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MP QUE “INTERDITOU” 8,2
MILHÕES DE HECTARES NO PARÁ
PARA CRIAÇÃO DE UC’s PODE
SER DERRUBADA NA CÂMARA
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Maio de 2005
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26/05/2005 A bancada
ruralista estaria tentando rejeitar ou flexibilizar
a Medida Provisória ao máximo. Organizações
da sociedade civil estão divulgando uma carta
em defesa da MP nº 239, porque a consideram
fundamental para conter o desmatamento nas áreas
prioritárias para criação de
Unidades de Conservação (UCs). Participe
da mobilização acompanhando a votação
marcada para a semana que vem e enviando a carta
das ONGs aos deputados.
O Ministério do Meio Ambiente (MMA) está
trabalhando contra o tempo para impedir a derrubada
na Câmara dos Deputados de um dos pilares
do “Pacote Verde”, lançado em fevereiro pelo
governo. Corre risco de ser rejeitada a Medida Provisória
239/05, que possibilitou a “interdição
administrativa provisória” de 8,2 milhões
de hectares ao longo da rodovia BR-163, no Pará,
para permitir a realização de estudos
visando a criação de Unidades de Conservação
(UCs) na região. A iniciativa é considerada
fundamental para conter o corte indiscriminado das
árvores e a grilagem de terras em uma das
áreas de maior conflito fundiário
e desmatamento da Amazônia e é extensiva
a todo o País. O relator da matéria,
deputado Nicias Ribeiro (PSDB-PA), fez um parecer
contrário à MP, que deverá
ser votado em plenário na próxima
terça ou quarta feira.
A ameaça de desaprovação do
texto proposto pelo governo paira sobre o Palácio
do Planalto pouco depois de ser anunciado, no último
dia 18 de maio, o número alarmante de 26
mil quilômetros quadrados de florestas desmatadas
na Amazônia, de agosto de 2003 a agosto de
2004. Trata-se do segundo maior índice da
história, que só perde para os 29
mil quilômetros quadrados desmatados no período
entre 1994 e 1995. O anúncio repercutiu negativamente
na imprensa nacional e internacional e a taxa apresentada
foi interpretada como uma séria derrota para
a administração Lula.
Na última quarta-feira, dia 25 de maio, no
MMA, a ministra Marina Silva esteve com Ribeiro
e tentou convencê-lo a mudar o teor de seu
relatório. Não chegaram a um acordo,
mas as negociações prosseguirão
até a véspera da votação.
A assessoria do deputado deverá apresentar
uma nova proposta ao ministério na segunda-feira,
dia 30 de maio. O encontro com Marina aconteceu
por exigência do parlamentar paraense, que
se recusou a discutir o problema com representantes
de escalão inferior. Também estavam
presentes o secretário de Biodiversidade
e Florestas do MMA, João Paulo Capobianco,
e o deputado Luciano Zica (PT-SP), um dos principais
negociadores do governo para o tema.
Na noite da terça-feira, dia 24, o governo
havia fechado um acordo com Ribeiro ao aceitar modificar
o texto da MP para deixar claro que, nos empreendimentos
legalizados em áreas já alteradas
(para agricultura, pecuária e garimpos),
poderia ser feito o corte de vegetação
em processo de regeneração, arbustos
nativos daninhos ao pasto, por exemplo. No dia seguinte,
o deputado voltou atrás e atacou de forma
contundente a medida e o governo. “A MP dá
ao presidente da República um poder discricionário,
autoritário, ditatorial e imperial. Ela paralisa
uma série de empresas e atividades econômicas
como fazendas, garimpos e madeireiras, mesmo que
elas estejam legalizadas”, afirmou Ribeiro à
TV Câmara. Pouco depois, ele reuniu-se com
a ministra Marina Silva.
Existe a suspeita de que o deputado Nicias voltou
a endurecer o discurso por pressão de seu
partido, o PSDB, e da bancada ruralista na Câmara,
que estaria interessada em derrubar ou pelo menos
flexibilizar ao máximo a MP. Cogitou-se,
por exemplo, limitar o alcance da medida à
Amazônia e a um período de tempo menor
– o texto atual estipula um prazo de seis meses,
que pode ser renovado por mais seis meses, para
a realização dos estudos que poderão
legitimar a criação das UCs. A oposição
também propôs a retirada do regime
de urgência constitucional do Projeto de Lei
(PL) nº 4.776/05, que pretende regulamentar
a gestão de florestas públicas e também
poderá ser votado durante a semana.
Por outro lado, o PSDB estaria tentando desgastar
o governo no maior número possível
de frentes. O motivo seria a “guerra” que envolve
a chamada CPI dos Correios, aprovada na quarta-feira,
dia 25, e que poderá investigar denúncias
de corrupção que pesam sobre o deputado
Roberto Jefferson (PTB-RJ), presidente de seu partido
e um dos principais aliados do Palácio do
Planalto.
“O ex-presidente FHC, do PSDB, editou medida muito
mais drástica e impopular para os ruralistas,
quando do lançamento dos dados recordes de
desmatamento, entre 1994 e 1995, com o aumento da
reserva legal de 50% para 80% na Amazônia”,
lembra o advogado André Lima, do ISA. Ele
conta que, depois disso, o governo tucano também
conteve energicamente, em 2001, a pressão
ruralista que tentou a rejeitar Medida Provisória
que previa a alteração (MP nº
2166/01).
“Não há acordo em relação
a tentar limitar o alcance da medida apenas à
Amazônia ou retirar o pedido de urgência
do PL nº 4.776 (da gestão de florestas
públicas). Isso nós não vamos
aceitar. Também não está em
discussão a tentativa de diminuir os prazos”,
garantiu João Paulo Capobianco, ao término
da reunião. Ele confirma que a MP corre riscos,
mas considera que é possível chegar
a um consenso antes da votação. “O
deputado Nicias concorda que é necessário
manter a essência do texto, ou seja, nas áreas
de floresta primária, a vegetação
deve continuar intocada.”
A MP e o
Pacote Verde
Publicada em 18 de
fevereiro deste ano, a MP 239 prevê o instrumento
legal da “limitação administrativa
provisória” que autorizou o governo a paralisar
todas as atividades econômicas efetiva ou
potencialmente causadoras de degradação
ambiental em uma área de florestas primárias
(ainda intocadas) de 8,2 milhões de hectares,
no Pará, ao longo da BR-163. Em outras palavras,
ficou proibido o corte raso de floresta no local.
A intenção é de realizar estudos
com vistas à criação de Unidades
de Conservação na região. O
território abrangido pela medida inclui terras
nos municípios de Altamira, Itaituba, Jacareacanga,
Novo Progresso e Trairão, todos localizados
no sudoeste do Pará.
A publicação da MP faz parte do chamado
“Pacote Verde” apresentado pelo governo federal
para tentar conter a violência, a grilagem
de terras e o desmatamento em toda a Amazônia,
sobretudo no Pará. O conjunto de medidas
foi tomado em resposta ao assassinato da missionária
Doroty Stang, no dia 12 de fevereiro, em Anapu (PA).
A freira estadunidense foi morta a mando de fazendeiros
por defender trabalhadores rurais e pequenos agricultores
que disputam terras com latifundiários da
região. Além da MP 239, o governo
também criou 5,2 milhões de hectares
de áreas protegidas, localizadas em vários
estados da Amazônia e enviou ao Congresso
o PL nº 4.776. (Para saber mais clique aqui).
Organizações
da sociedade civil se mobilizam
Uma carta assinada
por mais de 27 instituições, entre
elas o ISA, já está circulando em
Brasília e pela Internet pedindo a aprovação
da MP nº 239 (confira a íntegra abaixo).
Contando as organizações filiadas
à Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA),
mais de 300 entidades estão apoiando a mobilização.
A idéia é pressionar os parlamentares
pela aprovação da medida. Os responsáveis
pelo documento estão recomendando que todos
aqueles interessados na questão enviem-no
aos deputados por e-mail (veja lista abaixo).
“A eventual rejeição da MP nº
239 representará uma vergonha sem precedentes
para a sociedade brasileira às vésperas
da Conferência das Partes (COP) da Convenção
da Diversidade Biológica (CDB), que será
sediada aqui no Brasil, no ano que vem”, constata
André Lima. O advogado do ISA também
avalia que o Congresso Nacional não aprovou
nada de relevância estratégica e de
dimensão nacional para a proteção
da biodiversidade durante o mandato atual. “Esta
legislatura poderá entrar para a história
como uma das piores dos últimos 20 anos em
matéria socioambiental, infelizmente”.
Carta ao
Parlamento Brasileiro em 30 de maio de 2005
Assunto: Medida Provisória 239/05 - Áreas
Protegidas
As organizações
abaixo assinadas manifestam seu integral e veemente
apoio à aprovação na íntegra
e sem modificações da Medida Provisória
239/05 que “Acrescenta artigo à Lei no 9.985,
de 18 de julho de 2000, que regulamenta o art. 225,
§ 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição
Federal e institui o Sistema Nacional de Unidades
de Conservação da Natureza”, e cria
a figura da restrição administrativa
“provisória” de áreas em estudo para
criação de Unidades de Conservação,
onde houver risco justificado de degradação
dos atributos socioambientais que justificam a proteção
especial.
Trata-se de instrumento de extrema relevância
no plano dos compromissos brasileiros para com a
Convenção da Diversidade Biológica,
cuja Conferência das Partes será sediada
no Brasil no próximo ano.
As áreas de interesse para conservação
e uso sustentável da biodiversidade são
importantes sumidouros e estoques (reservatório)
de carbono, e consequentemente exercem papel valioso
no sistema climático. Por isso, tal medida
é consistente também com os compromissos
brasileiros no âmbito da Convenção
Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças
de Clima, assinada também em 1992 e cuja
ratificação foi aprovada pelo Congresso
Nacional em 1994.
Os dados de desmatamentos na Amazônia Legal
Brasileira anunciados pelo Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais na semana retrasada, assim como
a situação em que se encontram a Mata
Atlântica, o Cerrado e a Caatinga, que possuem
percentuais insignificantes de áreas protegidas,
mais que justificam a urgência e relevância
desse instrumento.
A aprovação desta Medida Provisória
merecerá destaque como uma das principais
respostas positivas do Congresso Nacional Brasileiro
(nesta legislatura) para a sociedade nacional e
para os demais signatários da Convenção
de Diversidade Biológica que, ressalte-se,
foi concebida no Brasil, em 1992 e ratificada por
este Congresso Nacional em 1994.
Vale destacar, por fim, que esta é a primeira
e única matéria legislativa de dimensão
nacional relacionada à conservação
da biodiversidade brasileira a ser apreciada, até
o presente momento, pelo Plenário do Congresso
Nacional durante esta legislatura, o que acentua
a importância estratégica e simbólica
dessa votação para o parlamento e
para a sociedade brasileira.
Diante do exposto, apelamos para o bom senso e o
espírito público dos parlamentares
e respectivos partidos políticos para que
esta MP seja aprovada tal como foi encaminhada pelo
Presidente da República.
Assinam esta
Carta:
Rede de Ongs da Mata
Atlântica (295 Ongs integrantes)
Ambiente Brasil
Amigos da Terra - Amazônia Brasileira (SP)
Apremavi (SC)
Associação Mineira de Defesa Ambiental
(MG)
Associação Movimento Ecológico
Carijós (SC)
Associação Mico-Leão-Dourado
(RJ)
Centro de Estudos Ambientais (RS)
Centro dos Trabalhadores da Amazônia (AC)
Crescente Fértil (RJ)
Federação das Entidades Ambientalistas
Potiguares (RN)
Federação de Entidades Ecologistas
Catarinenses (SC)
Fundação SOS Mata Atlântica
(SP)
Fundação Cebrac (DF)
Greenpeace (SP)
Imaflora (SP)
Instituto Centro de Vida (MT)
Instituto os Guardiões da Natureza
Instituto Socioambiental (ISA)
Instituto Ambiental Vidágua (SP)
Ipam - Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia
(PA)
Mater Natura - Instituto de Estudos Ambientais (PR)
Pequi – Pesquisa e Conservação do
Cerrado (DF)
4 Cantos do Mundo (MG)
Sociedade de Defesa do Meio Ambiente
Vale Verde - Associação de Defesa
do Meio Ambiente(SP)
Vitae Civilis - Instituto para o Desenvolvimento,
Meio Ambiente e Paz (SP)
WWF – Brasil (DF)
Lista de deputados
a quem enviar a carta
Líderes
de Bancadas dos Partidos
PT - dep.paulorocha@camara.gov.br
PMDB - dep.joseborba@camara.gov.br
PFL - dep.rodrigomaia@camara.gov.br
PP - dep.josejanene@camara.gov.br
PSDB - dep.albertogoldman@camara.gov.br
Bloco PL, PSL - dep.sandromabel@camara.gov.br
PTB - dep.josemuciomonteiro@camara.gov.br
PPS - dep.dimasramalho@camara.gov.br
PSB - dep.renatocasagrande@camara.gov.br
PDT - dep.severianoalves@camara.gov.br
PcdoB - dep.renildocalheiros@camara.gov.br
PV - dep.marceloortiz@camara.gov.br
Prona - dep.eneas@camara.gov.br
PL - dep.sandromabel@camara.gov.br
Lideranças
Governo - dep.arlindochinaglia@camara.gov.br
Minoria - dep.josecarlosaleluia@camara.gov.br
Bancada do
Pará
dep.anivaldovale@camara.gov.br
dep.annpontes@camara.gov.br
dep.asdrubalbentes@camara.gov.br
dep.baba@camara.gov.br
dep.jaderbarbalho@camara.gov.br
dep.josepriante@camara.gov.br
dep.josuebengtson@camara.gov.br
dep.niciasribeiro@camara.gov.br
dep.nilsonpinto@camara.gov.br
dep.raimundosantos@camara.gov.br
dep.vicpiresfranco@camara.gov.br
dep.wladimircosta@camara.gov.br
dep.zegeraldo@camara.gov.br
dep.zequinhamarinho@camara.gov.br
dep.zelima@camara.gov.br
dep.zenaldocoutinho@camara.gov.br
Bancada do
Amazonas
dep.atilalins@camara.gov.br
dep.carlossouza@camara.gov.br
dep.franciscogarcia@camara.gov.br
dep.humbertomichiles@camara.gov.br
dep.lupercioramos@camara.gov.br
dep.pauderneyavelino@camara.gov.br
dep.silascamara@camara.gov.br
dep.vanessagrazziotin@camara.gov.br
Fonte: ISA - Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Oswaldo Braga de Souza)