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STJ NEGA PEDIDO DE FEDERALIZAÇÃO
DO CASO IRMÃ DOROTHY
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Junho de 2005
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08-06-2005 - O Superior
Tribunal de Justiça (STJ) negou hoje o pedido
de federalização das investigações
e do julgamento do crime contra a missionária
Dorothy Stang, ocorrido em 12 de fevereiro, em Anapu,
no Pará. Por unanimidade, os 8 ministros
do STJ responsáveis pelo julgamento do pedido
de federalização decidiram manter
a competência de inquéritos e processos
sobre o caso na esfera estadual.
A negação do pedido de federalização
pelo STJ frustrou e indignou a sociedade civil organizada.
Para o Greenpeace, o resultado é uma derrota
à defesa dos Direitos Humanos. "É
lamentável que juízes que ignoram
completamente a realidade de violência e impunidade
no Pará mantenham a competência da
Justiça estadual para continuar julgando
este caso", disse Carlos Rittl, do Greenpeace.
"Se o STJ não acatou o pedido de federalização
num caso tão óbvio de violação
aos direitos humanos, quando isso vai acontecer?
Este resultado torna sem efeito um importante avanço
obtido no ano passado com a reforma do Judiciário
e condena a Amazônia e seus habitantes ao
estado de violência e opressão".
"Este resultado é uma grande demonstração
de conservadorismo", disse Dom Tomás
Balduíno, da CPT. "O corporativismo
dos juízes teve um peso muito maior do que
a defesa dos direitos humanos. A preocupação
com a instituição que representam
é tão grande quanto seu desconhecimento
sobre a atuação da Justiça
no estado do Pará".
Os juízes que negaram o pedido de federalização
do caso argumentaram que as estatísticas
sobre a Justiça do Pará são
baseadas em fatos passados e que, neste caso, a
atuação da Justiça estadual
foi eficiente, com a prisão dos suspeitos
em tempo recorde.
Darci Frigo, advogado da organização
Terra de Direitos, rebate a argumentação:
"A Justiça do Pará se apressou
na condução das investigações
justamente porque o pedido de federalização,
feito pelo Procurador-Geral da República
Claudio Fonteles, já havia sido feito. Foi
isso que motivou sua atuação, mas
na grande maioria dos casos, a Justiça do
Pará é lenta e omissa".
Segundo a Comissão Pastoral da Terra, quase
mil líderes comunitários foram mortos
entre 1985 e 1996. Até o ano passado, apenas
cinco pessoas envolvidas nestes crimes haviam sido
presas.
Para o Procurador Federal da República em
Belém, Felício Pontes, faltou uma
reflexão dos juízes que julgaram o
caso sobre a atuação da Justiça
do Pará ao longo do tempo. "Estes juízes
deveriam se questionar sobre o porquê a sociedade
civil brasileira defende a federalização",
disse o procurador.
Padre Amaro, que trabalhou junto com Irmã
Dorothy em Anapu nos últimos 14 anos e estava
em Brasília, criticou a decisão do
STJ. "A Justiça que negou proteção
à Irmã Dorothy dois dias antes de
seu assassinato é a mesma que vai continuar
responsável pelo julgamento do caso",
disse.
Ontem (07/06), no dia em que Irmã Dorothy
completaria 74 anos de vida, cerca de 250 pessoas
se reuniram em frente ao Palácio do Planalto,
em Brasília, para pedir paz na floresta e
a presença contínua do Estado na Amazônia.
Em audiência com o presidente do STJ, o ministro
Edson Vidigal, representantes de ONGs e movimentos
sociais discutiram a urgência de federalização
do caso.
Irmã Dorothy acreditava em um futuro pacífico
e sustentável para a Amazônia e defendia
como poucos o patrimônio nacional dos ataques
de grileiros, além de lutar incansavelmente
por uma forte presença do Estado na região.
Dedicou quase metade de sua vida para dar voz às
comunidades rurais na Amazônia, defendendo
o direito à terra e lutando por um modelo
de desenvolvimento sem destruição
da floresta.
Fonte: Greenpeace-Brasil (www.greenpeace.org.br)
Assessoria de imprensa