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COMUNIDADES INDÍGENAS
APRENDEM A CRIAR ABELHAS
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Julho de 2005
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25/07/2005 - Um
projeto desenvolvido pelo Grupo de Pesquisas em
Abelhas (GPA) do Instituto Nacional de Pesquisas
da Amazônia (Inpa), vinculado ao Ministério
da Ciência e Tecnologia, ensina tecnologias
de criação de abelhas para aproximadamente
30 comunidades do interior do estado. Os moradores
são orientados sobre como promover a criação
de abelhas em caixinhas racionais - colméias
artificiais -, identificação das espécies
características de cada localidade, qual
o pasto apícola consumido - flores visitadas
pelas abelhas para retirada do néctar, pólen
e resina -, além de informações
sobre implantação de criadores, entre
outros.
O projeto, denominado
Abelhas e Polinização de Plantas da
Várzea, foi iniciado há dois anos
com investimento de cerca de R$ 384 mil, e o seu
objetivo principal é analisar as condições
para se promover a melipolinicultura no Amazonas
e gerar uma fonte alternativa de renda para as comunidades.
Durante as pesquisas de campo, que vêm contecendo
mensalmente, são visitadas diversas comunidades
indígenas, pequenos agricultores, produtores
rurais. Entre essas comunidades, a Murutinga, localizada
no município de Autazes, pertencente à
etnia Mura, a Marajai, no município de Alvarães,
próximo de Tefé, pertencente à
etnia Mayoruna, além da comunidade Vila Nova
do Andirá, que abrange os municípios
de Maués, Barreirinha, Parintins (AM), e
Itaituba (PA), pertencentes a etnia Saterê-Mawé.
Outra comunidade visitada foi a do Panelão,
localizada no Carero Castanho, que fica no assentamento
do Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária (Incra).
Segundo a pesquisadora Gislene Carvalho, várias
oficinas foram realizadas nas comunidades. Um dos
objetivos era conscientizar as pessoas sobre a importância
da preservação da mata nativa pelos
próprios moradores da regiões visitadas.
Mas, para isso, é necessário apontar
alternativas de fonte de renda. "Eles aprenderam
quais eram os pastos apícolas ideais para
as abelhas, foram orientados sobre como promover
a multiplicação das colméias
artificais. Ao mesmo tempo, fazíamos o controle
dos ninhos naturais presentes na floresta próxima
às comunidades para garantir que não
seriam retirados da árvores". E isso
é importante porque as abelhas são
as principais polinizadoras da floresta, são
elas que contribuem para a manutenção
do bioma", frisou, acrescentando que os criadores
funcionam como multiplicadores para o restante da
comunidade. "A atividade de meliponicultura
contribui diretamente para o aumento desses polinizadores
nativos - as abelhas indígenas sem ferrão
- promovendo, assim, a perpetuação
das espécies de árvores polinizadas
por elas", completou.
Gislaine ressaltou que o trabalho realizado em parceria
com as pessoas da comunidade foi bastante promissor,
porque houve uma troca de informações.
"Aprendemos com eles os nomes comuns da abelhas
e ensinávamos o potencial econômico
gerado por elas", disse. A pesquisadora explicou
que foram identificadas oito espécies de
abelhas específicas para essas regiões
com potencial para criaçao racional, outras
quatro espécies ainda estão sendo
pesquisadas quanto ao seu potencial. As espécies
testadas para a criação racional são
de ocorrência natural nas áreas visitadas,
sendo conhecidas como jupará (Melipona compressipes),
uruçu-boca-de-renda (Melipona seminigra),
jandaira, (Melipona rufiventris), jupará
(Melipona interrupta grandis), canudo (Scaptotrigona
nigrohyrta), uruçu (Melipona eburnea), e
jandaira amarela (Melipona crinita).
"Essas abelhas são acostumadas com o
ambiente em que vivem, ou seja, a temperatura, o
clima, o pasto etc. Quando retiradas do seu habitat
natural, tendem a morrer e não há
como reverter isso. Vale ressaltar que os caboclos
não podem vender essas abelhas para agricultores
de outras regiões, porque elas não
irão resistir a outro clima. E isso é
extremamente importante se quisermos ter sucesso
na criação", ensinou.
Produção
Dependendo do pasto
apícola visitado uma colméia consegue
produzir, durante um ano, de 1 kg a 3 kg de mel
(in natura). Para haver o aumento dessa produção,
é necessário que haja seleção
e melhoramento genético das abelhas e a conseqüente
orientação dos produtores. "Isso
poderá acontecer em outra fase do projeto.
Nós já estamos pensando nisso",
destacou a pesquisadora Gislene Carvalho, do Grupo
de Pesquisas em Abelhas (GPA/Inpa).
Ela explica que as colméias que produzem
pouco mel têm que ter a abelha-rainha retirada
e morta. Ali seria colocada uma nova rainha vinda
de uma colméia, que tem uma produção
de mel elevada. Segundo a pesquisadora, antes de
tomar essa decisão, há um problema
para ser resolvido. A abelha-rainha que será
colocada na colméia receptora poderá
morta pelas abelhas operárias. "Isso
acontece porque ela libera feromônios diferentes
da abelha que foi retirada. A questão é
solucionada quando colocamos a rainha com mais quatro
operárias em um bóbi (do tipo que
se usa em cabelo) contendo xarope açucarado
para alimentação da rainha. Esse bóbi
fica envolto com cera de abelha. Após se
adaptarem à nova rainha, elas começam
a romper a proteção".
Gislene Carvalho explicou também que com
todas essas técnicas repassadas já
é possível produzir mel em larga escala.
E o próximo passo é orientá-los
sobre a comercialização e distribuição
do produto. "O objetivo é trazer um
especialista sobre o assunto. Queremos estimular
a criação de cooperativas para escoar
a produção e assim ganhar mais no
preço", ressaltou, e informou que, hoje,
um quilo de mel de abelha sem ferrão, que
são espécies comuns na região,
custa cerca de R$ 30. Durante o ano, são
possíveis duas ou três colheitas, no
máximo, o que limita o abastecimento do mercado,
sendo necessária a produção
conjunta por cooperativas e associações.
Início
O projeto teve iniciou
em 2002, quando foram aprovadas duas propostas,
uma pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e
Recursos Naturais Renováveis (Ibama), cerca
de R$ 384 mil, por meio do projeto Pró-Várzea,
e outra, pela Superintendência da Zona Franca
de Manaus (Suframa), de R$ 345 mil. Os recursos
foram investidos em pesquisas de campo, construção
de um novo prédio para o setor, e na elaboração
da cartilha Criação de Abelhas Sem
Ferrão, para ser distribuída nas comunidades
onde a pesquisa foi realizada. A cartilha foi lançada
na última reunião do Programa de Proteção
as Florestas Nacionais (PPG-7), que aconteceu em
Santarém (PA). O material servirá
de consulta para os moradores das comunidades visitadas.
Participaram do lançamento
a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o embaixador
da Alemanha, Prot von Kunow, e o coordenador do
ProVárzea, Mauro Ruffino.
Fonte: Ministério da Ciência
e Tecnologia (www.mct.gov.br)
Assessoria de imprensa (INPA)