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FEDERAÇÃO
APONTA FALTA DE RECURSOS NO DISTRITO SANITÁRIO
DO ALTO RIO NEGRO QUE ATENDE 23 MIL ÍNDIOS
Panorama
Ambiental
Manaus (AM) – Brasil
Junho de 2005
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20/06/2005 – A Federação
das Organizações Indígenas
do Alto Rio Negro (FOIRN) enviou na última
sexta-feira uma carta ao ministro da Saúde,
Humberto Costa, denunciando os problemas no atendimento
da saúde básica dos 23 mil indígenas
que vivem nos 110 mil quilômetros quadrados
da área do Distrito Sanitário Especial
Indígena Alto Rio Negro (DSEI-RN), em São
Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. "Há
constantes atrasos no repasse da verba, a gente
sobrevive do crédito no comércio local.
Mas nem tudo se compra fiado", diz o coordenador
do DSEI-RN, Hernane Guimarães dos Santos.
Desde 1999, quando a Fundação Nacional
de Saúde (Funasa) assumiu o subsistema de
saúde indígena e dividiu o território
nacional em 34 DSEIs, o atendimento em São
Gabriel da Cachoeira passou a ser feito, por meio
de convênio, pela FOIRN. "Os atrasos
no repasse de recursos são comuns. O problema
é que no ano passado, com as denúncias
de irregularidades na execução dos
convênios, a Funasa assumiu as partes gerenciais
do processo – antes feito pelas entidades conveniadas",
conta Santos.
Segundo o diretor de assuntos indígenas da
Funasa, Alexandre Padilha, entre as irregularidades
identificadas na prestação de contas
estão dados incompletos e compras sem licitação.
Com a mudança, a Funasa ficou responsável
pela compra de insumos e medicamentos, como informa
Santos. "Isso provocou entraves, decorrentes
da tecnoburocracia e da falta de planejamento."
De acordo com ele, há seis meses o distrito
não recebe remédios.
Para Padilha, esse atraso é, na verdade,
uma forma de pagamento adotada em conseqüência
de problemas identificados na prestação
de contas. "Iniciamos o convênio em 2004
com repasse mensal. Mas a prestação
de contas nos mostrou a necessidade de unificar
algumas parcelas para, então, repassá-las",
informa Padilha.
O diretor afirma que, de julho do ano passado até
o último domingo, foram repassados R$ 7,1
milhões à federação
em quatro blocos de pagamento. "Nesta segunda-feira,
foi deposita a parcela final de R$ 2,5 milhões",
garante o diretor.
O coordenador do DSEI-RN, no entanto, afirma que
os R$ 2,5 milhões que a Funasa deveria repassar
nesta semana à fundação – relativos
às verbas de maio, junho e julho – estão
em grande parte comprometidos com dívidas.
"Entre o fim do último convênio
e a assinatura do convênio atual (nº
1336/2004, de julho), ficamos 46 dias descobertos.
Mas sem parar o atendimento. Tivemos que usar a
verba recebida para cobrir gastos desse período",
explicou Santos.
"E para não pagar uma multa de R$ 500
mil ao Ministério do Trabalho, fomos obrigados
a recontratar imediatamente os 305 funcionários
demitidos com o fim do convênio anterior,
que continuaram trabalhando. Com isso, nossas contas
foram aprovadas com restrição, porque
formalmente é difícil justificar gastos
com folha de pagamento realizados em um período
no qual não havia convênio em vigor.
Um ciclo sem fim: a demora na aprovação
das contas que gera mais demora no repasse dos recursos."
Os indicadores de saúde traduzem os problemas
relatados ao ministro na carta da FOIRN. Em 2004,
o índice de mortalidade infantil foi de 50
mortos por 1 mil nascidos vivos, mais que o dobro
da média nacional de 24,35 óbitos
– o dado é o mais recente da Secretaria de
Vigilância em Saúde, do Ministério
da Saúde, porém relativo a 2003.
Os índices de saúde bucal também
revelam penúria, quando comparados com as
referências da Organização Mundial
da Saúde (OMS): apenas 3.8% das crianças
com 5 anos estão livres da cárie dentária
(OMS preconiza 50%) e só 12,8% da população
adulta de mais de 35 anos possui mais de 20 dentes
(OMS preconiza 75%).
A Funasa diz que "planeja verificar as dificuldades
da FOIRN em administrar os recursos".
Fonte: Agência Brasil -
Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Thaís Brianezi e Juliana Cézar Nunes