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FUNASA REPASSA VERBAS PARA
ATENDIMENTO DOS ÍNDIOS DE RORAIMA
DEPOIS DE DOIS MESES
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Agosto de 2005
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Recursos correspondem
à primeira parcela do convênio para
o período 2005-2006 e foram transferidos
depois do Conselho Indígena de Roraima encaminhar
carta denunciando situação dramática
da saúde indígena na região.
Organizações indígenas vêm
sofrendo com suspensão de pagamentos.
A Fundação
Nacional de Saúde (Funasa) repassou finalmente,
na última sexta-feira, dia 5 de agosto, os
R$ 3,187 milhões referentes à primeira
parcela do convênio de R$ 16,1000 milhões
firmado com o Conselho Indígena de Roraima
(CIR) para o atendimento de saúde de mais
de 32 mil índios no Estado, de junho de 2005
a junho de 2006. A organização indígena
estava há mais de dois meses sem pagar fornecedores
e funcionários. Algumas equipes chegaram
a paralisar suas atividades por falta de recursos
e passaram apenas a realizar serviços de
emergência.
Na quinta-feira,
dia 4, o coordenador-geral do CIR, Marinaldo Justino
Trajano, encaminhou uma carta ao presidente da Funasa,
Paulo Lustosa, anunciando a suspensão completa
dos atendimento a mais de 252 aldeias do Leste de
Roraima e reivindicando o repasse imediato dos recursos
previstos pelo convênio. O documento lembra
que a situação “determina sérios
riscos para a integridade das comunidades envolvidas,
que já atravessam uma difícil situação
de saúde decorrente das epidemias de malária
e dengue que assolam o nosso estado” (confira a
íntegra do texto abaixo).
Desde março,
quando chegou ao fim o convênio do ano passado,
a Funasa não repassava verbas ao CIR, que
começou a acumular multas trabalhistas e
previdenciárias, além de juros de
dívidas com fornecedores de insumos. De acordo
com Trajano, a Fundação alegou que
Lustosa assumiu o cargo recentemente, no fim de
julho, e estaria conhecendo e reavaliando todos
os contratos firmados com entidades indígenas
e ONGs em virtude dos recursos vultosos envolvidos.
Segundo o coordenador do CIR, não existe
uma previsão para quando será feito
o próximo repasse. O CIR ainda não
fez os cálculos sobre quanto tempo durarão
os recursos disponibilizados agora. A assessoria
da Funasa informou que o pagamento realizado na
sexta-feira está dentro do cronograma de
trabalho previsto pelo convênio.
Várias organizações
indígenas ficaram sem recursos por conta
da interrupção dos repasses desde
que o atual modelo de saúde indígena,
implantado pela Funasa em 2004, centralizou a gestão
e deixou às entidades conveniadas o papel
de administrar o quadro de funcionários dos
Distritos de Sanitários Especiais Indígenas
(DSEIs) com a verba repassada por Brasília.
Representantes da Funasa chegaram a argumentar que
as suspensões de verbas estavam ocorrendo
em virtude de denúncias de mau uso do dinheiro
por parte das entidades conveniadas. “Prestamos
esses serviços de saúde há
quase dez anos e nunca foram encontradas irregularidades”,
rebate Trajano.
A possibilidade de
realizar três ou quatro pagamentos anuais,
em lugar de mensalmente, como vinha ocorrendo, foi
anunciada como uma solução para as
interrupções dos repasses em uma reunião
realizada, no dia 22 de junho, entre o então
ministro da Saúde, Humberto Costa, e lideranças
indígenas de todo o País. Durante
o encontro, o diretor do Departamento de Saúde
Indígena (DSAI) da Funasa, Alexandre Padilha,
disse que estavam sendo estudadas alternativas para
o pagamento das multas trabalhistas decorrentes
do atraso dos salários de funcionários
e para facilitar a prestação de contas
das entidades indígenas, considerada muito
burocratizada.
Na mesma reunião,
foi entregue ao ministro uma carta com uma série
de reivindicações e críticas
à gestão do sistema de saúde
indígena. No documento, entre outros pontos,
são apontados a falta de autonomia administrativa
e financeira dos DSEIs, a ausência de uma
política de recursos humanos para formação
e valorização dos agentes de saúde
indígenas, obstáculos ao controle
social e participação efetiva das
comunidades e a ameaça da municipalização
do sistema (saiba mais).
CONSELHO INDÍGENA
DE RORAIMA
Carta CIR no. 650-05
Boa Vista (RR), 04 de agosto de 2005.
Ilmo. Sr.Dr. Paulo
Lustosa
M.D. Presidente da FUNASA
BRASÍLIA (DF)
Prezado Senhor,
O Conselho Indígena
de Roraima – CIR, organização indígena
que mantém convênios com a Fundação
Nacional de Saúde para atenção
básica à saúde nas comunidades
indígenas do leste de Roraima desde o ano
de 1996, vem à sua presença apresentar
a dramática situação que está
vivendo nossa população em decorrência
do atraso na liberação dos recursos
para a continuidade das ações de saúde
nestas comunidades. O Projeto de Saúde do
CIR em convênio com a FUNASA atende uma população
de 32.000 indígenas, distribuídos
em 252 aldeias, que abrangem uma área que
se estende por dez municípios e quase metade
do território de nosso estado. O projeto
mantém 218 postos de saúde e 74 laboratórios
de microscopia, onde atuam 420 agentes indígenas
de saúde, além de agentes indígenas
de endemias, saneamento e parteiras tradicionais,
acompanhados por equipes multi-profissionais responsáveis
por este trabalho.
A FUNASA, através
do diretor do Departamento de Saúde Indígena
– DESAI/FUNASA, na reunião do Conselho Distrital
realizada no último dia 02 de junho em Boa
Vista, assumiu o compromisso com a prorrogação
do atual convênio entre CIR e FUNASA, com
um valor de R$ 8.966.445,96 para mais doze meses
de vigência de acordo com o Plano de Trabalho
pactuado. Isto fez com que o CIR determinasse a
continuidade do trabalho desenvolvido pelas equipes
profissionais e das atividades regulares do projeto.
No entanto, a não liberação
pela FUNASA dos recursos previstos no convênio
referentes aos meses de junho e julho, provocou
o atraso no pagamento dos salários e das
bolsas para agentes de saúde, gerando multas
trabalhistas e outras dívidas decorrentes
de despesas realizadas neste período.
A impossibilidade
total de continuar prestando assistência às
comunidades, devido à falta das condições
mínimas necessárias, como alimentação
das equipes, manutenção de veículos,
e aquisição de outros insumos, faz
com que o CIR a partir de hoje seja obrigado a suspender
as atividades em área, o que determina sérios
riscos para a integridade das comunidades envolvidas,
que já atravessam uma difícil situação
de saúde decorrente das epidemias de Malária
e Dengue que assolam o nosso estado.
Confiantes nos compromissos
assumidos pelo governo federal na melhoria das condições
de saúde dos povos indígenas em nosso
país, apelamos a esta presidência para
que tome as providências urgentes que esta
situação requer.
Atenciosamente,
Marinaldo Justino Trajano
Coordenador Geral do CIR
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Oswaldo Braga de Souza)