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PROTEÇÃO
DA AMAZÔNIA NÃO É PRIORIDADE
DO GOVERNO LULA
Panorama
Ambiental
Manaus (AM) - Brasil
Agosto de 2005
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15-08-2005 - O Greenpeace
assinou hoje carta do Grupo de Trabalho de Florestas
do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos
Sociais para o Meio Ambiente e Desenvolvimento enviada
à Ministra-Chefe da Casa Civil, Dilma Roussef,
que expressa grave preocupação com
a implementação do Plano de Ação
para Prevenção e Controle do Desmatamento
na Amazônia Legal, 17 meses após o
seu lançamento. Há um mês o
Grupo tenta agendar uma reunião com a nova
ministra sem sucesso.
Em 2004, a Casa Civil
não foi capaz de coordenar política
e operacionalmente o Plano, resultando na baixa
adesão de alguns ministérios. Também
não se preocupou em garantir os recursos
no tempo devido, forçando órgãos
executores, como o Ibama, a negociar a liberação
de parte dos recursos previstos no Plano.
O plano do governo
pretendia, entre outros resultados, obter “uma forte
redução nos índices de desmatamento
e queimadas ilegais na Amazônia”. Os dados
do Inpe sobre a área desmatada entre 2003
e 2004 revelados em junho deste ano refletiram não
apenas o fracasso inicial na implementação
do plano, como demonstram a contradição
fundamental que vive o governo Lula: conter o desmatamento
ou promover o crescimento acelerado do agronegócio
de exportação para pagar a dívida
externa.
Na carta, as ONGs
enfatizam que a redução drástica
do desmatamento, conforme compromisso público
do Presidente da República, “é uma
tarefa que requer investimento e empenho constante,
estrutural e amplo do Poder Público, em todas
suas esferas. Também é tarefa que
não pode se limitar a ações
esporádicas e demonstrativas, ou, pior ainda,
estar vinculada, em termos de prioridade, ao andamento
conjuntural da pressão econômica, em
razão de fatores temporários como
preços de commodities ou endividamento de
produtores”.
A expedição
do Greenpeace pela BR-163 tem documentado a triste
situação de muitas áreas públicas
no Pará e no Mato Grosso: regiões
que um dia foram florestas, hoje estão completamente
desmatadas. Algumas estão sendo queimadas
neste momento para a formação de pastagens,
contribuindo para a emissão de gases do efeito
estufa na atmosfera. Outras áreas são
abandonadas, comprovando o interesse somente na
grilagem de terras para especulação
fundiária..
Segundo dados preliminares,
o índice de desmatamento teria reduzindo
em julho, após a Operação Curupira
– que flagrou vários esquemas ilícitos
envolvendo fiscais do Ibama, madeireiros e fazendeiros
– e a realização de algumas operações
de fiscalização de campo. Contudo,
se o Governo não estiver presente de forma
efetiva e permanente na Amazônia, como previsto
no Plano de Ação, o Brasil corre o
risco de lamentar, ano a ano, o desaparecimento
da maior floresta tropical do mundo. E mais um plano
governamental será engavetado por falta de
prioridade.
Veja aqui íntegra
da carta enviada pelas ONGs à Ministra-Chefe
da Casa Civil, Dilma Roussef.
Exma. Sra. Dilma
Vana Roussef
Ministra-Chefe da Casa Civil
Presidência da República
Brasília - DF
15 de agosto de 2005
Exma. Sra. Ministra,
As entidades da sociedade civil firmatárias
desta carta - que se reúnem no Grupo de Trabalho
de Florestas do Fórum Brasileiro de ONGs
e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e Desenvolvimento
- expressam grave preocupação com
o estado de implementação do Plano
de Ação para Prevenção
e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal,
lançado pelo Excelentíssimo Senhor
Presidente da República em 15 de março
de 2004 e coordenado pela pasta ora chefiada por
V. Exa.
O Plano em objeto
ganhou amplos reconhecimentos por parte da sociedade
civil, em decorrência da análise corajosa
do fenômeno e de suas dinâmicas, da
novidade representada pela participação
de treze ministérios e da própria
coordenação por parte da Presidência
da República. Embora constasse do plano um
número e diversidade de ações
específicas que extrapolava em alguns casos
os limites do necessário realismo, ou até
mesmo o objeto do plano em si, sua estratégia
e abordagem foram respaldadas amplamente pelas entidades
firmatárias desta carta.
Decorridos 17 meses de seu lançamento, é
possível afirmar que o Plano, formulado de
acordo com uma estrutura que continha quatro componentes,
está sendo implementado de forma tão
limitada e parcial que acaba esvaziando seu desenho
e estratégia originais. Isso diz respeito
tanto ao processo, com substancial ausência
da abordagem transversal e de coordenação
da Casa Civil, quanto ao mérito, com redução
do foco e insuficiente instrumentalização.
O primeiro componente do Plano diz respeito às
grandes obras de infraestrutura, com a introdução
de rigorosos procedimentos cautelares preventivos
e a revisão do portfólio do atual
PPA. A própria análise do Plano tratava
este tema como crucial para o conjunto das demais
ações. Hoje este componente não
apenas deixou de ser implementado, mas foi até
formalmente removido, de acordo com o relatório
divulgado pela Casa Civil em maio deste ano.
O segundo componente do Plano está relacionado
com "Ordenamento Fundiário e Territorial".
O próprio governo, em referido relatório,
afirma que "os recursos financeiros para a
realização dessas atividades têm
sido insuficientes e não têm chegado
a algumas superintendências" do Incra.
Todas as oito ações previstas para
serem executadas até março de 2005
deixaram de cumprir a maioria de suas metas. Enquanto
isso, nem sequer a legislação de 2002
que estabelece obrigações básicas
de cadastro fundiário está sendo cumprida,
gerando uma ilegalidade progressivamente difusa
no meio rural.
O terceiro componente do Plano, "Monitoramento
e Controle", é aquele que apresentou,
relativamente, o grau mais avançado de implementação.
Mesmo assim, até abril deste ano, quando
entidades que fazem parte de nosso grupo realizaram
uma apuração direta, apenas três
das 19 bases operacionais haviam sido de fato implantadas.
No ano de 2004, dos R$ 82 milhões estimados
para as ações deste componente, foram
repassados ao IBAMA apenas 40 em agosto de 2004,
já no fim da época do desmatamento
na maior parte da região, e outros 20 milhões
em 29 de dezembro, apenas dois dias antes do fechamento
do ano fiscal. Isso faz com que dificilmente eles
podem ter sido efetivamente destinados às
ações previstas no Plano. A situação
de 2005, pelo que foi possível verificar,
é ainda mais preocupante, em decorrência
de contingenciamento orçamentário.
No caso do quarto e último componente do
Plano, "Fomento para Atividades Sustentáveis",
de novo o próprio relatório do governo
admite que "...o planejamento operacional e
execução inicial desse eixo temático
demonstram entraves significativos, no que se refere
à definição de foco estratégico,
integração entre ações,
cooperação interministerial e incorporação
das diretrizes e prioridades do Plano na rotina
de instituições executoras. Essa situação
contribuiu para um baixo grau de desempenho do eixo
temático Fomento em 2004, bem como problemas
de execução desequilibrada entre os
componentes". Algumas ações avançaram
por estarem contempladas em outros projetos já
em execução, com seus próprios
cronogramas e recursos de cooperação
internacional, não contingenciados. Ações
fundamentais da área de agricultura, como
recuperação e intensificação
em áreas alteradas ou degradadas, deixaram
de ser realizadas. Mas, em geral, o fomento público
na região em geral parece congelado, frente
ao atraso de quase dois anos no lançamento
do PAS e ao impasse orçamentário-legislativo
que caracteriza a ADA ou nova SUDAM.
Gostaríamos de reiterar que a redução
drástica do desmatamento, conforme compromisso
público do Excelentíssimo Senhor Presidente
da República, é uma tarefa que requer
investimento e empenho constante, estrutural e amplo
do Poder Público, em todas suas esferas.
Também é tarefa que não pode
se limitar a ações esporádicas
e demonstrativas, ou, pior ainda, estar vinculada,
em termos de prioridade, ao andamento conjuntural
da pressão econômica sobre as florestas,
em razão de fatores temporários como
preços de commodities ou endividamento de
produtores.
Procuramos, ao longo do último mês,
marcar um encontro com V. Exa. para manifestar e
discutir as preocupações acima descritas.
Não foi possível encontrar disponibilidade
por parte de V. Exa. É nossa interpretação
que V. Exa. não deixou de atender nosso grupo
por desinteresse em relação à
interlocução com a sociedade civil,
e sim, mais provavelmente, pela baixa prioridade
que este tema representa na intensa agenda operacional
de V. Exa.
Gostaríamos de deixar registrado o inconformismo
da sociedade civil organizada com o abandono substancial
do Plano em objeto. Retomaremos as iniciativas mais
adequadas para que a mobilização da
sociedade brasileira coloque o tema em pauta com
renovado vigor, pois trata-se de uma questão
de interesse estratégico do país.
Atenciosamente,
Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais
para o Meio Ambiente e Desenvolvimento - Grupo de
Trabalho de Florestas*
* Fazem parte do GT Florestas do FBOMS:
Amigos da Terra - Amazônia Brasileira
Centro de Trabalhadores da Amazônia - CTA/AC
Comissão de Meio Ambiente da CUT
Comissão Pastoral da Terra - CPT Xingu
Federação dos Órgãos
para Assistência Social e Educacional - FASE
Fundação CEBRAC
Fundação Pró-Natureza - Funatura
Fundação Vitória Amazônica
- FVA
Fundação SOS Mata Atlântica
Greenpeace
Grupo Ambientalista da Bahia - GAMBÁ
Grupo de Trabalho Amazônico - GTA (rede de
603 entidades locais)
Instituto Centro de Vida - ICV
Instituto de Manejo e Certificação
Agrícola e Florestal - IMAFLORA
Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia
- IMAZON
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia
- IPAM
Instituto Socioambiental - ISA
Rede de ONGs da Mata Atlântica (rede de 256
entidades locais)
The Nature Conservancy - TNC
Vitae Civilis - Instituto para Desenvolvimento,
Meio Ambiente e Paz
WWF Brasil
Fonte: Greenpeace-Brasil (www.greenpeace.org.br)
Assessoria de imprensa