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AMBIENTALISTA DEFENDEM
MANEJO DA POPULAÇÃO DE JACARÉS
Panorama
Ambiental
Campo Grande (MS) – Brasil
Maio de 2005
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03/05/2005 Artigo
publicado na edição desta semana (03/05)
da Revista Veja traz opiniões de cientistas
e ambientalistas sobre um assunto tratado até
então como tabu: o controle da população
de jacarés. O articulista Leonardo Coutinho
enfatiza que com a proibição da caça
desde 1967, \"os jacarés viraram uma
praga que investa os rios da região, produz
prejuízos e atazana a vida dos pescadores\".
O tema é polêmico e divide opiniões.
O secretário de Meio Ambiente e Recursos
Hídricos, José Elias Moreira, explica
que o governo do Estado não tem opinião
formada a respeito, porém entende que o debate
é salutar e se estudos técnicos criteriosos
apontarem para a necessidade de um manejo da população
dessa espécie, as providências serão
tomadas.
Na última reunião da Abema (Associação
Brasileira de Entidades Estaduais do Meio Ambiente),
ocorrida em Natal (RN) de 19 a 21 de abril, os gestores
ambientais assinaram uma carta em que manifestam
preocupação a respeito. O diretor-presidente
do Imap (Instituto do Meio Ambiente Pantanal), Cid
Rôner, representou o Estado na reunião
e argumenta que o manejo da população
de jacarés já vem sendo discutido
em Mato Grosso e na Amazônia e já é
hora do Mato Grosso do Sul debater o assunto.
Leia abaixo a íntegra
do artigo de Leonardo Coutinho.
Caçada ecológica
O Ibama autorizou o governo do Amazonas a matar
jacarés na reserva extrativista Mamirauá,
a 450 quilômetros de Manaus. É a primeira
vez que as autoridades liberam a caça de
animais silvestres na Amazônia. O abate, ainda
em fase de experiência, é uma recomendação
científica. Pesquisadores que monitoram a
vida desses répteis chegaram à conclusão
de que a proibição da caça,
desde 1967, fez mais do que livrar a espécie
do risco de extinção. Os jacarés
viraram uma praga que infesta os rios da região,
produz prejuízos e atazana a vida dos pescadores.
Lideranças de diversas comunidades reclamam
até de ataques de jacarés a humanos
e da rotina de destruição das redes
de pesca. Em alguns pontos da Amazônia, os
cientistas chegaram a contar 2.000 jacarés-açus
em 1 quilômetro de rio. Nos lagos onde se
realizaram as primeiras caçadas, estima-se
que existam mais de 2 milhões de exemplares.
Nesta fase, o Ibama autorizou o abate de 200 animais
de duas variedades – o tinga e o açu. Dependendo
do resultado da análise sanitária
da carne, mais 5.000 poderão ser mortos até
outubro. Depois, concluída a construção
de um abatedouro flutuante, deverá haver
a liberação para a caça de
até 100.000 répteis por ano. \"Já
existem empresários interessados nesse investimento\",
revela o veterinário Augusto Kluczkovski
Júnior, chefe do departamento de animais
silvestres da Agência de Florestas do Amazonas.
Segundo a coordenadora do projeto de abate, a engenheira
florestal Sônia Canto, o quilo de carne vale
até 20 reais. O couro dos jacarés
abatidos foi vendido para curtumes do Rio Grande
do Sul. No mercado internacional, o centímetro
linear do couro da barriga vale até 25 reais,
de acordo com o biólogo Ronis da Silveira,
da Universidade Federal do Amazonas. O jacaré-açu,
o maior predador da Amazônia, pode ter 5 metros
de comprimento e pesar 350 quilos. O comércio
valoriza os exemplares com pelo menos 40 centímetros
de circunferência na área da barriga.
\"Alguns animais que abatemos chegam a ter
três vezes mais que isso\", diz Sônia.
A caça – ou pesca, como dizem os caboclos
– é realizada durante a noite. Embarcados
em lanchas de alumínio, os ribeirinhos usam
arpões para acertar os jacarés na
cabeça ou na boca, evitando danos ao couro.
Depois que o animal é arpoado, começa
uma luta para cansá-lo que pode durar até
meia hora. Quando o bicho é puxado para a
lateral da embarcação, usa-se o foco
de uma lanterna para cegá-lo e deixá-lo
paralisado. Assim, pode-se amarrar sua boca sem
risco de levar uma dentada. Ainda vivo, o jacaré
é levado para uma balsa e pendurado de cabeça
para baixo, a posição ideal para a
sangria. A técnica é importante para
garantir a qualidade da carne.
Para os ambientalistas, a caça pode ser recomendada
como uma alternativa para o equilíbrio ecológico,
em casos de superpopulação. No Rio
Grande do Sul, o único estado brasileiro
onde a caça esportiva é regulamentada,
existem temporadas de abate de perdizes e marrecas-piadeiras,
entre outros animais perniciosos às lavouras
e a outras espécies. Só no ano passado,
a temporada de caça ao canguru, na Austrália,
deu cabo de 4,4 milhões de animais. Ainda
restam mais de 50 milhões deles. Na Amazônia,
só pescadores artesanais deverão participar
das caçadas de jacaré.
Fonte: Secretaria Estadual do
Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul (www.sema.ms.gov.br)
Assessoria de imprensa