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GOVERNO BRASILEIRO REJEITA
ROTULAÇÃO MAIS RIGOROSA DE
TRANSGÊNICOS NO COMÉRCIO INTERNACIONAL
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Junho de 2005
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08/06/2005 O Brasil
e a Nova Zelândia foram os únicos paises
que se opuseram à adoção de
regras claras para a identificação
de alimentos e outros produtos transgênicos
exportados. A divergência veio a público
durante a plenária final da II Conferência
das Partes Signatárias do Protocolo de Cartagena
sobre a Biossegurança, no último dia
3 de junho, em Montreal, no Canadá. A decisão
de rotular os produtos transgênicos comercializados
internacionalmente de forma mais explícita
foi rejeitada porque precisava da aprovação
de todos os países representados no evento
para sair do papel.
Com isso, as negociações para tornar
mais rigorosas a rotulagem foram paralisadas. Continua
valendo, portanto, a regra pela qual cada carregamento
de um produto traz apenas a inscrição
genérica “pode conter” (may contain) transgênicos.
O encontro de Montreal foi realizado especificamente
para discutir o manuseio, transporte, embalagem
e identificação de produtos transgênicos
destinados ao consumo, por exemplo, em alimentos
e rações veterinárias. A intenção
do evento era chegar a um consenso para que a rotulagem
especificasse a quantidade e que tipo de transgênico
cada carga contém.
Por conta da divergência, o evento foi considerado
um fracasso. Ao contrário da posição
manifestada no Canadá, a legislação
brasileira exige a rotulagem de produtos transgênicos
(saiba mais). Além disso, a obstrução
do acordo está sendo entendida como indicador
de dificuldades nas negociações futuras
sobre o tema. Desta forma, criou-se certo constrangimento
para o Brasil, que irá sediar, em março
do ano que vem, em Curitiba(PR), a VIII Conferência
das Partes (COP) da Convenção da Diversidade
Biológica e a III Conferência das Partes
Signatárias do Protocolo de Cartagena sobre
a Biossegurança.
A delegação brasileira presente à
Conferência em Montreal, na verdade, seguiu
a posição adotada pela Nova Zelândia,
que é o porta-voz do chamado “Grupo de Miami”,
conjunto de sete países que defendem a maior
liberalização possível no comércio
de transgênicos. Acusada de ter sido influenciada
pelo lobby das grandes empresas de biotecnologia
e condenada por um manifesto de organizações
da sociedade civil latino-americanas (confira abaixo),
a posição brasileira também
foi classificada de inusitada e retrógrada
pelos outros países representados no encontro.
“A implementação do Protocolo tem
que ser feita passo-a-passo, seguindo um ritmo adequado
e realista, em um processo que exigirá muita
negociação”, afirmou o representante
do governo brasileiro, ministro Hadil Fontes da
Rocha Vianna. Ele surpreendeu a todos ao concluir
seu discurso com uma acusação genérica
e vaga, afirmando guardar "fortes reservas"
quanto à maneira como a reunião foi
conduzida. Vianna não fez nenhuma referência
à proteção da megabiodiversidade
brasileira e ao princípio da precaução,
que indica que quando não se conhece exatamente
as conseqüências ambientais e sanitárias
do consumo e da produção de um produto,
ele não deve ser comercializado enquanto
não forem feitas pesquisas que comprovem
a sua viabilidade.
Depois da fala do diplomata brasileiro, os 25 países
da União Européia, seguidos pelo México
e Panamá, criticaram e lamentaram o fracasso
da reunião, justamente no ponto mais central
para a implementação do Protocolo.
Nos fóruns internacionais sobre o tema, existe
a expectativa que o Brasil assuma a liderança
e a defesa dos interesses das chamadas nações
megadiversas (com as maiores diversidades biológicas
do mundo). Os Organismos Geneticamente Modificados
(OGMs) são considerados uma ameaça
à biodiversidade. Com a posição
adotada em Montreal, o Brasil isolou-se do grupo
dos megadiversos nas discussões da Convenção
sobre a Diversidade Biológica (CDB). Ao mesmo
tempo, também se espera que o País
enfrentará a oposição explícita
de todos os outros membros do "G-20",
grupo importante para o Brasil nas negociações
da Organização Mundial do Comércio
(OMC) formado, entre outros, por Egito, Índia,
China, África do Sul, México e Malásia.
“A posição brasileira nas discussões
internacionais sobre meio ambiente está sendo
desmoralizada paulatinamente. Tanto a Lei de Biossegurança,
quanto a ação do governo federal em
outros temas, como no caso dos desmatamentos, vem
contribuindo para isso,” alerta Jean Marc von der
Weid, coordenador da campanha Por um Brasil Livre
de Transgênicos. Ele conta que, apesar do
prestígio da ministra Marina Silva funcionar
como uma espécie de blindagem, as organizações
ambientalistas internacionais começam a virar
suas baterias contra o governo Lula.
Declaração lida em Montreal no final
da tarde do dia 2 de junho por representante das
ONGs latinoamericanas, no Grupo de Trabalho I, sobre
o manuseio, transporte, embalagem e identificação
de OGMs, Artigo 18-2(a) do Protocolo de Cartagena.
2º Encontro das Partes do Protocolo de Biossegurança,
Montreal, 2 de junho de 2005.
Nós, das organizações da sociedade
civil na América Latina, que acompanhamos
o processo da Segunda Reunião das Partes
do Protocolo de Biossegurança esta semana
em Montreal estamos frustrados e perplexos com as
posições da delegação
do Brasil. A atitude desse país reflete um
profundo desdém pelas graves preocupações
científicas com o ambiente e a saúde
humana, que deram origem ao surgimento da Convenção
da Biodiversidade e ao Protocolo de Biossegurança.
Hoje apresentamos esta declaração
porque a Delegação do Brasil precisa
comércio. É desolador constatar o
recente alinhamento das posições do
Brasil com as delegações de países
que não são Partes do Protocolo, e
membros do desgastado "Grupo de Miami",
grupo minoritário dos principais países.
Neste contexto, instamos à delegação
do Brasil para que reconsidere suas atitudes e que
pare de bloquear o consenso emergente sobre os instrumentos
para a implementação do Artigo 18-2(a),
e que o Brasil volte a se unir aos outros países
que trabalham para construir um regime eficaz para
a biossegurança. Esta mudança de atitude
é urgente e a única cabível
para o país anfitrião da 3ª Reunião
das Partes do Protocolo em 2006.
Instituto Brasileiro
de Defesa do Consumidor, Brasil (IDEC)
Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura
Alternativa, Brasil (AS-PTA)
Greenpeace, Brasil
Greenpeace, México
Terra dos Direitos, Brasil
Amigos da Terra, Costa Rica (Coecoceiba)
Amigos da Terra, El Salvador (Cesta)
Amigos da Terra, Guatemala (CEIBA)
Amigos da Terra, Nicarágua (Centro Humboldt)
Amigos da Terra, Honduras (Madre Tierra)
Associação de Ecologia Social, Costa
Rica
Fundação Sociedades Sustentáveis,
Chile
Redes, Uruguai
Acción Ecológica, Equador
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Oswaldo Braga de Souza)
Colaborou David e Gisela Hathaway