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AÇÃO DA POLÍCIA
CIVIL EM ANAPU TENTA OBSTAR PROCESSO DO
ASSASSINATO DE IRMÃ DOROTHY STANG
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Maio de 2005
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04/05/2005 Desde
o início das investigações
do assassinato de Irmão Dorothy, ficou evidente
a intenção da policia civil de Anapu,
chefiada pelo delegado Marcelo Ferreira de Souza
Luz, de prejudicar o andamento das investigações,
beneficiando assim os fazendeiros acusados.
Segundo a testemunha Geraldo Magela, que encontrou
o pistoleiro Raifran, no dia em que o Raifran foi
preso e levado para a delegacia de Anapu, Geraldo
ouviu policiais civis de Anapu orientarem o pistoleiro
a incriminar o Chiquinho do PT. Um dia após,
no depoimento em Altamira, Raifran apontou Chiquinho
como responsável e, imediatamente após,
a polícia civil divulgou a informação
para a imprensa tentando induzir a sociedade de
que o assassinato de Dorothy era resultado de disputas
internas.
No dia seguinte ao assassinato de Dorothy, dois
trabalhadores foram assassinados na região,
Adalberto Xavier Leal, o Cabeludo e Cláudio
Dantas Munis, o Matogrosso. No caso de Cabeludo,
a polícia civil de Anapu acusou imediatamente
os trabalhadores ligados à Irmã Dorothy
de serem os autores do crime. Desde então,
centrou-se todos os esforços no sentido de
criminalizá-los. Informações
de jornalistas que acompanhavam o caso indicaram
que o delegado Marcelo, comentava que usaria o caso
da morte de Cabeludo para reverter à situação
do assassinato de Dorothy contra os trabalhadores.
Como prova da má fé do delegado, a
caso de Matogrosso foi colocado em segundo plano,
após muita pressão e esforço
dos trabalhadores em reunir provas e testemunhas,
o delegado foi obrigado depois do depoimento prestado
pela própria viúva a prender um dos
pistoleiros acusados do crime conhecido como Chapeuzinho.
Porém, poucos dias após a prisão
o delegado Marcelo esteve na residência da
viúva e a obrigou a assinar duas folhas em
branco. Na delegacia, o delegado forjou um depoimento
em que a viúva inocentava o pistoleiro e
ele foi solto imediatamente. Segundo depoimento
dado pela viúva às entidades de direitos
humanos uma pessoa teria ouvido o pistoleiro falar
que havia pago dois mil reais ao delegado pela liberdade.
O mesmo delegado foi denunciado pelo fazendeiro
Bida, através de um bilhete, de ter recebido
10 mil reais para proteger as terras de fazendeiros
da região contra possíveis ocupações.
Em razão disso, segundo informações
divulgadas pela imprensa, responde a processo administrativo.
Em relação ao processo de Cabeludo,
todas as vezes que ele precisou ouvir em depoimento
os trabalhadores, estes sempre se apresentaram espontaneamente,
alguns deles, inclusive, mais de uma vez. Para evidenciar
ainda mais o seu interesse em prejudicar o andamento
do caso Dorothy, o delegado requereu a prisão
preventiva de Geraldo Magela, uma das principais
testemunhas do processo e de outros trabalhadores
e lideranças do PDS Esperança, ameaçados
pelos fazendeiros.
O Delegado também, que é conhecido
por ameaçar trabalhadores que iam fazer denúncia
na Delegacia de Anapu e por negar proteção
policial para Ir. Dorothy, agora está com
um efetivo policial aumentado, com policiais vindos
de Belém, especialmente para cumprir mandados
de prisão preventiva decretados contra testemunhas
do Caso Dorothy.
Os demais mandados de prisão são referidos
a Cláudio de Tal, Félix de Tal, Mundão
de Tal, com simples nomes e apelidos sem sobrenome
algum. Assim sendo, o delegado de Anapu, com seu
efetivo policial, e com esses mandados de prisão
preventiva decretados pelo juiz de Pacajá,
foi possível escolher qual Luís iria
prender, prendendo o trabalhador colono do PDS Luis
Morais de Brito, vítima de Bida, que teve
a sua casa queimada por ele e que reiteradamente
fazia ocorrências de ameaças que sofria
por Bida e por Tato. O delegado inclusive, no momento
de sua prisão, perto das onze horas de segunda-feira
(dia 2 de maio/05), mesmo com a presença
de advogado, ainda foi capaz de falar ao camponês
textuais: "Você pode ser mandado para
o mesmo presídio do Tato e do Bida, e ai,
heim?", deixando o colono muito amedrontado.
A decisão do Juiz Estadual de Pacajá,
Dr. Lucas do Carmo, decretando essas prisões
preventivas no processo 063/2005-Pacajá,
com base no Inquérito 24/2005 (no qual, o
nome Luiz citado somente uma vez, sem sobrenome
ou identificação alguma), abre possibilidades
reais para que as principais testemunhas do assassinato
da irmã Doroty não sejam ouvidas dentro
do prazo, possibilitando que os acusados, hoje presos,
sejam soltos.
Considerando a atual ficha do Delegado Marcelo Luz,
inclusive o de ameaçar os trabalhadores em
Anapu, dificilmente as testemunhas-chave se apresentarão
para policia e dessa forma poderem falar nas audiências
do processo da Ir. Dorothy Stang, o que resultará
em um atraso processual que poderá legitimar
pedidos de liberdade dos acusados pelo excesso de
prazo na prisão processual deles. Caso isso
aconteça, e é possível, pelo
medo que os trabalhadores nutrem do Delegado, a
nossa maior preocupação é que,
nos próximos dias, a justiça e a polícia
do Pará façam o papel de prender testemunhas
e soltar criminosos do caso Dorothy Stang.
Enquanto a policia civil do Pará age, de
forma rápida, e articulada para perseguir
trabalhadores rurais e automaticamente favorecer
os envolvidos no assassinato da irmã Doroty,
a lei no PSD continua sendo determinada pelo mais
forte. Dominguinhos, como é conhecido, um
dos maiores grileiros de Anapu continua na área
ameaçando trabalhadores rurais, apesar da
ampla denuncia veiculada pela imprensa. Dominguinhos
que é amigo de Bida, parece ser também
muito amigo do Delegado e dos policiais de Anapu
que não o prendem, mesmo andando por toda
cidade. Nestes casos a policia civil não
atua no sentido de prevenir, coibir e prender o
envolvido. Como já mencionado, o assassinato
do trabalhador Matogrosso, continua engavetado e
o delegado nunca deu um passo atrás dos autores
do crime.
Parece-nos evidente que toda a ação
e mobilização recentes de políticos
de Anapu, está articulada com aqueles que
pretendem explorar, de forma rápida e agressiva,
as últimas reservas de madeira do município
de Anapu que se concentram nas Glebas Bacajá
e Belo Monte, áreas onde os trabalhadores
querem organizar Projetos de Desenvolvimento Sustentável
– PDS. Infelizmente, as autoridades policiais (Policia
Civil) de Anapu têm contribuído para
que a rapina aos recursos da floresta da região
sejam expropriados por grileiros e madeireiros que
são contra o desenvolvimento com sustentabilidade.
Até quando os trabalhadores rurais serão
perseguidos e vitimas da ação da policia
civil no Pará?
Reforma Agrária – Desenvolvimento, mas com
sustentabilidade!
Belém, 04
de maio de 2005.
Comissão Pastoral
da Terra – CPT Pará
Prelazia do Xingu
Cáritas Brasileira Norte 2
Conselho Indigenista Missionário – CIMI Pará
e Amapá
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
Pastorais Sociais da CNBB Norte 2
Terra de Direitos
Justiça Global
Rede Social de Justiça e Direitos Humanos
Rede Nacional de Advogad@s Populares
Coordenação dos Movimentos Sociais
Conferência dos Religiosos do Brasil – CRB
Belém
Comitê Irmã Doroty
Fonte: Amazônia ORG (www.amazonia.org.br)
Assessoria de imprensa (Comissão Pastoral
da Terra – Pará)