Panorama
 
 
 

SAIBA A OPINIÃO DE ESPECIALISTAS SOBRE O SEGUNDO MAIOR DESMATAMENTO DA HISTÓRIA DA AMAZÔNIA

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Maio de 2005

Os dados do desmatamento na Amazônia em 2003-2004, produzidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e apresentados em coletiva no último dia 18 de maio, registraram que no período de agosto de 2003 a agosto de 2004 ocorreu o segundo maior desmatamento da história na Amazônia: as estimativas indicam 26.130km2. Confira alguns depoimentos colhidos pela reportagem de Amazonia.org.br junto a pesquisadores, autoridades estaduais, empresários, congressistas e ambientalistas sobre a taxa de desmatamento, a política ambiental dos governantes e o avanço do agronegócio na Amazônia.

Mary Allegretti - Professora visitante da Universidade de Chicago e ex-Secretária de Coordenação da Amazônia do Ministério de Meio Ambiente (1999-2003)
"Se os números são impressionantes, mais chocante ainda é ver a ausência de boas notícias, ou de boas políticas. Criar áreas de conservação é a mais antiga das políticas ambientais e o atual governo recebeu o Programa Arpa pronto e com recursos para executá-lo. Mas onde estão os outros projetos - de ecoturismo, de fortalecimento da gestão ambiental nos estados, de licenciamento ambiental por geoprocessamento, de recuperação de áreas degradadas, de fortalecimento do agroextrativismo, de sistemas agroflorestais - que sempre fizeram o contraponto e contribuíram muito para criar agentes a favor do meio ambiente na própria Amazônia. Onde anda o PPG7, afinal? A desagregação da Secretaria de Coordenação da Amazônia, em um momento de crescimento econômico e expansão da fronteira, certamente contribuiu para o quadro atual."

Adalberto Veríssimo, pesquisador-sênior do Imazon
"As estimativas divulgadas não configuram um fracasso do plano anti-desmatamento que foi lançado em abril de 2004 envolvendo diversos ministérios. As taxas são referentes a agosto de 2003 a agosto de 2004, de modo que a maior parte do período é anterior ao plano. O que não quer dizer que o governo não esteja encontrando dificuldades e já não houvesse instrumentos para controlar o desmatamento. Não houve interesse do governo do Mato Grosso em combater o desmatamento - não adianta ter um sistema de licenciamento ambiental considerado modelo se não há vontade política. O estado é responsável por quase 50% do índice e o forte crescimento no MT é derivado da agricultura e da pecuária. O mesmo não aconteceu no Pará, que é, sobretudo, um estado madeireiro, com a pecuária vindo em segundo lugar e uma agricultura incipiente. O Pará conseguiu diminuir sua taxa de desmatamento devido a três fatores: (a) repressão e fiscalização - houve um grande número de ações do Ibama na região; (b) vontade política com uma postura anti-desmatamento por parte do governo do estado, que procurou estancar as áreas desmatadas e ordenar o território criando o Zoneamento Ecológico-Econômico e (c) ausência de pressão do agronegócio, que no Pará não tem a mesma força que no MT. Faltou também uma colaboração do Ministério da Agricultura que deveria trabalhar na intensificação da agricultura, ordenando e estimulando a ocupação de áreas já desmatadas, evitando novos desflorestamentos."

Rui Ottoni Prado, vice-presidente da Famato (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso)
"A soja é plantada em áreas de Cerrado - eu nasci no Mato Grosso do Sul e estou há vinte anos no Mato Grosso e não conheço nenhuma área de soja plantada em área de floresta. Há um equívoco aí. Falar que a soja é a grande causa do desmatamento é uma inverdade. A agricultura empresarial no Mato Grosso está em áreas que não são nem de pecuária e nem de floresta. A população do interior do Brasil, do interior do Mato Grosso, entende que estamos trazendo um benefício para eles - qualidade de vida, emprego, renda. Os dados do IDH no Mato Grosso indicam que os melhores índices estão justamente nas regiões produtoras de soja. De uma maneira ou de outra, tem que se produzir alimentos - há uma agressão ao meio ambiente no mundo inteiro para se produzir alimentos. E agora, vamos parar a produção de alimentos? Não tem como. Vamos preservar a Amazônia, os rios, a floresta - ninguém é contra - mas isso de colocar o meio urbano contra o meio rural, os ambientalistas contra o agronegócio, isso deve ser combatido. Temos de achar o meio do caminho."

Luiz Gabriel Azevedo, Coordenador de Operações Setoriais do Banco Mundial
"Assim como ao resto da sociedade, causa grande preocupação ao Banco Mundial o crescimento dos índices de desmatamento na Amazônia. Quanto à política de financiamentos, o Banco Mundial está desenvolvendo projetos para atuar mais em estados em que estes índices estão diminuindo, como é o caso do Pará. E estados onde este índice continua crescendo provavelmente encontrarão mais dificuldades em conseguir financiamentos junto à organização. O Banco apóia iniciativas importantes no combate ao desmatamento, como o PPG-7 e o Programa Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA), que atingiu em 2005 15,6 milhões de hectares de novas áreas protegidas. No entanto, mesmo atingindo suas metas, estas iniciativas não têm sido suficientes para solucionar o problema."

João Capiberibe, senador (PSB - AP), em discurso à Tribuna do Senado
"Coincidência ou não, o agronegócio brasileiro e a pecuária avançaram no mesmo ritmo que os desmatamentos e pior do que isso - financiados pelo Estado - Banco do Brasil e Banco da Amazônia. No entanto, o orçamento para realização de pesquisas e de capacitação de profissionais com o olhar voltado para a nossa biodiversidade é ínfimo. A soja está chegando ao coração da nossa floresta Amazônia. Precisamos despertar para isso. A conversão direta da floresta em pastagem também continua crescendo de forma preocupante. A idéia de que o avanço da fronteira agrícola trará para o país mais mercado e divisas e aumento do PIB faz com que a grilagem de terras aumente a cada dia."

Márcio Santilli, membro do Conselho Diretor do Instituto Socioambiental (ISA), em artigo publicado em 20/05/05
"Vários estados amazônicos conseguiram reduzir significativamente os seus índices: Amazonas, Tocantins, Maranhão e Acre. Enquanto o índice do Pará permaneceu estável, Rondônia e Mato Grosso empurraram o índice geral da Amazônia pra cima. Significa dizer que se a responsabilidade política pela extravagância é do Brasil e da Amazônia como um todo, são estes últimos os principais responsáveis pela sua atual exacerbação. Os mais de 12 mil km² desmatados em 2004 só no Mato Grosso, indicam claramente que a expansão do agronegócio ocupa um papel crescente na conversão direta de áreas de floresta em plantações, além da influência indireta que exerce, dada a sua maior rentabilidade, empurrando outras atividades potencialmente predatórias, como a pecuária, para dentro da floresta amazônica."

Lúcio Flávio Pinto, jornalista
"No primeiro ano de FHC, o desmatamento na Amazônia foi recorde, impulsionado pelo sucesso (de custeio altíssimo, como se veria depois) do Plano Real. O primeiro ano do governo Lula manteve, num patamar alto, a média de desmatamento do consulado tucano, como se não houvesse mudança de direção no comando da administração federal, ideologias e retóricas à parte. Ainda era a inércia da gestão anterior - justificava-se. No primeiro ano com a indescartável marca do governo do PT, em 2003, o desmatamento na Amazônia voltou a infletir na direção da marca de 1995, que devolveu a Amazônia aos anos 80 do fim do regime militar e do começo do populismo oligárquico. Essa tendência manda um recado claro ao distinto público: sempre que a atividade econômica aquecer, por mais artificial que seja o aquecimento, tudo que canta a musa da ciência, da informação, do conhecimento e do saber sobre o melhor trato da Amazônia será mandado às calendas gregas, metaforicamente falando em linguagem neoliberal, ou às favas, em dialeto neoproletário. A ordem será fazer a frente econômica avançar sobre a maior fronteira de recursos naturais do planeta com seus bulldozers e seu modo de fazer convencional, indiferentemente às sutilezas escondidas na última grande reserva de floresta tropical contínua da Terra. Ela continuará a ir abaixo para que seu lugar seja ocupado pela forma de produzir produtos com lugar certo no mercado mundial (soja, gado, dendê, mineração, etc). O resto é vã filosofia nesta carnavalesca Dinamarca tropical, com seu Hamlet otimista."

Denise Hamú, Secretária Geral do WWF-Brasil
"O Ministério do Meio Ambiente tenta fazer sua parte ao criar áreas protegidas, um mecanismo comprovadamente eficaz, mas não suficiente, para frear o avanço do desmatamento, e ao propor e defender o projeto de lei de gestão de florestas públicas que está em discussão no Congresso Nacional. É preciso ainda convencer empresas e governos a dar uso social e econômico às florestas de modo efetivo (...) Falta aos governos federal e estaduais empenho na aprovação do projeto de concessão de florestas públicas e na implementação do plano de combate ao desmatamento."

Serys Slhessarenko, senadora (PT-MT), em depoimento à Agência Senado
"O governo tinha a expectativa de que houvesse um aumento de apenas 2% da taxa de desmatamento no período, de acordo com as previsões do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mas se cinco dos sete estados da Amazônia reduziram a taxa de desmatamento, em Mato Grosso e Rondônia se registraram alta de 20% e 23%, respectivamente. Um verdadeiro horror!(...) Enquanto as árvores caíam na floresta, o grupo do agronegócio de Maggi comemorava aumentos de 28% no faturamento. É por isto que afirmo que estes índices tão escandalosos não acontecem à toa. Tudo isto é resultado da ação do inimigo da floresta, do belzebu do desmatamento."

Roberto Smeraldi, diretor de Amigos da Terra - Amazônia Brasileira
"É uma notícia ruim mas que já virou rotina, um pouco como "explosão mata 25 em Bagdá". Confirma que o patamar dessa década é maior de todos os tempos, em torno dos 25 mil km2 ao ano, com oscilações devidas à conjuntura econômica e/ou alterações na metodologia de medição. A notícia que preocupa mesmo é a postura do governo, que minimiza e justifica em vez de assumir e atacar as causas. Mais grave a omissão da Presidência da República, autora e coordenadora do plano anti-desmatamento. Parece que voltamos ao "ritual macabro" do anúncio por parte do MMA, tantas vezes estigmatizado pela sagaz ministra Marina. O governo se fechou, ficou sem ouvir a análise dos especialistas da sociedade civil, como sempre fazia na véspera do anúncio."

Carlos Edegard de Deus, Presidente do Instituto de Meio Ambiente do Acre - IMAC
"A fronteira do Acre com o Amazonas e Rondônia vem sofrendo muita pressão por conta dos desmatamentos nestes estados, como os que ocorrem nos municípios de Lábrea (AM) e Porto Velho (RO). No início deste ano a fiscalização nesta faixa de fronteira se tornou competência do Ibama-AC, o que deve facilitar o controle. Além disso, de julho a setembro os ventos da Bolívia, Mato Grosso e Rondônia trazem, além do frio, muita fumaça das queimadas. No Acre intensificamos o sistema de controle do desmatamento - no início do ano passado, aplicamos multas milionárias em conjunto com o Ibama. Além disso, iniciamos a operação Floresta Viva que criou barreiras fixas e móveis para reduzir o desmatamento e potencializar o manejo da floresta - não era uma operação apenas repressiva, mas também informativa. Isso tudo contribui para a diminuição das taxas de desmatamento no estado."

Fonte: Amazônia ORG (www.amazonia.org.br)
Assessoria de imprensa (Daniela Kawakami e Denise Conselheiro e Maurício Araújo)

 
 
 
 

 

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