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MARINA SILVA CRITICA “CONSENSO
OCO” DO GOVERNO E DA SOCIEDADE CIVIL EM
RELAÇÃO À PRESERVAÇÃO
AMBIENTAL
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Maio de 2005
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20/05/2005 Ao anunciar
a criação de oito Unidades de Conservação
no sul do País, a ministra do Meio Ambiente
acusou setores do governo e da sociedade civil -
que protestam contra a taxa crescente de desmatamento
da Amazônia - de não assumirem compromisso
real para reverter essa tendência.
No anúncio da criação de oito
novas Unidades de Conservação (UCs)
nos estados do Paraná e Santa Catarina, feito
ontem (19/5) em Campos do Jordão (SP), durante
as comemorações da Semana da Mata
Atlântica, a ministra do Meio Ambiente, Marina
Silva, criticou setores da sociedade e do governo
brasileiros pela falta de compromisso com a preservação
ambiental. Ao falar da taxa estimada de desmatamento
da Amazônia em 2004, anunciada na quarta-feira
em Brasília, que registra um aumento de 6%
em relação ao ano anterior, a ministra
apontou a existência de um “consenso oco”
entre setores que condenam a derrubada de florestas
mas que não contribuem efetivamente para
uma mudança nesta tendência.
A crítica ao governo foi feita de forma velada.
“Nós muitas vezes somos tomados pelo consenso
oco que não exige de nós um compromisso
verdadeiro. Enquanto aqueles que durante todo o
ano trabalham com políticas ambientais e
(na hora que as taxas de desmatamento vêm
a público) vão para o cadafalso do
questionamento público, aqueles que ao longo
do ano vão para o altar das atividades produtivas
insustentáveis são incensados”, afirmou
a ministra. “Esse consenso oco precisa acabar e
nós só vamos conseguir combater o
desmatamento quando juntarmos a dinâmica do
desenvolvimento com a dinâmica da preservação”.
Apesar da crítica, a ministra avaliou como
positiva a política ambiental do governo
federal. “Estou certa que, com a política
ambiental integrada do governo Lula estamos dando
um passo importante para que o novo ciclo de desenvolvimento
econômico do País, desejado por todos,
absorva o paradigma da sustentabilidade socioambiental”.
Marina foi mais direta ao apontar as responsabilidades
da sociedade civil. “Se os consumidores de São
Paulo continuarem comprando madeira extraída
de maneira predatória da Amazônia,
não adianta ficar de olho arregalado com
o aumento dos números de desmatamento. Se
a opinião pública não pensar
no alimento que come, em sua origem, e se sua produção
foi as custas da nossa biodiversidade, das nossas
florestas, continuaremos no consenso oco de que
somos todos a favor da preservação”.
Protesto por Barra
Grande
O desabafo da ministra
foi feito à platéia de mais de 400
pessoas que acompanhavam a sessão solene
do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama),
na qual foram anunciadas as novas UCs(veja quadro).
O tema principal das comemorações
da Semana da Mata Atlântica este ano é
a floresta com araucárias. A cerimônia
foi marcada pelo protesto pacífico de organizações
não-governamentais lideradas pela Rede de
ONGs da Mata Atlântica contra a usina hidrelétrica
de Barra Grande, na divisa entre os estados de Santa
Catarina e Rio Grande do Sul. Portando máscaras
de animais que estão extinção
no bioma e cartazes, várias crianças
entregaram mudas de araucárias às
autoridades presentes.
O caso da usina hidrelétrica de Barra Grande,
no rio Uruguai, por exemplo, é marcado por
uma das mais graves fraudes ambientais da história
do Brasil. O Estudo e Reletório de Impacto
Ambiental (EIA/Rima) do empreendimento omitiu a
existência de mais de 4 mil hectares de florestas
de araucárias primárias, ou em estado
avançado de regeneração, na
área que seria inundada pela represa. A disputa
segue na Justiça.
ICMS ecológico
e resistência catarinense
Marina aproveitou
para convocar os proprietários de terras
na região para criar novas Reservas Particulares
do Patrimônio Natural (RPPNs). “Apenas no
Paraná foram criadas 185 novas unidades deste
tipo no ano passado”. A ministra lembrou que as
reservas particulares beneficiam os municípios
nos quais estão localizadas pois propiciam
um aumento de arrecadação por meio
do ICMS ecológico. O ICMS ecológico
é um instrumento legal para calcular o valor
do repasse de verbas dos estados para os municípios
a partir da existência de fatores ambientais,
como áreas de mananciais e de preservação.
O primeiro estado a implementá-lo no Brasil
foi o Paraná, mas hoje Minas Gerais, Rio
Grande do Sul, São Paulo, Rondônia,
Mato Grosso e Mato Grosso do Sul também o
têm.
O instrumento de aumento de arrecadação
municipal pode ser uma forma do governo quebrar
as resistências que a implantação
de UCs tem encontrado nas cidades catarinenses.
Apesar de anunciadas ontem, as duas novas reservas
de proteção integral - com um total
de 25 mil hectares – e a Aréa de Proteção
Ambiental (APA) de 377 mil hectares ainda dependem
de novas consultas públicas em seus municípios
para a finalização dos processos de
criação. “A discussão está
sendo marcada pela desinformação”,
disse João Paulo Capobianco, secretário
de Biodiversidade e Florestas do Ministério
do Meio Ambiente (MMA). “Nos próximos dias
teremos novas consultas públicas nos municípios
para encaminhar os processos à Presidência
da República ainda este ano”, completou Marina.
As novas Ucs no Sul
O Ministério
do Meio Ambiente criou cinco Unidades de Conservação
no Paraná que já estão sendo
encaminhadas à Casa Civil para se transformarem
em lei. São elas o Parque Nacional dos Campos
Gerais ( 23.000 hectares), a Reserva Biológica
das Araucárias (16.500 ha), o Refúgio
da Vida Silvestre do rio Tibagi (31.698 ha), a Reserva
Biológica das Perobas (11.000 ha) e o Refúgio
de Vida Silvestre dos Campos de Palmas (16.445 ha).
No Paraná, a floresta com araucárias,
um dos ecossistemas da Mata Atlântica, está
reduzida a menos de 1% de sua cobertura original.
As três áreas em Santa Catarina, que
ainda dependem de três novas audiências
públicas, são a Estação
Ecológica da Mata Preta ( 9.006 ha), o Parque
nacional das Araucárias (16.824 ha) e a Área
de Proteção Ambiental das Araucárias
(377.000 ha). O MMA, contudo, disse que, ainda que
novas consultas sejam realizadas, a criação
dessas unidades é irreversível. O
órgão também anunciou ontem
um edital de R$ 20 milhões do Fundo Nacional
do Meio Ambiente (FNMA) para a recuperação
de nascentes e mata ciliares em área de Mata
Atlântica.
Os premiados da semana
Depois do anúncio
da criação das UCs, Miriam Prochnow,
coordenadora da Rede de ONGs da Mata Atlântica
anunciou os vencedores do Prêmio Amigo da
Mata Atlântica: o Movimento dos Atingidos
por Barragens (MAB-Sul) e o professor Paulo Nogueira
Neto, presidente da Fundação Florestal
do Estado de São Paulo. Em seguida, foram
anunciados os ganhadores do Prêmio Muriqui:
o Instituto de Estudos Socioambientais da Bahia
(Iesb), Mario Mantovani, diretor da SOS Mata Atlântica,
e o programa de televisão Globo Ecologia,
que ganhou o prêmio especial por seus 15 anos
de existência. Enquanto isso, um grande banner
erguido de frente para a platéia nomeava
os escolhidos para levar o Prêmio Motoserra:
Dilma Roussef, ministra da Minas e Energia e as
empresas Baesa e Engevix, ambas envolvidas na construção
e licenciamento de Barra Grande.
Fonte: ISA - Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Bruno Weis)