, as lideranças
indígenas também apresentaram reivindicações
regionais. Grande parte delas ligada ao reconhecimento,
homologação e desintrusão das
Terras Indígenas. Ao afirmar que irá
analisar “uma por uma” a situação
das terras citadas pelos indígenas, Thomaz
Bastos se referiu também às pressões
contrárias às demarcações.
O cacique Marcos Xukuru relatou a ocorrência
de 63 assassinatos de indígenas nos últimos
dois anos, relacionando-os à falta de uma
política clara de demarcação
de terras e de retirada dos invasores. “Também
contribui para isso a lentidão da Polícia
Federal em apurar estes casos”, afirmou.
Indígenas do sul do País deram ênfase
à demora no reconhecimento de terras, dando
como exemplo o que ocorre com os Guarani do Araça´i,
em Santa Catarina. “O argumento da Funai para a
não identificação dessas terras
é que o ministro não autoriza”, afirmou
Waldemar Kaingang. Ele solicitou que seja revogada
a portaria que cria uma comissão interinstitucional,
cuja finalidade é influir nas definições
sobre o reconhecimento de Terras Indígenas
em Santa Catarina.
Falando em nome dos indígenas do Norte do
País, Graça Tapajós lembrou
a necessidade de políticas públicas
para os povos resistentes, que hoje reassumem sua
identidade indígena. Referiu-se também
à ameaça que representam os grandes
projetos como estradas e barragens.
Apoio à homologação
da Raposa-Serra do Sol
Também na
audiência, as lideranças indígenas
divulgaram nota de apoio à homologação
da Terra Indígena Raposa-Serra do Sol conforme
decreto assinado pelo presidente Lula, no dia 15
de abril. “O Governo Federal e o Poder Judiciário
contam com o apoio de todos os setores da sociedade
brasileira solidários aos povos indígenas
pela homologação da Terra Indígena
Raposa-Serra do Sol e seguramente irão manter
a ordem pública no Estado de Roraima,” diz
o texto. O documento aponta as ligações
políticas entre os fazendeiros que invadiram
a área, o governador de Roraima, Ottomar
Pinto, e vários políticos estaduais.
“Ao contrário do que afirmam a elite política
e econômica de Roraima, a presença
de Terras Indígenas não prejudica
o Estado. O que de fato prejudica Roraima é
a prática histórica de má administração,
de grilagem de terras, de corrupção
e de escândalos como o dos ‘gafanhotos’ ”,
continua a nota. As lideranças citam ainda
o clima de impunidade existente na região
e o preconceito com que os índios têm
sido tratados, a exemplo do luto oficial decretado
pelo governo local por conta da homologação
(confira abaixo a nota na íntegra)
“Existe uma máfia
na Raposa-Serra do Sol que está usando alguns
índios”, acusou Jecinaldo Barbosa Cabral
Saterê-Mawé, coordenador-geral da Coiab,
ao ser questionado por jornalistas sobre o apoio
que alguns grupos indígenas estariam dando
aos produtores que invadiram a Terra Indígena.
Ele lembrou que o ministro Márcio Thomaz
Bastos reafirmou o compromisso do governo em manter
a homologação em área contínua
da Raposa-Serra do Sol.
Acampamento discute
gestão ambiental em Terras Indígenas
Na tarde do dia 28,
os participantes do Terra Livre discutiram a gestão
ambiental nas Terras Indígenas e voltaram
a conversar sobre políticas específicas
para a saúde e a educação indígena.
“O governo não tem nenhuma política
específica para gestão ambiental em
Terras Indígenas, mas já existem várias
experiências que estão sendo feitas
por ONGs”, comentou Jorge Terena, do Departamento
Etnoambiental da Coiab. Ele fez um breve relato
dos esforços que têm sido feitos por
várias organizações indígenas
e outras entidades civis – como o ISA – no sentido
de pressionar o governo para que seja formulada
e implementada uma política nacional voltada
ao meio ambiente em TIs.
Terena informou que, recentemente, o governo aceitou
a participação de mais representantes
indígenas nas discussões que têm
sido travadas no âmbito do Grupo de Trabalho
(GT) Interministerial criado, no final do ano passado,
para discutir a questão. O representante
da Coiab apresentou uma proposta preliminar do GT
para financiamento que deverá ser enviada
ao Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, na sigla
em inglês), vinculado a vários órgãos
de cooperação internacional.
O documento lista quase 40 objetivos, entre eles,
o fortalecimento dos sistemas indígenas de
conservação ambiental; a resolução
definitiva do problema das sobreposições
de Unidades de Conservação (UCs) sobre
os Territórios Indígenas; a regulamentação
e o apoio aos planos indígenas de gestão
territorial; e linhas de fomento para as produções
locais e regionais de produtos oriundos do manejo
sustentável da biodiversidade.
“É fundamental que os povos indígenas
se posicionem e façam uma mobilização
a respeito do projeto que se encontra parado na
Casa Civil e que pretende regulamentar a questão
do acesso aos conhecimentos tradicionais e aos recursos
da biodiversidade”, afirmou o advogado do ISA, Raul
Silva Telles do Valle, que participou do debate.
Ele iniciou sua fala referindo-se ao problema dos
conhecimentos tradicionais como um dos principais
aspectos da gestão ambiental indígena.
Aldeia indígena
na Esplanada dos Ministérios
Organizada pelo Fórum
de Defesa dos Direitos Indígenas (FDDI),
a mobilização nacional Terra Livre
reuniu de segunda-feira até hoje, dia 29,
representantes de 89 povos indígenas, em
plena Esplanada dos Ministérios, para participar
de debates, manifestações culturais,
audiências públicas e encontros com
autoridades.
Barracas feitas com palha, lona e bambu de todas
as formas e tamanhos foram dispostas em forma de
“u”. Na “aldeia” levantada no gramado em frente
ao Congresso Nacional, todas as tardes, por volta
das 15 horas, as lideranças indígenas
realizaram seções plenárias
para debater quatro pautas: a regularização
de terras indígenas, propostas em tramitação
no Congresso que ameaçam os direitos indígenas,
a criação de um Conselho Nacional
de Política Indigenista e políticas
públicas (educação, saúde
e meio ambiente). O FDDI é formado por várias
organizações indígenas e indigenistas,
entre elas o ISA.
Nota pública
Povos indígenas
apóiam a homologação de Raposa
Serra do Sol
As mais de 700 lideranças,
de 89 povos e de diversas organizações
indígenas de todo o país, e as entidades
que compõem o Fórum em Defesa dos
Direitos Indígenas, reunidas no acampamento
Terra Livre, na Esplanada dos Ministérios,
em Brasília, vêm a público apoiar
a homologação de forma contínua
da terra indígena Raposa Serra do Sol, em
15 de abril último, realizada pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. A homologação
é fruto de uma luta de mais de 30 anos dos
povos Makuxi, Wapichana, Taurepang, Ingarikó
e Pantamona, pelo seu direito constitucional àquela
terra.
Como se podia prever,
os invasores de terras indígenas não
tardaram em reagir à homologação,
pois, como é amplamente conhecido, estes
invasores sempre gozaram de privilégios e
de impunidade naquela região do país.
Isto vale, particularmente, para os fazendeiros
plantadores de arroz que, com má fé,
invadiram aquela terra quando o território
já estava identificado como indígena.
Reagem de forma articulada
com os invasores o governador de Roraima, Ottomar
Pinto, e diversos políticos do estado, deputados
e senadores. São conhecidas as relações
de total cumplicidade entre os poderes político
e econômico em Roraima.
Os “sete dias de
luto oficial” decretados pelo governador de Roraima
em protesto contra a homologação é
uma demonstração de preconceito contra
os povos indígenas e um desrespeito à
Constituição Federal. A homologação
da terra indígena nada mais é do que
o reconhecimento do direito dos povos a suas terras
tradicionalmente ocupadas e a única forma
de garantir a sobrevivência destas populações.
Ao contrário
do que afirmam a elite política e econômica
de Roraima, a presença de terras indígenas
não prejudica o estado. O que de fato prejudica
Roraima é a prática histórica
de má administração, de grilagem
de terras, de corrupção e de escândalos
como o dos “gafanhotos”. Assim, não faz sentido
a exigência do governo daquele estado para
que a União lhe transfira 4 milhões
de hectares de terras.
O Governo Federal
e o Poder Judiciário contam com apoio de
todos os setores da sociedade brasileira solidários
aos povos indígenas pela homologação
da terra indígena Raposa Serra do Sol e seguramente
irão manter a ordem pública no estado
de Roraima, apesar das ameaças.da elite local.
Brasília,
27 de abril de 2004
Mobilização
Indígena Terra Livre
Fórum em Defesa dos Direitos Indígenas
(FDDI)
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Oswaldo Braga de Souza)