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INDÍGENAS PROTESTAM
CONTRA PETROBRAS
Panorama
Ambiental
Fortaleza (CE) – Brasil
Julho de 2005
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11/07/2005 - Adital
- Indígenas Huaorani denunciam que acordos
com a petroleira brasileira Petrobras haviam sido
feitos sem consulta às populações
afetadas e temem os impactos que a construção
da estrada e as atividades de extração
da empresa terão sobre seu território.
A manifestação contará com
uma roda de imprensa. No Brasil, a Rede Brasileira
de Justiça Ambiental prepara um estudo denunciando
a adoção de um duplo padrão
pela Petrobras ao ameaçar a integridade do
Parque Nacional Yasuni e do povo indígena
Huaorani.
Nos dias 11 e 12 de julho, em Quito, uma delegação
de representantes do povo Huaorani protestará
contra a presença da Petrobras em seu território.
Está prevista a participação
de 120 indígenas, com uma forte presença
das mulheres Huaorani. O grupo inclui populações
afetadas pela REPSOL YPF, que também opera
na Amazônia equatoriana e tem causado inúmeros
impactos socioambientais, relatados por uma missão
internacional que esteve na área em agosto
de 2004.
Para o primeiro dia de ação (segunda-feira)
está confirmada a realização
de uma roda de imprensa com a participação
de correspondentes internacionais na sede da CONAIE
(Confederação das Nacionalidades Indígenas
do Equador). A marcha até o Palácio
do Governo será no dia 12, terça,
quando será entregue uma carta ao Presidente
da República pelos Huaorani. A carta afirma
que ?Ecuador debe pelar por nosotros y no solo por
petróleo. Y hacer que cambien las leyes para
que hagan propuestas para todos los ecuatorianos.
El gobierno debe buscar otro proyecto, no solo petrolero;
para que de los recursos y que no afecte el futuro.
Porque esto afecta no solo a los huaoranis sino
a todo el país?.
A Petrobras tem autorização para explorar
petróleo no Bloco 31, em Orellana, na região
amazônica do país. Mês passado,
porém, o governo do Equador solicito
uma auditoria à Controladoria Geral do Estado
sobre a licença ambiental concedida à
empresa, devido as inúmeras pressões
da sociedade civil contra o projeto. O Bloco 31
compreende a maior parte do Parque Nacional Yasuni
e o território dos povos indígenas
Huaorani, incluindo os grupos Tagaeri e Taromenane,
que escolheram viver isolados e dependem inteiramente
da floresta.
Um relatório da ONG Acción Ecológica
mostra que, com as primeiras atividades da Petrobras,
iniciadas em janeira deste ano, a contaminação
já começou. Um porto, em construção
em terras quíchuas do Bloco 31, não
só tem poluído a água como
gerado problemas trabalhistas.
Em notícia recém-publicada pelo jornal
equatoriano El Comercio, o coordenador da ONHAE
(Organização da Nacionalidade Huaorani
da Amazônia Equatoriana), Ramón Huani,
afirmou que não vai manter os acordos firmados
pela gestão anterior da organização
com a Petrobras, já que, além de terem
sido feitos sem consulta às comunidades de
base da nacionalidade Huaorani, eles sequer foram
cumpridos pela empresa. A nova direção
da ONHAE afirma estar decidida a não aceitar
mais a exploração petroleira em seu
território, em função dos inúmeros
impactos que a população tem sofrido
nos últimos anos por ação das
companhias petrolíferas.
A ruptura responde à pressão exercida
principalmente pelas mulheres indígenas.
Elas querem manter livre de contaminação
o território de onde extraem seu alimento.
Na mesma reportagem, Alicia Cahuiya, presidente
da Associação de Mulheres Huaorani,
disse que com a presença das indústrias
petroleiras na região, os rios que abastecem
as populações ficam contaminados.
?Esto solo trae deforestación, desaparición
de los animales selváticos e introducción
de malas costumbres occidentales como el alcoholismo
y la prostitución?, afirmou.
Os huaorani tiveram o apoio do povo Quíchua
nessa decisão. Entre os planos polêmicos
da Petrobras está a construção
de uma estrada que corta, em quase 30km, o parque.
Ela deve atravessar uma comunidade quíchua
antes de chegar ao território huaorani. Alvo
de protestos ambientais, a abertura da estrada foi
motivo da saída da ONG Wildlife Conservation
Society Equador do grupo de acompanhamento para
o monitoramento das atividades da Petrobras no Parque
Nacional Yasuni, em maio deste ano. No esquema atual,
as comunidades locais e o grupo de monitoramento
têm direito apenas de voz, e não de
voto, sobre as decisões que concernem às
atividades realizadas pela empresa no parque.
Desde 2004, um movimento internacional visa impedir
a exploração de petróleo no
Parque Nacional Yasuni. A ação inclui
a produção, por cientistas e militantes
do Equador e de diversos países, de relatórios
técnicos que projetam o impacto da presença
da petroleira na reserva da biosfera, como o que
resultou da missão internacional de verificação
de agosto do ano passado. Os temas discutidos com
a Petrobras pela Rede Brasileira de Justiça
Ambiental são também resultado desses
relatórios. A rede coordena no Brasil uma
campanha que denuncia a aplicação
de um duplo padrão pela empresa. O estudo
Extraterritorialidade e direitos humanos: o duplo
padrão da Petrobras em Yasuni, a ser lançado
em breve, expõe o problema com mais detalhes.
Ao iniciar suas atividades em uma área de
grande biodiversidade e território indígena
no Equador, a Petrobras aplica um duplo padrão.
O argumento se baseia no fato de que no Brasil não
é permitida a exploração petrolífera
em parques nacionais ou em territórios indígenas.
Mês passado, por exemplo, o Ibama negou à
empresa canadense Newfield a licença ambiental
para explorar petróleo no Bloco BMES-20,
próximo ao arquipélago de Abrolhos,
na Bahia. Os motivos foram justamente os riscos
potenciais que uma exploração petrolífera
representa a uma área que é considerada
parte da Zona de Amortecimento do Parque Nacional
de Abrolhos. Nenhuma empresa tem conseguido explorar
petróleo nos parques nacionais do Brasil,
mas a estatal brasileira tem autorização
para fazer o mesmo no país vizinho. Embora
a Legislação Ambiental Unificada do
Equador proíba a exploração
petroleira em áreas protegidas, uma série
de resoluções ministeriais foi emitida
ao longo da história dessa exploração
no Equador a fim de garantir que a atividade pudesse
ser desenvolvida nessas áreas.
Para os representantes da Rede Brasileira de Justiça
Ambiental, a sociedade civil brasileira deve estar
atenta à possibilidade de uma empresa estatal
reproduzir o que inúmeras empresas transnacionais
têm historicamente feito no Brasil: transferir,
para locais onde há fragilidade na regulação
ambiental, impactos e riscos que não são
permitidos em seus países de origem.
Fonte: Adital – Agência
de Informação Frei Tito para a América
Latina (www.adital.com.br)
Assessoria de imprensa