 |
ARTIGO: PRESERVAR DÁ
LUCRO
Panorama
Ambiental
Curitiba (PR) – Brasil
Junho de 2005
|
 |
09/06/2005 Em seis
hectares, e com um rio no meio, um produtor rural
do Paraná pode receber até R$800,00
ao mês e manter sua propriedade preservada
e dentro da lei. Hoje, uma pequena propriedade convencional
não rende ao agricultor paranaense R$500,00
mensais, segundo o último senso do IBGE.
Não há mágica.
Exemplo: em seis hectares, planta-se a Reserva Legal
de 1,2 hectares e a Mata Ciliar, de um hectare.
Nos outros três hectares, 80% de exóticas
e 20% de nativas. Os quase um hectare restantes
são para a habitação, circulação
e plantio de alimentos de uso familiar. Contando
um período de 30 anos, haverá dois
ciclos de madeira para corte e renda através
do seqüestro de carbono, dentro do Protocolo
de Kyoto. Em 30 anos, a renda da madeira será
de R$200.000,00 e a renda do seqüestro de carbono,
R$45.000,00. A renda total, R$245.000,00. O eqüivalente
a R$800,00 ao mês. Um incremento médio
de 60% sobre os ganhos históricos de propriedades
semelhantes.
No Paraná, 86% das 375.000 propriedades existentes
são de até 50 hectares. Falo então,
de 322.000 propriedades.
Não é pouco.
Além disso, a ecologia ensina que, quanto
mais equilibrado, mais produtivo é um ecossistema.
Uma propriedade com pouca cobertura vegetal submete-se
a ventos mais velozes. Ventos fortes alteram o regime
das chuvas. Chuvas alteradas alteram-se as temperaturas
locais. A conseqüência é um microclima
absolutamente caótico. Também a pouca
cobertura vegetal, provoca a erosão. Pelos
ventos e pelas chuvas, o precioso solo e seus minerais
esvaem-se para dentro das águas. O solo torna-se
pobre e o rio, assoreado. As águas barrentas
impedem a entrada da luz solar. No escuro, as plantas
aquáticas desaparecem e com elas os peixes
herbívoros. Logo depois, os carnívoros.
Na ânsia de recuperar o solo, o agricultor
gasta mais dinheiro com fertilizantes. Na tentativa
de proteger-se de pragas que, sobrevém com
os desequilíbrios, se gasta também
com agrotóxicos.
Não é por acaso que, na região
noroeste do estado, já se encontram níveis
de nitrato no subsolo 80 vezes o máximo permitido!
E, nestas inimagináveis quantidades, os nitratos
podem ser cancerígenos.
Assim, o agricultor perde duas vezes: perde recursos
naturais (solo, água, peixes) e perde quando
gasta mais para repor o que deixou perder.
A propriedade produzirá ainda por muitos
anos, mas, a que preço? A propriedade continuará
existindo ainda mas, por quanto tempo?
Todavia, não é só dinheiro
a moeda da qual os lucros são feitos. Lucro
também é uma longevidade maior. Viver
mais e viver bem, talvez seja o lucro maior da existência
humana.
Como, entretanto, manter esta perspectiva em um
microclima afetado, sob agonizantes nuvens de agrotóxicos
e fertilizantes?
Lucra-se também quando se economiza. E, pode-se
economizar com médicos, exames, remédios,
pulverizadores, fertilizantes, agrotóxicos,
equipamentos de proteção individual,
menos dias de trabalho perdidos, quando se trata
de viver no campo sob uma opção diferente.
Até porque, a economia é causa e conseqüência
de uma vida saudável.
Assim, não só por uma visão
ambientalista (o que já bastaria) mas, até
por uma lógica capitalista, preservar dá
lucro.
Hoje, o Paraná alvoroça-se sob o calor
das chamas de uma discussão estéril:
a criação de áreas de preservação
de florestas, que pretendem garantir pouco do muito
que já se foi.
Até quando vamos imaginar que a quebra da
safra deste ano e do ano passado é obra do
acaso?
Já passou da hora de se constatar que devemos
recompor parte do equilíbrio original natural
do estado, se não quisermos o Paraná
somente para agora.
Se, o Dia Mundial do Ambiente, que comemoramos hoje,
servir para esta reflexão, ele já
terá valido a pena.
Afinal, queremos o Paraná para hoje e para
sempre.
Luiz Eduardo Cheida
Secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos
do Paraná
Fonte: Secretaria Estadual do
Meio Ambiente do Paraná (http://www.pr.gov.br/meioambiente/index.shtml)
Assessoria de imprensa