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MOÇÃO PELO
CERRADO ENTREGUE À MINISTRA MARINA
SILVA
Panorama
Ambiental
Belo Horizonte (MG) – Brasil
Agosto de 2005
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Documento alerta
para o crítico estado de conservação
de um dos biomas mais ricos e ameaçados do
planeta e pede ao governo federal medidas para manutenção
e expansão de suas áreas protegidas
16/08/2005 - A Moção
pelo Cerrado, documento organizado por pesquisadores
e ambientalistas em simpósio sobre o uso
e a conservação do bioma, será
entregue hoje às 15h30 à Ministra
de Meio Ambiente, Marina Silva, em audiência
em seu gabinete. A iniciativa da Moção
tomou forma durante o XIX Encontro Internacional
da Sociedade da Biologia da Conservação
(SCB), ocorrido em julho na cidade de Brasília.
Na ocasião, centenas de pesquisadores se
reuniram em Brasília para analisar o custo-benefício
do uso descontrolado dos recursos naturais do bioma
e formular alternativas para sua proteção.
Com cerca de 250
assinaturas, o documento será entregue por
representantes da ONG ambientalista Conservação
Internacional (CI-Brasil) e traz uma síntese
das apresentações e propostas feitas
pelos especialistas durante o Simpósio. A
Moção pede o aumento significativo
da proteção do Cerrado - especialmente
nos remanescentes mais expressivos e ameaçados,
como o sul dos estados do Piauí e Maranhão,
no norte de Tocantins, o oeste da Bahia e todo o
Mato Grosso -, a implementação de
unidades de conservação mais expressivas,
a priorização da porção
norte do bioma para fins de pesquisa científica
e monitoração, o cumprimento do Código
Florestal e a implementação do Plano
de Trabalho com Áreas Protegidas, conforme
compromisso assumido pelo país na 7a Conferência
das Partes da Convenção de Diversidade
Biológica.
Desmatamento - Nos
últimos 40 anos, 60% dos dois milhões
de km2 de Cerrado foram tomados pelas culturas de
soja, algodão, milho e café e por
pastagens plantadas com espécies africanas
de gramíneas. Ao contrário do que
acontece em muitas outras regiões do Brasil,
a agropecuária no Cerrado é de capital
intensivo, mecanizada e dotada de forte aplicação
de ciência. Por outro lado, as taxas de desmatamento
têm sido historicamente superiores às
da floresta Amazônica - são 2,6 campos
de futebol por minuto - mas os esforços de
conservação são muito inferiores.
“A expansão
e a modernização da agropecuária
no Cerrado gerou impactos econômicos positivos,
com o posicionamento do Brasil como um dos maiores
produtores internacionais de grãos e a conseqüente
geração de divisas”, reconhece Roberto
Cavalcanti, vice-presidente da Conservação
Internacional (CI). Mas, essa ocupação
do Cerrado também aumentou as diferenças
sociais e vêm provocando custos ambientais
bastante elevados. Cavalcanti ressalta a visível
fragmentação do ambiente natural,
a perda da biodiversidade, a invasão de espécies
exóticas - que destróem as nativas
-, a erosão do solo, a poluição
da água, a degradação da terra,
o uso pesado de agroquímicos, o desequilíbrio
no ciclo de carbono e as mudanças climáticas.
Apenas 4,1% do Cerrado
se encontram legalmente protegidos. E as pressões
sobre as unidades de conservação existentes
são contínuas e advêm de vários
setores da sociedade: grandes fazendeiros, empresas
e até governos estaduais. Três parques
estaduais - Ricardo Franco (MT), Serra de Santa
Bárbara (MT), e Corumbiara (RO) - além
da Área de Proteção Ambiental
(APA) Ilha do Bananal/Cantão (TO) estão
sendo mutilados para dar lugar ao plantio de mais
soja.
APA Bananal/Cantão
- Uma das principais reservas ambientais do estado
de Tocantins, essa APA teve, recentemente, a redução
de 90% de sua área aprovada pelo governo
do estado. Essa decisão, entretanto, está
suspensa pelo Ministério Público Federal
que questiona o governo do estado quanto ao grande
volume de recursos financeiros, públicos
e privados, de fontes nacionais e internacionais,
que foram destinados à unidade. A proposta
de redução de seu território
- de 1,7 milhão para 185 mil hectares - se
deu por meio do Projeto de Lei no 7, de 16/03/2005,
aprovado pela Assembléia Legislativa do Tocantins
e sancionado pelo governador Marcelo Miranda. "O
argumento para justificar a redução
foi um suposto engessamento econômico da região,
fato no mínimo discutível, devido
à existência do ICMS ecológico
e diversas possibilidades de desenvolvimento que
uma APA permite", explica Mário Barroso,
coordenador do programa Cerrado da CI-Brasil. A
região do Araguaia é considerada um
dos maiores centros de endemismo do Cerrado e a
CI-Brasil está preparando um estudo que ressalta
a importância biológica da área
da APA.
Parque Estadual Ricardo
Franco – Essa unidade, por exemplo, corre o risco
de ter 100 mil dos seus 158 mil hectares excluídos
para dar lugar às atividades econômicas
de 50 produtores. O governo alega não ter
recursos para as indenizações. “Não
se trata de rever os limites da unidade de conservação
em razão de um grupo indígena ou comunidades
tradicionais”, explica Ricardo Machado, diretor
do Programa Cerrado da CI-Brasil.
Ameaças e
soluções – Há cerca de um ano,
Machado previu que o Cerrado poderia desaparecer
em 2030. “Quando eu fiz essas estimativas assumi
que pelo menos as áreas protegidas já
criadas seriam mantidas ao longo do tempo, mas se
nem isso acontecer, podemos estar prestes a liquidar
muito em breve com as riquezas naturais desse bioma”.
Segundo ele, as parcerias público-privado
precisam ser articuladas com urgência no Cerrado,
garantindo que o setor produtivo e o governo tenham
mecanismos para compatibilizar desenvolvimento e
conservação ambiental.
Fonte: Conservation Internacional
(www.conservacao.org.br)
Assessoria de imprensa