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YANOMAMI PEDEM AO EXÉRCITO
QUE PROTEJA SUA TERRA
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Junho de 2005
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Os Yanomami querem
o Exército como parceiro na defesa das fronteiras
do país e no combate às invasões
de suas terras. Esse desejo foi manifestado pelos
líderes da região do Demini ao Comandante
da 1ª Brigada de Infantaria de Selva, General
Paulo Studart que, a convite de Davi Kopenawa, visitou
no último dia 11 de maio a Maloca de Watoriki
, juntamente com oficiais militares, representantes
da Igreja, da Funai e da Funasa. O grupo foi acompanhado
pelo representante da Comissão Pró-Yanomami
(CCPY) em Roraima, Ednelson Souza Pereira, e da
coordenadora pedagógica do Projeto de Educação
Intercultural (PEI) da CCPY, Ângela Kurovski.
"Eu não quero a roupa de vocês,
eu gosto de me vestir como Yanomami. Eu quero apenas
ser Yanomami e viver sem medo dos garimpeiros na
minha casa. Eu quero que o Exército ajude
a proteger os Yanomami", declarou ao General
o ancião Justino Yanomami num discurso traduzido
para o português pelos professores yanomami
Dário e Anselmo.
Além de lideranças tradicionais, vários
professores e agentes yanomami de saúde destacaram
a importância de preservar a Terra Indígena
e o papel que o Exército pode ter nessa preservação.
Para eles, quando o Exército protege as fronteiras
e vigia a região, controlando a presença
de invasores não indígenas, ele também
ajuda a resguardar o Povo Yanomami e pode contar
com a sua parceria.
Davi Kopenawa deixou claro ao General Studart que
os Yanomami não são em princípio
contrários às obras de ampliação
da pista de pouso de Surucucus. No entanto, querem
que sejam definidas medidas cuidadosas de proteção,
em particular, no que se refere à saúde
e ao meio ambiente, e seja estabelecido o prazo
mais curto possível para a construção.
"Nós temos medo que venha gente brava,
que traga doenças. Nós não
somos contra o Exército proteger a fronteira,
como muitas vezes dizem por aí. Pelo contrário,
proteger a fronteira das invasões é
bom para os Yanomami. Nós ajudamos a proteger
a fronteira, expulsamos muitos garimpeiros daqui,
mas nós temos medo das doenças dos
brancos", afirmou Davi, que fez ainda um apelo
ao oficial: "Você tem um coração
bom, vem conversar com os Yanomami, queremos que
você fale sobre nossas preocupações
para o general que vai substituir você".
Garantiu também que o interesse dos Yanomami
em defender as florestas como patrimônio do
Brasil é o mesmo dos militares.
Davi reafirmou que as declarações
de que os Yanomami têm interesse em criar
um estado separado com o apoio de estrangeiros não
passam de mentiras de quem quer destruir e roubar
a floresta por conta própria. Pediu ao General
que não deixe as crianças não
indígenas acreditar nessas inverdades que
continuam alimentando ódio e desconfiança
contra os povos indígenas. Para Davi, são
essas mentiras propagadas por interesses econômicos
escusos que insuflam o preconceito da população
de Roraima contra os povos indígenas.
Na reunião, o General Paulo Studart reafirmou
seu apoio às iniciativas dos Yanomami e também
aos trabalhos realizados por aqueles que os apóiam.
O representante da CCPY, Ednelson Pereira, resumiu
para os convidados a atuação da entidade
desde a sua criação em 1978. A maior
preocupação da CCPY, afirmou Ednelson,
é com a garantia da integridade física
e cultural dos Yanomami, garantia que passa pela
defesa de sua terra. Acrescentou que o papel fundamental
da entidade é preparar os Yanomami para a
defesa autônoma dos seus interesses e direitos
através de educação, capacitação
e apoio às associações yanomami.
A coordenadora pedagógica, Ângela Kurovski,
apresentou o Programa de Educação
da CCPY e o seu empenho em formar jovens professores
yanomami e garantir o acompanhamento pedagógico
das escolas na terra indígena.
No encontro, Fátima Yanomami, esposa de Davi
Kopenawa, em nome das mulheres da comunidade, destacou
a importância do papel feminino como pilar
da continuidade da sociedade yanomami e salientou
também aí a importância da preservação
da terra indígena: "Nós queremos
que o Exército ajude a proteger nossa terra,
nossa floresta, para que nossos filhos cresçam
sem doenças e sem mortes", afirmou e
pediu a atenção especial dos visitantes
para que reparassem como as crianças da aldeia
estavam sadias, acrescentando: "Nós
não queremos que os brancos formem vilas
aqui, pois nossos filhos poderão pegar doenças
e morrer".
Fonte: Comissão Yanomami
(www.proyanomami.org.br)
Assessoria de imprensa