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NOTA GTA E CNS SOBRE O
DESMATAMENTO DA AMAZÔNIA
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Junho de 2005
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Os dados da primeira
medição do desmatamento da Amazônia
Brasileira feita por satélites inteiramente
no governo Lula, entre agosto de 2003 e agosto de
2004, deixam estarrecidos mais uma vez a todos nós.
É frustante reconhecer que a destruição
provocada pelo "crescimento a qualquer preço"
está vencendo a esperança de políticas
de sustentabilidade no Brasil.
A medição expressou o que a gente
já sentia em campo: uma área de 26.130
quilômetros quadrados, correspondente em extensão
à área do estado de Alagoas convertida
de floresta em pasto, lavoura ou simplesmente destruida
de forma criminosa, representando uma perda irreparável
em biodiversidade e possibilidades de usos economicamente
e ambientalmente sustentáveis nesta vasta
região.
Nossa expectativa inicial era de que a ocupação
econômica da Amazônia realizar-se-ia
de forma ordenada e planejada, buscando minimizar
impactos sobre a biodiversidade. E sobretudo maximizar
a promoção social e econômica
do amplo leque de produtores familiares amazônidas
- que já praticam o uso sustentável
dos recursos naturais, mas carecem de políticas
consistentes para a valorização econômica
da sua produção com maiores ganhos
de escala.
São inaceitáveis principalmente as
taxas do desmatamento em Mato Grosso e Rondônia,
os únicos estados onde os números
apontam um acréscimo astronômico das
áreas devastadas. É preocupante que
o Estado do Mato Grosso, equipado com o mais sofisticado
sistema de monitoramento para detecção
de conversão florestal, não consiga
elaborar uma política eficiente para o combate
ao desmatamento ilegal. Este paradoxo levanta dúvidas
sobre a seriedade e responsabilidade de suas políticas
ambientais.
Essa responsabilidade deve ser cobrada também
ao Estado de Rondônia, que apresenta um grande
volume de denúncias de envolvimento de administradores
públicos, políticos e empresários
na promoção de invasões em
áreas protegidas e terras indígenas.
Agravando-se com as últimas notícias
de um cenário onde o governo encontra-se
refém de interesses particulares, negociando
propinas em meio a uma grande crise institucional.
Não podemos aceitar que o ônus do desmatamento
seja creditado apenas ao Ministério do Meio
Ambiente, considerando o atual orçamento
destinado ao mesmo e a forma leviana como se abordam
os aspectos sociais e ambientais, especialmente
na condução da política econômica
do país. Os números sobre o desmatamento,
que hoje estarrecem a todos, amanhã são
comemorados como mais um recorde na exportação
de soja, de minérios, de madeira - atividades
estimuladas pelo volume de exportações
necessário para o Governo Federal atingir
as metas de superávit primário.
Os planos de controle do desmatamento, de áreas
protegidas, de ordenamento fundiário e de
fomento aos negócios sustentáveis,
atribuídos de forma irrealista ao Ministério
de Meio Ambiente, vão todos para segundo
plano ao serem objeto de seguidos contingenciamentos,
apesar de representarem esforços louváveis
e bem intencionados. A demanda para a criação
e implementação de reservas extrativistas
e outras áreas destinadas para as comunidades
locais, tradicionais e indígenas continua
muito acima do ritmo de sua implantação
nos diversos ministérios responsáveis.
Este é um momento decisivo na história
da ocupação da Amazônia. A área
total desmatada ultrapassa 17% da região,
aproximando-se de uma marca simbólica de
20%, estipulada pelo Código Florestal como
área máxima para o desmatamento de
uma propriedade rural na Amazônia.
Esses números exigem uma séria reflexão
conjunta do governo federal, incluindo todos os
seus ministérios e a Presidência, na
busca de soluções que apontem o desenvolvimento
sustentável. Exigem também que a sociedade
se manifeste em favor da sustentabilidade, alterando
práticas de produção e consumo
insustentáveis e boicotando empresas e corporações
destruidoras das florestas e de nossas vidas.
A derrubada da floresta para a produção
de carne, grãos, madeira, minérios
ou hidrelétricas não é seu
destino inevitável. Em muitos lugares as
alternativas para isso existem na forma de frutos,
peixes, óleos, manejo, biomassa, tecnologia,
pesquisa, conhecimentos tradicionais e organização
social. Em muitos lugares a curva da devastação
já está mudando de direção.
É preciso que a sociedade e os governos se
reorganizem para estimular e desenvolver estas iniciativas.
O desmatamento está na estrutura do atual
modelo de crescimento do país. Mais do que
nunca, é preciso decidir hoje sobre o futuro
do nosso patrimônio natural e humano. A reversão
dessa curva ascendente exige a consciência
imediata de todos - e principalmente de setores
governamentais e empresariais - de que a perda de
floresta é uma ameaça estratégica
ao Brasil.
Conclamos cidadãos e cidadãs deste
país para se posicionarem contra a destruição
das florestas e das nossas vidas e em favor de alternativas
sustentáveis de desenvolvimento.
REDE GTA - GRUPO
DE TRABALHO AMAZÔNICO
CNS - CONSELHO NACIONAL DOS SERINGUEIROS
Fonte: GTa – Grupo de Trabalho
Amazônico (www.gta.org.br)
Assessoria de imprensa