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NEGÓCIO APIMENTADO:
POVO BANIWA QUER RECICLAR TRADIÇÃO
MILENAR
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Maio de 2005
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24/05/2005 Povo
Baniwa quer reciclar tradição milenar
para transformar suas pimentas em pó em mais
uma boa alternativa para o desenvolvimento sustentável
das comunidades, desta vez valorizando o trabalho
das mulheres. O plano de negócio esteve entre
os finalistas do Prêmio Empreendedor Social
Ashoka McKinsey deste ano, entregue no dia 20 de
maio.
Os Baniwa, povo indígena da região
do rio Içana, no extremo noroeste da Amazônia
brasileira, querem oferecer mais uma pitada de sua
cultura para o País. Depois do sucesso de
suas cestarias - que hoje são reconhecidas
em todo o Brasil sob a etiqueta de Arte Baniwa -
chegou a vez da pimenta em pó, um dos mais
tradicionais condimentos da culinária da
etnia, ser objeto de um plano de negócios
da Organização Indígena da
Bacia do Içana (Oibi), entidade que representa
17 comunidades Baniwa. O plano foi apresentado na
sexta-feira passada, 20 de maio, durante a cerimônia
de entrega do Prêmio Empreendedor Social Ashoka
McKinsey 2004/2005, em São Paulo. E fez a
Oibi ficar entre as 10 organizações
sociais finalistas, de um total de 432 participantes.
A produção e comercialização
da pimenta em pó Baniwa conta com o apoio
do Instituto Socioambiental (ISA) e se insere no
projeto Arte Baniwa. O principal objetivo é
otimizar a infra-estrutura existente nas comunidades
e em São Gabriel da Cachoeira, onde fica
a sede da Oibi e seu entreposto comercial, para
a venda da cestaria e, assim, diluir os custos e
conseguir maiores ganhos para as comunidades - especialmente
àquelas menos envolvidas com a produção
e comercialização de urutus e tipitis.
"A idéia é priorizar as comunidades
onde o arumã (matéria-prima das cestarias)
não é forte", diz André
Baniwa, presidente da Oibi. "Assim a gente
evita que surjam desigualdades entre nosso povo".
André também ressalta outro importante
aspecto do projeto de pimenta em pó: incluir
as mulheres em um processo produtivo que possa aumentar
a renda e a auto-estima feminina. Isso porque, ao
contrário da cestaria de arumã, toda
ela tradicionalmente feita pelos homens, o cultivo
e preparação das pimentas é
um conhecimento próprio das mulheres Baniwa.
O projeto conta com a participação
até agora de 30 mulheres que, segundo o plano
da Oibi, produzem artesanalmente cada uma 7 quilos
de pimenta em pó por ano. Deste total, seis
quilos são consumidos pelas famílias
e o restante é vendido ou trocado ocasionalmente.
A meta do projeto é que cada pimenteira dobre
sua produção no primeiro ano de implementação
do negócio, o que deve ocorrer em 2006.
O plano da Oibi prevê para o próximo
ano a oferta das pimentas em pó para determinados
nichos de mercado no País, como restaurantes
e casas especializadas. Antes disso, o projeto prevê
a realização de pesquisas e estudos
sobre as propriedades físicas e potenciais
de uso dos mais de 39 tipos de pimenta encontrados
na região. Mais do que disputar espaço
em prateleiras e gondôlas de grandes supermercados,
a idéia do projeto é atingir um público
que consuma produtos com valor social e ambiental
agregado e esteja interessado na preservação
da agrodiversidade da floresta amazônica.
"A diferenciação da pimenta Baniwa
como um produto orgânico e solidário,
pelo consumidor, é fundamental para que o
negócio seja bem-sucedido, como vem ocorrendo
com a cestaria", avalia Natalie Unterstell,
integrante do Programa Rio Negro do ISA.
Sabor e proteção
A culinária
tradicional Baniwa utiliza a pimenta socada principalmente
como tempero para peixes. Sua importância,
contudo, vai além da condimentar. Os diversos
tipos de pimenta encontrados na região do
rio Içana são parte também
da mitologia do povo Baniwa, que utiliza o fruto
em rituais de iniciação dos meninos.
Nestes momentos, o óleo da pimenta é
passado nos rostos e corpos dos jovens para seu
embelezamento e purificação. "A
pimenta significa para nós uma grande proteção
contra maus-espíritos", diz André
Baniwa.
Fonte: ISA - Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa