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QUILOMBOLAS DE CAÇANDOCA,
NO LITORAL PAULISTA, OBTÊM VITÓRIA
NA JUSTIÇA E RECONHECIMENTO DE SUAS
TERRAS
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Junho de 2005
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03/06/2005 Medida
cautelar expedida pelo Tribunal de Justiça
de São Paulo impede expulsão da comunidade
tradicional de suas terras e Portaria do Incra dá
início ao processo de desapropriação
para a regularização fundiária
do quilombo.
A comunidade quilombola de Caçandoca, no
litoral norte de São Paulo, respira aliviada.
Nesta quarta-feira, 2 de junho, o Tribunal de Justiça
de São Paulo suspendeu a decisão judicial
que determinava a expulsão das 60 famílias
que vivem na área. A decisão se baseava
na revalidação, em abril passado,
de uma liminar concedida em 1998 à Urbanizadora
Continental por um juiz da comarca de Ubatuba. A
suspensão da liminar foi tomada após
a Fundação Instituto de Terras do
Estado de São Paulo (Itesp) ter entrado,
na semana passada, com medida cautelar na Justiça
para impedir a expulsão iminente das famílias.
Outro motivo de alívio para os remanescentes
do antigo quilombo de Ubatuba surgiu ontem, com
a publicação no Diário Oficial
da União da Portaria número 23/05,
do Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária (Incra), reconhecendo a
área em disputa como território quilombola.
O quilombo de Caçandoca tem, de acordo com
reconhecimento do Incra, 890 hectares e está
localizado em uma das mais valorizadas praias do
litoral norte de São Paulo, na qual incidem
pelo menos 3 propriedades supostamente particulares,
uma delas da incorporadora Continental, responsável
pela construção de um condomínio
de luxo na praia vizinha à de Caçandoca,
a do Pulso.
A dupla vitória da comunidade de Caçandoca
se deu na mesma semana em que ela recebeu a visita
de lideranças quilombolas do Vale do Ribeira,
no sul do estado de São Paulo. O encontro,
na terça-feira 31 de maio, tratou de definir
estratégias para a defesa dos direitos das
comunidades remanescentes de quilombo em todo o
estado.
Vizinhas de casas de veraneio de alto padrão,
as famílias que vivem na praia e sertão
de Caçandoca são descendentes de escravos
fugidos e ex-escravos de uma antiga fazenda de café
que existia na região e vivem, ainda hoje,
sem energia elétrica, água encanada
e saneamento básico. Há décadas
enfrentam pressões e ameaças para
abandonar suas terras. A maioria dos turistas que
visita a praia de Caçandoca sequer confere
à comunidade local seu devido valor histórico.
A portaria do Incra desta semana finalmente dá
início ao processo de desapropriação
das terras para a titulação do quilombo.
O caso de Caçandoca e o do quilombo de Cafundó,
na região de Sorocaba, no interior paulista,
também em processo de desapropriação,
são as primeiras ações do Incra
no estado de São Paulo em favor da regularização
fundiária de remanescentes de quilombo.
O processo de desapropriação de Caçandoca
agora aguarda a manifestação dos demais
envolvidos, como a incorporadora Continental, e
corre em paralelo à Ação Discriminatória
movida pelo governo do estado desde 1999 para definir
se o título de propriedade da empresa é
autêntico ou se, na verdade, toda a área
em disputa é pública. O Incra afirma
que a desapropriação ocorrerá
inevitavelmente, seja pelo pagamento de indenização,
no caso das terras serem de fato privadas, ou não.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Bruno Weis)