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GRILAGEM TAMBÉM
É FATOR DE DESMATAMENTO NO MATO GROSSO,
DIZ GEÓGRAFO DA USP
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Junho de 2005
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15/06/2005 Ariovaldo
Umbelino de Oliveira afirma numa conferência,
em Alta Floresta (MT), que problema fundiário
no Mato Grosso continua em aberto e segue influenciando
decisivamente a dinâmica do desmatamento no
Estado, junto com a indústria madeireira
e a pecuária.
Durante a conferência “Transformações
socioambientais no Mato Grosso”, realizada em 10
de junho, último dia do III Festival Ecológico
e Cultural das Águas de Mato Grosso, em Alta
Floresta (MT), o professor de Geografia Agrária
da Universidade de São Paulo (USP), Ariovaldo
Umbelino de Oliveira, afirmou que o problema fundiário
no Mato Grosso não só continua em
aberto como também segue influenciando de
forma decisiva a dinâmica do desmatamento
no Estado, que é o campeão nacional
no corte indiscriminado da floresta. Mais do que
isso, Umbelino aponta que cerca de 90% dos títulos
de terra na região não resistiriam
a uma investigação jurídica
mais aprofundada.
No Pará, por exemplo, onde estão localizadas
algumas das maiores frentes de desmatamento na Amazônia,
a grilagem de terras é reconhecida como o
principal fator de estímulo à devastação
da floresta. Oliveira afirma, que exatamente assim
como acontece naquele Estado e apesar de algumas
variações locais, o tripé grilagem,
indústria madeireira e pecuária continua
sendo o mais significativo vetor para a expansão
do desmatamento no Mato Grosso.
“O Estado tem 22 milhões de hectares de terras
devolutas e algo entre dois e três milhões
de hectares em propriedades do Incra, que estão
todas cercadas e ocupadas”, denuncia o geógrafo.
Ele explica que muitas dessas áreas estão
localizadas no “coração” do agronegócio,
nos municípios de Primavera do Leste, Lucas
do Rio Verde e Sorriso, situados no nordeste mato-grossense.
Oliveira é responsável por pesquisas
importantes sobre o processo de ocupação
do território no norte do Estado, entre eles
sua tese de livre docência e um trabalho desenvolvido
sob encomenda do Grupo de Trabalho Interministerial
(GTI) que coordena a pavimentação
da rodovia BR-163 (Cuiabá-Santarém).
O pesquisador avalia ainda que o problema ambiental
no Mato Grosso decorre do próprio modelo
de ocupação e de propriedade imposto
pelo agronegócio. Por outro lado, defende
também uma ação mais agressiva
do governo federal no Estado tanto para coibir os
crimes ambientais quanto para garantir o direito
à terra das comunidades locais, priorizando
populações indígenas, quilombolas
e trabalhadores rurais sem terra.
“A obrigação do Presidente da República
é colocar na cadeia quem desrespeita as leis,
como aconteceu com o presidente da Fema-MT (Fundação
Estadual do Meio Ambiente), Moacir Pires."
Ariovaldo Umbelino julga que uma parte da responsabilidade
sobre o escândalo envolvendo a Fema e o Ibama
no Mato Grosso deve ser atribuída ao governador
Blairo Maggi (PPS). Na semana retrasada, a Polícia
Federal deflagrou a operação Curupira
em que 78 pessoas foram presas acusadas de fazer
parte de uma quadrilha de exploração
ilegal de madeira, várias delas funcionárias
dos dois órgãos ambientais.
O Festival de Alta Floresta reuniu quase três
mil pessoas – entre pesquisadores, especialistas,
gestores públicos, representantes de ONGs,
sindicatos, associações e povos indígenas
– para discutir políticas públicas
para os recursos hídricos e o meio ambiente
no Mato Grosso. (Saiba mais).
Campanha ‘ Y Ikatu
Xingu participa do Festival
Na sexta-feira, dia
10 de junho, a conferência “Águas de
Mato Grosso” abriu o segundo dia do Festival Ecológico
e Cultural em Alta Floresta. A mesa do evento contou
com a participação de Rosely Sanches,
bióloga do Instituto Socioambiental (ISA),
entre outros.
Rosely falou sobre a campanha ‘Y Ikatu Xingu, mobilização
articulada por uma série de organizações,
entre elas o ISA, e que pretende preservar e recuperar
as nascentes do Rio Xingu. “Fora as áreas
protegidas, cerca de um terço da bacia no
Mato Grosso já foi desmatado. Nos últimos
dez anos, a devastação acelerou-se
de forma abrupta: passou de 2,2 milhões de
hectares anuais para 4,8 milhões de hectares”,
apontou. Rosely explicou que a campanha está
acontecendo em duas linhas de atuação:
o levantamento de informações sobre
a dinâmica da ocupação e da
economia local e a articulação e implementação
de projetos e iniciativas socioambientais dentro
da bacia. “Trata-se de um processo gradual, o problema
não vai ser resolvido da noite para o dia.”
BR-163 em debate
Ainda na sexta-feira,
mas na parte da tarde, a principal mesa de diálogo
do Festival discutiu a questão da rodovia
BR-163 (Cuiabá Santarém). Estavam
presentes o secretário de Desenvolvimento
Sustentável do Ministério do Meio
Ambiente (MMA), Gilney Viana, e integrantes do Fórum
Mato-grossense para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
(Formad), do Grupo de Trabalho Amazônico (GTA),
do Instituto Centro de Vida (ICV), da Federação
de Órgãos para a Assistência
Social e Educacional (Fase) e da Rede Brasil.
“A discussão da BR-163 conseguiu aglutinar
várias entidades. Ela é um marco histórico
porque o que então estava delineado era a
exclusão da população local”,
lembrou Nilfo Wandscheer, representante do GTA e
presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais
de Lucas do Rio Verde. Ele conta que a mobilização
para impor critérios socioambientais à
pavimentação da estrada trouxe as
demandas das comunidades locais para a pauta do
governo.
Durante o debate, foi feito um alerta sobre um assunto
diferente daquele proposto pelos organizadores.
Alguns dos participantes chamaram a atenção
para a necessidade de realizar semelhante àquele
que ocorreu na BR-163 um movimento envolvendo a
rodovia BR-158, no leste do Mato Grosso. Já
existem recursos públicos para asfaltar cerca
de 100 km entre Ribeirão Cascalheira e Bom
Jesus do Araguaia. Apesar disso, as organizações
socioambientalistas ainda não se movimentaram
para monitorar e influenciar o andamento da obra.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Oswaldo Braga de Souza)