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FALTA DIÁLOGO DO
GOVERNO COM ESPECIALISTAS, AFIRMA AB’SABER
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Maio de 2005
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24/05/2005 - Neste
segundo trecho da entrevista à Agência
Brasil, o geógrafo Aziz Ab‘Saber fala de
experiências de uso racional da floresta e
lamenta que o ministério do Meio Ambiente
não as estimule. Ele afirma que o governo
não ouve os especialistas antes de executar
ações ou propor projetos.
Agência Brasil:
Há alguma experiência internacional
que poderia de servir como exemplo ao Brasil?
Ab’Saber: Não. É preciso usar as experiências
que apareceram aqui e ali, da própria Amazônia.
Por exemplo, na fronteira de Rondônia com
o Acre, surgiu, em função da iniciativa
de um ex-padre francês de origem rural, um
novo projeto de uso das porções periféricas
desmatadas, mas a partir do bordo não-desmatado
da floresta. O bordo da floresta funciona como se
fossem nossos cabelos, tem uma umidade que não
se esgota com a rapidez das outras partes da floresta.
Em função disso, esse ex-padre começou
a executar um projeto de plantações
no bordo da floresta, em direção ao
lado já devastado. Ao mesmo tempo, ele tentou
fazer uma espécie de corredores radiais,
na área de sub-bosque da floresta para plantar
açaí, castanheiras, abacaxis. Com
essa gente da terra, plantaram-se espécies
locais como pupunha, açaí e cupuaçu,
e também mandioca, hortaliças e frutas
para o consumo próprio. Eles usaram os métodos
tradicionais de entrar na floresta para coletar
ouriços de castanheiras, caídos no
chão da floresta, o que não prejudica
em nada. Não havia ação predatória.
Eles entravam na mata por meio de trilhas pequenas,
nas estradas das seringueiras e castanheiras. Esse
esquema foi desenvolvido de forma cooperativa com
a população local, tudo discutido
numa igreja da cidadezinha de Nova Califórnia.
O resultado é que em todos os bordos de florestas,
que sofreram uma devastação grande,
hoje têm um muro florestal.
ABr: Mas essas propostas
não podem ser discutidas com o governo?
Ab’Saber: Mas quem do governo está preocupado
com isso? O senhor Capobianco (João Paulo
Capobianco, secretário de Biodiversidade
e Florestas do Ministério do Meio Ambiente),
a dona Marina Silva (ministra do Meio Ambiente)
não adianta nem falar, eles não querem
ouvir ninguém. Soube que um dia desses, fizeram
uma reunião, para mandar para o Lula os sub-projetos
(de gestão de florestas), e alguém
disse: "Precisaríamos conversar um pouco
com o professor Aziz Ab’Saber". Eu não
sou vaidoso, mas achei interessante alguém
dizer isso. E a resposta foi essa da dona Marina
Silva, segundo me contaram: "Não dá
tempo para convencer o professor Aziz."Então,
eu paro aqui.
ABr: Então
não há debate?
Ab’Saber: Sempre dizem que os projetos estão
sendo baseados em vários debates com pessoas
que conhecem as regiões. Não houve
um projeto correto com cientistas, com gente que
conhece o Nordeste Seco, Vale do São Francisco
ou Amazônia. Não está havendo
em relação às Flonas (Florestas
Nacionais) nenhuma preocupação de
ouvir terceiros.
Colaborou Lana Cristina
Fonte: Agência Brasil -
Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Graziela Santanna