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FUNAI EM MANAUS TERÁ
CHEFE INDÍGENA
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Junho de 2005
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06/06/2005 Os protestos
surtiram efeito. A ocupação do escritório
da Fundação Nacional do Índio
(Funai) de Manaus (AM) por mais de 300 índios,
durante todo o mês de janeiro passado, tinha
como principal reivindicação o afastamento
do então administrador regional e uma maior
participação dos povos indígenas
na gestão do órgão. Na sexta-feira
passada, 3 de junho, a Funai anunciou Pedro Garcia,
da etnia tariano e uma das principais lideranças
indígenas do estado, como novo chefe do órgão
na capital amazonense. A nomeação
de um líder indígena é inédita
no Amazonas, estado com 4,26% de sua população
de origem indígena (censo IBGE 2000). Técnico
em agro-pecuária, ex-presidente da Federação
das Organizações Indígenas
do Rio Negro (Foirn) e candidato derrotado à
prefeitura de São Gabriel da Cachoeira pelo
Partido dos Trabalhadores, Pedro Garcia falou com
o ISA sobre sua missão à frente da
Funai em Manaus, os principais problemas a serem
enfrentados, o preconceito inclusive.
ISA - Como você
recebeu a notícia da nomeação?
Pedro Garcia - Soube pelo jornal, mas ainda não
fui comunicado oficialmente. Apesar do meu nome
estar na lista, não imaginava que seria nomeado.
Agora tenho muito que conversar com o pessoal pois
a Funai é um órgão muito problemático.
Qual o principal
problema a ser enfrentado?
A política indigenista do governo federal
não é clara, e uma boa administração
em Manaus vai depender de uma definição
desta política. Nossa idéia é
termos uma ponte com o governo federal e discutir
uma política realmente voltada para os povos
indígenas.
Quais são
as questões regionais mais urgentes?
Temos que criar programas de trabalho para melhorar
as condições de vida das comunidades.
Em primeiro lugar vem a segurança alimentar,
que é o principal problema em muitos lugares.
O investimento em educação indígena
também deve ser priorizado, assim como o
trabalho pela legalização das terras
indígenas que hoje estão sem proteção.
Temos que acabar com a visão de que a demarcação
de terras indígenas atrapalha o desenvolvimento
regional. Ela só atrapalha os interesses
de quem disputa terra com os índios.
Quais mudanças
você pretende realizar na gestão da
Funai em Manaus?
Minha primeira idéia é democratizar
a administração, deixá-la menos
verticalizada. Temos que ouvir mais as lideranças
de cada povo, de cada comunidade, incentivar a participação
de todos nas decisões e na busca de consensos
que possam redirecionar a política indigenista
no estado. O modelo atual, muito vertical, não
atende as necessidades da maioria.
Como você vê
sua relação com outras etnias da região
de Manaus?
Temos onze municípios sob a administração
da Funai de Manaus, muitos deles habitados pelos
povos Murá e Munduruku. Eu nunca tive problemas
com nenhum deles nem com liderança de povo
algum. Como participo do PPTAL – Projeto Integrado
de Proteção às Terras e Populações
Indígenas da Amazônia Legal Brasileira
- , acompanho os processos de demarcação
de terras e isso me deixa próximo aos outros
povos. Como as experiências nos últimos
anos foram muito ruins, acho que todos vão
estar dispostos a melhorar.
Como você vai
lidar com os funcionários não-indígenas
da Funai?
Tenho que ter muita tranqüilidade para assumir
o cargo, pois quero estabelecer boas relações
como todos. Uma das primeiras coisas a fazer é
visitar os 11 postos da Funai na região e
ouvir as necessidades dos funcionários. Tenho
também que analisar as questões internas
do órgão, como a falta de recursos,
que, sem dúvida, é um outro grande
problema. A ocupação em janeiro evidenciou
isso. Acredito que só com um bom planejamento
poderemos aproveitar o que temos da melhor maneira,
visitando as comunidades com mais freqüência
e, assim, evitar o isolamento da Funai, tão
criticado.
Teme sofrer algum
tipo de preconceito?
A resistência dos não-indígenas
sempre existiu, ainda que muitas vezes de forma
velada. Vamos superar estas dificuldades. Tem muita
gente que faz provocações para gerar
alguma crise, mas vou colocar a cabeça para
a funcionar. Quem reclamar que “está sendo
mandado por um índio” precisa entender que
as coisas mudaram muito e todos têm que perceber
isso. Faz parte da atualização da
questão indígena.
Você pretende
conversar com o presidente da Funai sobre a falta
de recursos?
Tenho que ir à Brasília para um treinamento
em gerência, que vai ser muito importante,
e quero aproveitar para manter contato com o presidente
da Funai no sentido de ampliar o orçamento
para 2006.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Bruno Weis)