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CONSTRUÇÃO
DE HIDRELÉTRICAS EM RONDÔNIA
CAUSARÁ IMPACTO AMBIENTAL “JAMAIS
VISTO”, DIZ AMBIENTALISTA
Panorama
Ambiental
Manaus (AM) – Brasil
Junho de 2005
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Os lagos formados
pelas barragens das usinas hidrelétricas
de Jirau e do Santo Antônio, que serão
construídas ao longo do rio Madeira, em Rondônia,
deverão ser maiores do que o sugerido nos
estudos de impactos ambientais realizados por técnicos
da Furnas Centrais Elétricas e da Construtora
Norberto Odebrechet. A declaração
é do doutor em Planejamente Energético
pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
e professor da Universidade Federal de Rondônia
(Unir), Artur de Souza Moret. "Os impactos
ambientais dessas obras terão uma dimensão
jamais vista na Amazônia."
Os estudos foram entregues hoje (30) ao Instituto
Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama). Segundo Moret, o princípio
fundamental da construção das duas
hidrelétricas é viabilizar a hidrovia
que permitirá escoar a soja do Mato Grosso
para a Bolívia e o Peru. "Mas naquele
trecho do rio Madeira há muitas cachoeiras.
Então ou haverá a construção
de novas barragens ou as duas barragens serão
mais altas, com uma área de inundação
maior. Ambas as opções são
ruins", avaliou.
O rio Madeira carrega muito sedimento, porque ainda
está em formação. Por isso,
segundo Moret, o trecho do rio anterior às
barragens ficará assoreado. "O rio Amazonas
também sofrerá impactos, porque o
Madeira é seu maior tributário em
termos de sedimentos", afirmou ele. Outro perigo
apontado por Moret é o de fazer vir à
tona o mercúrio depositado no fundo do Madeira,
fruto de atividades de garimpo. "Isso sem falar
na cidade de Porto Velho, que terá sua população
aumentada em pelo menos 50%, sem que haja infra-estrutura
para receber esses novos moradores", completou.
Porto Velho tem hoje 380 mil habitantes, segundo
estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE).
Ivaneide Cardozo, conselheira da associação
Canindé, uma entidade ambientalista de Porto
Velho, alertou para o fato de que há duas
unidades de conservação, de proteção
integral, próximas à área de
influência das duas hidrelétricas:
a Estação Ecológica Moji Canava
e a Estação Ecológica Serra
dos Dois Irmãos. Ela lembrou também
que as barragens inundarão sítios
arqueológicos indígenas e parte da
estrada de ferro Madeira-Mamoré. Mas, para
Ivaneide, os maiores impactos da construção
serão sociais. "A população
ribeirinha que vive do peixe, ao ser removida, viverá
do quê? Os empreendedores falam em geração
de empregos, mas quem será realmente beneficiado?
As grandes obras usam mão-de-obra barata
e só mantêm contratados os profissionais
mais qualificados."
As obras das usinas do Jirau e de Santo Antônio
deverão começar em junho e durar de
oito a dez anos. Elas serão construídas
ao longo do rio Madeira e distarão 130 quilômetros
e seis quilômetros, respectivamente, de Porto
Velho. As duas hidrelétricas terão
potencial para produzir 6,3 mil megawatts de energia
elétrica, o suficiente para tirar Rondônia
e Acre da dependência da energia térmica,
cuja matriz prioritário nos dois estados
é o diesel. Ambas estão inseridas
em um contexto que envolve dois outros grandes projetos,
formando um complexo de quatro usinas e uma malha
hidroviária de 4.200 quilômetros.
Fonte: Agência Brasil – Radiobras
(www.radiobras.gov.br)
Thaís Brianezi