|
GREENPEACE PEDE A LULA
POSTURA FIRME A FAVOR DO PROTOCOLO DE KYOTO
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Julho de 2005
|
 |
07/07/2005 – Os movimentos
ambientalistas esperam que o Brasil assuma posição
de liderança nas discussões sobre
mudanças climáticas – um dos temas
prioritários da reunião do G8, que
acontece até sexta-feira em Gleneagles, na
Escócia. O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva participa como convidado do encontro
entre líderes dos sete países mais
ricos do mundo e da Rússia. "O Brasil
é o quarto maior emissor do mundo de gases
causadores do efeito estufa graças aos nossos
altos índices de desmatamento. Isto faz com
que o país tenha uma grande responsabilidade
pela solução da questão de
mudanças climáticas no planeta",
avalia Marcelo Furtado, diretor de campanhas do
Greenpeace Brasil. "Uma grande preocupação
que temos é que esta reunião não
fique no discurso vazio. A população
está cansada de ouvir discurso e quer ver
ações concretas, com prazos, metas
e recursos definidos", resume.
Na última
sexta-feira, o Greenpeace enviou carta ao presidente
Lula solicitando que se junte às autoridades
do G8 para incentivar a redução das
emissões de gases de efeito estufa e pressionar
os Estados Unidos para que implementem medidas de
combate às mudanças climáticas
(os EUA recusam-se a assinar o Protocolo de Kyoto
único acordo mundial que torna obrigatório
a adoção de políticas e metas
para a redução das emissões
de gases de efeito estufa). Segundo Furtado, outras
organizações internacionais também
estariam encaminhando solicitações
semelhantes ao presidente.
A indústria,
a produção de energia e o transporte
queimam grandes quantidades de petróleo,
carvão mineral e gás natural gerando
anualmente bilhões de toneladas de gás
carbônico, que são lançadas
à atmosfera, alterando o seu equilíbrio.
As alterações na composição
química da atmosfera se manifestam no mundo
todo em fenômenos como secas, enchentes, maior
intensidade de ciclones tropicais com aumento dos
riscos para a vida, propriedade e ecossistemas,
maior Incidência de doenças como a
malária, febre amarela e cólera, perda
da biodiversidade, queda na produção
de grãos e conseqüente redução
na segurança alimentar, etc...
Na avaliação
dos ambientalistas, é essencial que os países
do G8 assumam sua responsabilidade no aquecimento
global do planeta, estabelecendo metas adicionais
para redução de emissões de
gases causadores do efeito estufa e apoiando os
países em desenvolvimento na busca por soluções.
"O G8 pode apoiar com recursos e com tecnologia,
até que os países em desenvolvimento
deixem de ser parte do problema e se juntem ao grupo
que é parte das soluções, até
que a gente consiga gerar empregos, proteger o meio
ambiente e garantir o futuro das gerações
que estão por vir", acredita Furtado.
"A presença do presidente Lula é
muito importante, para cobrar dos países
ricos que façam a lição de
casa e financiem os países em desenvolvimento
a encontrar soluções para o problema",
afirma, destacando o potencial brasileiro para geração
de energias renováveis.
Furtado acredita,
inclusive, que o Brasil poderá liderar a
discussão sobre soluções para
o problema de mudanças climáticas
entre os países em desenvolvimento - também
participam como convidados, na reunião ampliada
sobre Mudanças Climáticas, China,
Índia, México e África do Sul.
Mas os ambientalistas também esperam que
Lula apresente soluções para a questão
do desmatamento. "Esperamos que o Brasil assuma
a responsabilidade de lidar com a questão
do desmatamento na Amazônia, que afeta o país
e contribui para o problema de mudança climática
no mundo. É fundamental que o presidente
Lula chegue à reunião do G8 podendo
garantir que não vamos mais ter índices
vergonhosos", enfatiza o diretor do Greenpeace.
Leia abaixo a íntegra
da carta enviada ao Presidente Lula:
São Paulo,
1º de julho de 2005
Ao
Exmo. Sr. Presidente da República Federativa
do Brasil
Luís Inácio Lula da Silva
Prezado Senhor Presidente,
Nós saudamos
sua participação na reunião
da Cúpula do G8 que, graças aos esforços
do primeiro-ministro da Inglaterra, Tony Blair,
incluiu em sua agenda de discussões o tema
Mudanças Climáticas. O Greenpeace
está incentivando os países do G8
a reduzirem suas emissões de gases de efeito
estufa. Nós acreditamos que a Cúpula
do G8 pode, ainda, oferecer apoio significativo
e incentivo para que o Brasil atinja seus objetivos
de desenvolvimento e segurança energética
em um modelo menos dependente de combustíveis
fósseis e outras fontes de carbono.
Como o senhor deve
saber, o entendimento da necessidade de refrear
as mudanças climáticas é mais
clara, urgente e forte agora. É tempo de
os governos reconhecerem as descobertas científicas
dos efeitos nefastos dessas mudanças sobre
o planeta. Gostaríamos que um dos resultados
da Cúpula do G8, inclusive com o apoio do
governo brasileiro, fosse uma declaração
contundente, expressando que mudanças climáticas,
em geral, são causadas pelas atitudes do
ser humano e requerem imediata redução
nas emissões de gases de efeito estufa. Isso
pode ser alcançado garantindo que as metas
de Kyoto sejam alcançadas.
Infelizmente, o texto
do comunicado oficial, até agora, está
muito tímido. Ele vai, de fato, na direção
oposta e realmente é um retrocesso no tratamento
do tema mudanças climáticas. Isso
se deve principalmente à influência
da administração Bush, que tem se
oposto radicalmente à redução
da emissão de gases. Nós pedimos que
o senhor se junte aos demais chefes de Estado e
de Governo do G8 para assegurar que o presidente
Bush não tenha sucesso neste esforço.
Nós o estamos
encorajando a se juntar aos representantes de Governo
que estarão presentes na Cúpula e
a declarar seu apoio aos seguintes pontos:
· O conhecimento
sobre as conseqüências das mudanças
climáticas é sólido e embasado
cientificamente. É um problema de grande
escala, urgente e que exige ações
imediatas para redução das emissões.
· O Protocolo de Kyoto é um bom início,
porém outras medidas e políticas com
metas adicionais também são necessárias.
· O grau e urgência do problema requerem
profundas reduções dos gases de efeito
estufa, baseado no princípio das responsabilidades
comuns e diferenciadas. Nós apoiamos uma
estrutura política compulsória que
resulte na redução das emissões
globais na próxima década.
· Eficiência energética e tecnologias
renováveis estão disponíveis
e devem ser implementadas imediatamente. O Greenpeace
apoiará os membros do G8 para que trabalhem
com os países em desenvolvimento, assegurando
que técnicas apropriadas e apoio financeiro
sejam providenciados para que esses países
estejam aptos a se desenvolver com baixa dependência
de carbono.
Além disso,
é necessário encorajar os países
em desenvolvimento a reduzirem suas emissões
provenientes do desmatamento de suas florestas tropicais.
O Brasil, como quarto maior emissor de gases de
efeito estufa, é um país-chave na
discussão das mudanças climáticas.
Ao mesmo tempo em que o Brasil possui em seu território
a maior parte da floresta Amazônica, vem apresentando
um crescente e alarmante índice de desmatamento,
aumentando significativamente as suas emissões
de carbono.
Portanto, a adoção
de metas de redução das taxas nacionais
de desmatamento, no caso do Brasil e outros países
tropicais, estimulada pelo uso dos mecanismos de
compensação do Protocolo de Kyoto,
é de fundamental importância para estabilizar
a concentração de gases estufa num
futuro próximo. Conclamamos o governo brasileiro
a liderar uma iniciativa que gere o início
imediato da discussão para o segundo período
de compromisso após 2012 para garantir um
passo fundamental e necessário dos países
em desenvolvimento na solução do problema
das mudanças climáticas.
Nós saudamos
as deliberações do G8 no tema mudanças
climáticas e esperamos que o senhor aproveite
essa oportunidade para influenciar esses líderes
governamentais e demonstrar sua liderança
nesse tema tão importante. O mundo, e em
particular os países em desenvolvimento,
que são os mais afetados pelas mudanças
climáticas, contam com o senhor.
Atenciosamente,
Frank Guggenheim
Diretor Executivo
Greenpeace Brasil
Fonte: Agência Brasil -
Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Mylena Fiori