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FUNASA É A PRINCIPAL
RESPONSÁVEL PELA MORTE DE ÍNDIOS
NA TERRA GUAPORÉ
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Junho de 2005
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24/06/2005 Há
mais de um ano o Pólo-Base de Guajará-Mirim
está totalmente desfalcado de transporte
fluvial para a remoção de pacientes
e para atendimento pela equipe de saúde.
Cerca de 3.000 indígenas, 80% da população
do Pólo-Base, para serem removidos e atendidos
dependem de eventuais caronas ou da boa vontade
de terceiros solicitados pela Fundação
Nacional de Saúde (Funasa).
As duas crianças que faleceram recentemente
desceram de carona da aldeia Ricardo Franco, na
terra Guaporé, para Guajará-Mirim,
um percurso de 250 km, no dia 28 de abril. As duas
crianças foram imediatamente internadas.
Uma delas faleceu após duas horas e a outra
após 36 horas.
A criança de um ano de idade, da aldeia Baía
das Onças, apresentou diarréia e vômito
e piorou no dia 23 de abril com sinais de desidratação.
Apesar de repetidas solicitações pelo
rádio de uma voadeira para o Pólo-Base,
o socorro não veio. A mãe conseguiu
uma carona no dia 26 de abril para a aldeia Ricardo
Franco. No dia 27, o auxiliar de enfermagem daquela
aldeia fez um primeiro atendimento, que não
surgiu efeito.
A criança de 10 meses do povo Jabuti, da
aldeia Ricardo Franco, apresentou diarréia
e vômito desde o dia 24 de abril. Quando foi
atendida pelo auxiliar de enfermagem no dia 26 de
abril, já estava muito desidratada, mas não
foi providenciado encaminhamento com urgência.
As crianças só foram removidas no
dia 28 de abril porque as mães pediram a
carona de uma voadeira do Ibama que estava de passagem
pela aldeia.
Essas mortes não são casos isolados.
Da mesma forma, ocorreram duas mortes nos meses
de agosto e setembro de 2004 por falta de transporte:
uma senhora do povo Oro Nao´ da aldeia Rio
Negro Ocaia e uma criança Oro Nao´da
aldeia Rio Sotério.
Todos os anos é solicitado pelo Conselho
Local de Saúde Indígena de Guajará-Mirim
a compra de uma voadeira para essas referidas aldeias
mas a Funasa retira do Plano Distrital todo o material
permanente, alegando a necessidade de se adequar
ao teto orçamentário.
Quando o movimento indígena reivindica autonomia
orçamentária para os Distritos Sanitários
Especiais Indígenas (DSEIs), o objetivo é
exatamente trazer para o DSEI a possibilidade de
definir as prioridades de aplicação
dos recursos. Em geral, os recursos solicitados
pelo DSEI são alterados aleatoriamente pelas
coordenações regionais e federal da
Funasa, o que leva a este tipo de problema.
As famílias onde ocorreram os óbitos
não têm acesso à água
potável. As obras de saneamento realizadas
pela Funasa atingem uma minoria da população
indígena e a maioria dos poucos poços
construídos nesses 6 últimos anos
não tem condições de uso.
Se a situação da saúde indígena
estava ruim no DSEI de Porto Velho quando a Funasa
tinha o convênio com a Coordenação
da União das Nações e Povos
Indígenas de Rondônia (Cunpir), piorou
mais ainda depois que a Funasa assumiu a execução
direta das ações de saúde em
abril de 2004, reforçou as suas Coordenações
Regionais e contrata empresas para todos os serviços
existentes. No que se refere ao transporte fluvial,
há meses que o Pólo-Base não
tem mais voadeira. Os pacientes e os profissionais
de saúde viajam quase sempre de caronas com
embarcações particulares. No que se
refere ao transporte terrestre, as viaturas para
ir para área encontram-se na oficina aguardando
o recurso para o conserto.
A Coordenação Regional da Funasa de
Rondônia, que está nas mãos
do PMDB, e a chefia do Distrito de Porto Velho são
os principais responsáveis por essa situação
de descaso que eles conhecem e procuram esconder.
Nas reuniões de Conselhos eles procuram iludir
os conselheiros com promessas e manipulam os conselheiros
para que se aprove o Plano Distrital com o quadro
de profissionais definido por eles, alegando que
qualquer mudança irá inviabilizar
a realização do futuro convênio
para as contratações.
Na véspera da aprovação do
Plano Distrital do DSEI de Porto Velho de 2005,
o Cimi espera que não vá se repetir
o que aconteceu em outubro de 2004, quando o Plano
elaborado pela Funasa foi imposto com o argumento
de que garantiria a vinda mais rápida de
recursos e a realização de convênio
com a Coiab (Coordenação das Organizações
Indígenas da Amazônia Brasileira).
Nem os recursos esperados chegaram, nem o convênio
com a Coiab foi firmado e há um ano os profissionais
de saúde trabalham sem contrato.
Fonte: CIMI – Conselho Indigenista
Missionário (www.cimi.org.br)
Assessoria de imprensa