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INDÍGENAS TÊM
DE CONVENCER CACIQUE A IMPEDIR ENTRADA DE
MADEIREIROS NO XINGU
Panorama
Ambiental
Alto Xingu (MT) – Brasil
Agosto de 2005
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As lideranças
indígenas que garantem a convivência
pacífica dos quase 5 mil índios de
14 etnias habitantes da região do Alto Xingu,
em Mato Grosso, enfrentam atualmente o desafio de
levar a consciência ambiental aos próprios
índios. Representantes de uma única
comunidade Trumái, na região de Terra
Nova, a oeste do parque, têm autorizado a
entrada de madeireiros nas terras indígenas.
Os demais líderes agora têm de convencer
o cacique Ararapam a voltar atrás. "Trumái
é outra cabeça. Não sei se
é por causa de mais recurso que está
vendendo madeira. Eu acho muito errado. Mas outras
aldeias aqui não fazem isso não",
diz Atamai, chefe dos Waurá, que participou
do Kuarup na aldeia Ipatse, dos Kuikuro, encerrado
nesta sexta (26).
Atamai é cunhado
de Ararapam. Ele diz que ainda não teve oportunidade
de conversar com os Trumái a respeito, mas
se diz preocupado. "A gente vive aqui nesse
mato, nós temos que controlar nosso mato.
Se acabar tudo, como é que a gente vai viver,
fica muito quente o sol, a gente não respira
mais direito. E onde vai criar o animal? Todo animal
se alimenta de fruta do mato", argumenta.
Afukaká, líder
dos Kuikuro, e anfitrião do Kuarup que aconteceu
esta semana, diz que as lideranças das 14
etnias que habitam o Alto Xingu já mandaram
uma carta pedindo a retirada dos madeireiros à
ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Ele diz
que os Trumái fizeram tudo por conta própria.
"Foi sem consultar liderança. Nunca
consultaram isso", afirma ele.
A Funai informa que
já fechou uma serraria na região de
Terra Nova e lembra que tem tentado oferecer alternativas
de desenvolvimento sustentável na região,
como o comércio de mel e artesanato. Segundo
a assessoria de imprensa da fundação,
também já foi solicitado que a fiscalização
do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama) atue na região.
Os Trumái
são, numericamente, o menor grupo do Alto
Xingu. Somam menos de 100 indivíduos, segundo
a Funai, e vivem numa região de transição,
entre o chamado sistema xinguano e os povos do Médio
e Baixo Xingu, que historicamente eram considerados
"índios bravos" pelos do Alto,
devido às diferenças culturais. A
relação entre os líderes do
Alto Xingu é baseada em laços de cooperação
e amizade, não havendo subordinação
obrigatória de uma aldeia a uma decisão
coletiva, como explica o antropólogo Carlos
Fausto, do Museu Nacional da Universidade Federal
do Rio de Janeiro.
Fonte: Radiobras – Agência
Brasil (www.radiobras.gov.br)
Spensy Pimentel