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PROJETO NO RIO DAS PACAS
(MT) PRETENDE LIGAR MATAS CILIARES E RESERVAS
LEGAIS EM QUERÊNCIA (MT)
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Agosto de 2005
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A idéia é
discutir e planejar iniciativas com produtores rurais,
prefeituras e índios. Também serão
identificadas e acompanhadas outras iniciativas
de recuperação de APPs na região.
Ações convergem com objetivos da campanha
`Y Ikatu Xingu
Integrar o uso da
terra à conservação biológica
e dos recursos hídricos a partir de discussões
permanentes com produtores rurais, prefeituras e
índios do Parque Indígena do Xingu
(PIX). Este é o objetivo do projeto Gestão
e Ordenamento Territorial da bacia do rio das Pacas,
que vem sendo implementado por pesquisadores, professores
e alunos da Universidade do Estado de Mato Grosso
(Unemat) e técnicos do ISA, desde abril,
em Querência (MT), a cerca de 800 quilômetros
de Cuiabá. A iniciativa é apoiada
pelo Consórcio Estradas Verdes, formado por
várias organizações não-governamentais
e financiado pela Agência dos Estados Unidos
para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na
sigla em inglês).
A idéia central
do projeto é discutir e planejar com os vários
segmentos envolvidos a melhor maneira de delimitar
as Reservas Legais (RLs) e as Áreas de Proteção
Permanente (APPs) para garantir a conectividade
entre elas em 25 propriedades, com uma área
total de 250 mil hectares, para proteger ao máximo
os rios e conservar a biodiversidade local. Também
serão identificadas e acompanhadas outras
ações de recuperação
de APPs na região. Até agora, já
foram realizadas campanhas de mobilização
e trabalhos de campo. Além dos levantamentos
fundiários, de uso da terra, dos solos, da
vegetação e da fauna, também
deverá ocorrer o monitoramento da qualidade
da água do rio das Pacas, com a participação
do Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia
(Ipam) e dos índios Kisêdjê,
da Terra Indígena Wawi. Recentemente, o Ipam
participou de uma reunião na aldeia Ngõjhwere,
onde apresentou os objetivos do projeto à
comunidade indígena.
O projeto do rio
das Pacas soma-se à Campanha ´Y Ikatu
Xingu, que pretende proteger e recuperar as nascentes
e as matas ciliares do rio Xingu no Mato Grosso,
e é a primeira experiência na região
do entorno do Parque Indígena do Xingu (PIX)
que congrega diferentes atores em atividades de
pesquisa e monitoramento ambiental. O trabalho é
coordenado pela bióloga e assessora do Programa
Xingu, do ISA, Rosely Alvim Sanches, e mais três
professores da Unemat: Amintas Rossete, Júlio
Dalponte e Natália Ivanauskas.
De porteira em porteira
Rosely Sanches explica
que um dos objetivos de aglutinar RLs e APPs de
propriedades vizinhas é a manutenção
de corredores ecológicos para a fauna e zonas
de amortecimento contra impactos ambientais negativos.
“Mas não basta apenas criar um plano de gestão
no papel. É preciso construir isso com diálogo
e participação para que as ações
sejam efetivas”, afirma a bióloga. Ela informa
que, para alcançar este objetivo, os resultados
parciais do projeto serão apresentados em
diferentes momentos em palestras, nas escolas de
Querência, e em reuniões com os produtores
e outros pesquisadores convidados.
Rosely lembra ainda
que o trabalho está sendo desenvolvido em
uma região de fronteira agrícola,
sob o “fervor” da produção de soja,
onde a expressão “meio ambiente” é
coisa proibida. “Para encarar esse mundo real e
conduzir os estudos, é necessário
bater de porteira em porteira e conversar com cada
produtor, gerente ou proprietário, prefeito
e moradores da cidade”. A bióloga avalia
que, por ter mais de 60% de sua cobertura vegetal
preservada (incluindo parte do PIX), a bacia do
rio das Pacas é um campo-piloto para planejar
o uso da terra de forma compatível com a
conservação dos recursos naturais
e hídricos.
“Biólogos
e conservacionistas vêm enfatizando a importância
de associar os estudos de ecologia de paisagem à
dinâmica de uso da terra como instrumento
fundamental para minimizar os processos de fragmentação
florestal. Matas isoladas em áreas extensas
e alteradas são menos importantes ou de baixo
valor biológico para a conservação”,
explica a assessora do ISA. Ela também conta
que as nascentes e córregos formadores da
bacia do Pacas situados fora da Terra Indígena
estão, em alguns casos, bastante comprometidos
pelo mau uso da terra e pelo desmatamento das matas
ciliares e que, para evitar este cenário
de perda de biodiversidade e de comprometimento
dos recursos hídricos, o projeto procurará
obter subsídios técnicos e formular
critérios ambientais para estimular a discussão
sobre os possíveis cenários de conectividade
considerando os diferentes usos da terra. “Os estudos
de fauna vêm despertando interesse entre produtores,
sobretudo, quando o assunto é monitoramento
de grandes carnívoros como a onça-pintada.
A presença destes animais é um dos
indicadores de qualidade ambiental”.
A bacia do rio das
Pacas
Com cerca de 250
mil hectares, seu principal rio, o das Pacas, abastece
diretamente a população da aldeia
Ngoiwerê, cujas nascentes estão fora
da área indígena. Grande parte da
região é recoberta pela chamada floresta
de transição, um tipo de vegetação
restrita ao norte do Estado de Mato Grosso e caracterizada
por espécies adaptadas a estações
climáticas bem definidas, com seis meses
de chuva e seis meses de seca. São raros
os estudos nesse tipo de formação
e, apesar disso, o ecossistema está desaparecendo
rapidamente com as taxas elevadas de desmatamento
na região. O acesso mais próximo à
área de estudo fica cerca de 80 km da cidade
de Querência e o ponto mais distante fica
a mais de 200 km, ao norte da sede do município.
O que é Reserva
Legal e Área de Proteção Permanente
A Reserva Legal (RL)
é a área mínima de vegetação
preservada que cada propriedade deve ter, conforme
estipulado pelo Código Florestal. Na bacia
do Xingu, as propriedades em área de cerrado
devem manter 35% da vegetação intacta
e nas áreas de floresta, 80%. A Área
de Proteção Ambiental (APP) é
a faixa mínima de vegetação
necessária à proteção
dos recursos hídricos, da biodiversidade
e do solo. Geralmente apresenta-se ao longo dos
cursos de água (rios, córregos, lagos),
onde é denominada mata ciliar, ou no topo
de morros, em dunas e à margem de manguezais,
por exemplo.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa