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PEQUENOS PRODUTORES REALIZAM
ENCONTRO SOBRE AGRICULTURA ORGÂNICA
EM IPORÃ
Panorama
Ambiental
Curitiba (PR) – Brasil
Julho de 2005
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13/07/2005 - “Quem
tem consciência sobre o mal que causa o veneno
agrícola, não coloca alimento contaminado
na boca de uma criança” afirma, antes dele
embarcar em excursão rumo a cidade vizinha.
Juntamente com mais de 100 agricultores familiares
da região de Umuarama, ele foi participar
da palestra inaugural da Oficina sobre Agroecologia,
feita pela pesquisadora e professora Ana Maria Primavesi,
ocorrida nesta segunda-feira (11), no Centro Cultural
de Iporã.
Segundo a engenheira
agrônoma Márcia Helena Laino, gerente
regional da Emater, a agricultura orgânica
regional é fruto de um sólido projeto
voltado aos municípios das Águas dos
Rios Paraná e Piquiri, elaborado por instituições
comprometidas com a melhoria da qualidade de vida
dos agricultores familiares e dos consumidores finais.
Ela lembra que o
forte da integração começou
a partir de 2003, tendo a participação,
além do serviço de extensão
rural oficial, do Sebrae, Senar, UEM e prefeituras
de Alto Piquiri, Altonia, Francisco Alves, São
Jorge do Patrocínio, Esperança Nova
e Iporã.
Com a entrada de
novos parceiros, como Fetaep, Associação
Alternativa Pé na Terra, Coagel e a formação
de grupos locais de agricultores familiares na atividade,
foi criada em 2004 a Associação dos
Produtores Orgânicos das Águas dos
Rios Paraná e Piquiri, incluindo os municípios
de Cruzeiro do Oeste, Cianorte, Pérola e
Umuarama.
A meta, assegura
Joversi Luiz de Resende, consultor do Sebrae, “é
garantir a evolução tecnológica
dos 326 agricultores orgânicos e atender os
27 municípios, porque esse caminho é
sem volta, já que aumentou a freqüência
das consultas internacionais graças a oferta
de um amplo mix de produtos da região”. São
produzidos organicamente café, mandioca,
soja, hortaliças, morango, abacate, manga,
banana, laranja, coco, acerola e até algodão
transformado em tecido e confecção.
O evento inaugural
de Iporã, promovido pela Fetaep, era destinado
aos agricultores familiares da região de
Umuarama. A Oficina sobre Agroecologia, em cinco
módulos, começou na segunda-feira
e terminou na terça-feira (13), tratando
do tema Solos, exclusivamente para a assistência
técnica, contemplando 20 técnicos
da Emater e 20 técnicos da iniciativa privada
e organizações não-governamentais
que atuam nos municípios abrangidos pela
Associação dos Produtores Orgânicos
das Águas dos Rios Paraná e Piquiri.
O segundo módulo,
com o tema Fisiologia Vegetal, está marcado
para dias 15 e 16 de agosto, em Altônia. O
3o módulo vai tratar da Fisiologia Vegetal,
em Alto Piquiri dias 5 e 6 de setembro. O 4o aborda
Convívio com as Pragas e Doenças,
dias 17 e 18 de outubro em Francisco Alves e o último
módulo acontece em Cianorte, dias 7 e 8 de
novembro, com o tema Certificação
e Comercialização de Produtos Orgânicos,
Agricultor orgânico
- O autor da frase que chama atenção
da consciência em produzir alimento limpo
de agrotóxico, Sérgio Baraldi, 51
anos, paranaense nascido em Mandaguaçu, vive
o que fala. No sítio São Sebastião,
na comunidade Pé de Galinha, em Altônia,
a família divide as tarefas nos 29 hectares.
Dona Helena e a filha Gisele pegam firme na lida
diária tendo em mente a filosofia de vida,
implantada em 1998, ano em que Sérgio participou
de um curso sobre agricultura orgânica, quando
passou a produzir hortaliças e morango em
uma área que hoje tem pouco mais de um hectare.
Mantendo semblante
e fala que inspiram confiança de quem mudou
a forma de produzir alimento, ele relembra com preocupação
o tempo que plantava café de matraca, cheia
de veneno contra bicho mineiro e ferrugem. Já
naquela época o pensamento queria outro rumo,
“porque se eu gosto de mim, tenho que gostar do
meu semelhante depois de mim, assim se eu comer
um produto sem veneno, o outro tem o mesmo direito
de comer, sem que eu leve pra ele alimento com veneno”,
deduz Sérgio que diz já ter lido reportagem
mostrando gente que fazia agricultura química
e na hora de comer comprava alimento do vizinho
que produzia alimento orgânico.
A produção
de morango da família Baraldi é exemplo
do compromisso com a natureza. Produz a própria
muda na propriedade da variedade Sweet Sharlie,
não faz uso de financiamento bancário
para evitar dívidas e na classificação
da conversão, o cultivo passou das tabelas
C1 e C2 e já tem a certificação
dada pelo Instituto Biodinâmico, de Botucatu,
SP, desde 2003.
Na última
safra foram colhidas nas 9.500 plantas cultivadas
em 3.500 metros quadrados, cerca de duas mil bandejas,
dando um caixa final de R$ 4 mil. Nesta atual safra
com a colheita iniciada em maio e final em outubro,
a previsão e colher sete mil bandejas, “duas
toneladas, mesmo com esse tempo ruim para a produção,
mas que não afetou a qualidade”, garante
Sérgio.
Por ser o único
produtor de morango orgânico comercial de
Altônia, Sérgio Beraldi tem freguesia
garantida, seja na Feira do Produtor, nas panificadoras
e mercados, ao preço de R$ 7,50 a bandeja
de 300 gramas. E atende no sítio durante
a safra dezenas de excursões municipais de
escolares, ávidas em receber suas explicações
de como produzir sem veneno.
Das dificuldades,
aponta o preço dos insumos que são
caros devido à distância de alguns
fornecedores e a falta de assistência técnica
especializada para superar os complexos problemas
da produção orgânica. Das vantagens,
garante que é estar em paz com todos e investir
na atividade, esperando um forte crescimento na
evolução de consumo, “porque a sociedade
tem que decidir se quer comprar alimento orgânico
e pagar pelo esforço da gente, já
que o gargalo é a necessidade de intensificar
a mão-de-obra na propriedade, que é
cara e escassa”.
Em Altônia
- Participante do projeto que engloba os municípios
da região de Umuarama, Altônia também
busca a projeção no mercado da agricultura
orgânica. Iniciou o trabalho de mobilização
dos agricultores familiares em 2002, por ter divisão
fundiária promovida por colonizadora onde
80% dos estabelecimentos rurais têm a média
de 30 hectares cada, através do Fórum
de Desenvolvimento Municipal e das parcerias com
a Emater, Senar, Sebrae, UEM, Unoeste, Prefeitura
e Secretaria Municipal da Agricultura.
O técnico
agrícola Paulo Cezar Lavaqui, da Emater,
em convênio com a Prefeitura, destaca a existência
de 20 famílias na atividade, com 11 delas
já certificadas, e diz que as vantagens desse
sistema de produção são “a
recuperação de capital do produtor
de orgânicos, que hoje não acumula
dívidas e a preservação da
saúde da família rural pelo não
uso de agrotóxicos.”
No Paraná
- A agricultura orgânica no Paraná
está concentrada nas pequenas propriedades
e é conduzida pelo agricultor familiar, “bem
diferente de outros Estados, como São Paulo
onde existem grandes proprietários explorando
a atividade”, assegura Márcia Laino, destacando
que levantamentos da Emater apontam a existência
de 3.789 agricultores na atividade agrícola,
produzindo em 11 mil hectares mais de 67 toneladas
de alimentos e “na produção animal,
são 333 criadores nas atividades de leite,
suíno, peixe, ave e mel”.
Frases
· Para suprir a falta de um trabalho organizado
e profissional nas associações municipais
é possível firmar convênio Consad
Entre Rios e Ministério do Desenvolvimento
Agrário, e destinar dois técnicos
com atuação exclusiva na agricultura
orgânica da região. Márcia Laino
– Emater.
· ... vemos ser este o caminho para o futuro,
porque nos dias de hoje se pedirmos aos agricultores
convencionais para comerem o que produzem, temos
a certeza que eles não comem devido ao volume
de agrotóxico que usam... José Carlos
Castilho – Fetaep.
· É um momento histórico para
o município e região a presença
da Ana Primavesi. Eu, na minha formação
de engenheiro agrônomo passei noites em claro
estudando sua obra e hoje realizo um sonho, ter
seu autógrafo. Cássio Murilo Trovo
Hidalgo – Prefeito de Iporã.
· A agricultura convencional foi imposta
no Brasil para salvar a indústria química
norte-americana e não para produzir alimentos...
se o povo do primeiro mundo procura alimento orgânico
é porque questiona o valor da agricultura
convencional... A pequena propriedade tem na agricultura
orgânica a melhor renda e a melhor qualidade
de vida.. A planta sempre diz a verdade, antes de
matar o mato o agricultor tem que saber porque ele
aparece... Se existem pragas e doenças a
pergunta é por que apareceram?.. O solo é
a base da vida, quando doente ele fica seco com
o sol e sofre erosão pela chuva... A planta
precisa de solo que agrega, com ar e água
para a raiz penetrar... Brasileiro adora fogo e
deixa o solo morto... Planta e animal são
como a gente, necessitam de conforto.. Ana Maria
Primavesi – Agricultora, professora e pesquisadora
agroecológica.
Fonte: Secretaria Estadual do
Meio Ambiente do Paraná (http://www.pr.gov.br/meioambiente/index.shtml)
Assessoria de imprensa