 |
ÍNDIOS GUARANI ÑADEVA
AFIRMAM QUE NÃO VÃO DEIXAR
A TI YVY-KATU
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Agosto de 2005
|
 |
Diante de uma ordem
de despejo de seu próprio território
– reconhecido por portaria do Ministério
da Justiça no início de julho, mas
que foi suspensa logo em seguida pelo Judiciário
- índios guarani ñadeva se indignam
e afirmam que conflito com fazendeiros pode romper
a qualquer momento.
A tragédia
está novamente anunciada no Mato Grosso do
Sul (MS), onde índios guarani ñadeva
afirmam que não vão deixar de maneira
alguma a Terra Indígena (TI) Yvy-Katu, reconhecida
oficialmente pelo Ministério da Justiça
no dia 4 de julho. Apesar do reconhecimento no Executivo,
a única terra indígena declarada este
ano pelo Governo Federal comemorou a conquista somente
por quatro dias: já no dia 8 de julho, uma
liminar concedida pelo Superior Tribunal de Justiça
(STJ), a pedido da fazenda Pedra Branca - propriedade
que está inserida dentro dos limites da TI
– suspendeu os efeitos da portaria que reconhece
o território de posse permanente desse povo.
A liminar invalida
a portaria declaratória até o julgamento
de um mandado de segurança preventivo que
tramita no STJ desde antes da declaração
da TI, pelo qual a Pedra Branca tenta impedir a
demarcação como está prevista
no processo administrativo da Yvy-katu. O julgamento
do mandado está marcado para o dia 14 de
setembro.
Ordem de
despejo causa revolta
Mas não foi
só. Junto com a suspensão da portaria,
veio também uma ordem de reintegração
de posse para que os Guarani deixem os 500 hectares
que ocupam dentro na TI, enquanto aguardam o julgamento
do mandado. O subprocurador geral do Ministério
Público Federal (MPF), Aurélio Virgilio
Veiga Rios, chegou a protocolar um pedido de suspensão
de segurança no STJ para impedir a retirada
dos índios, mas o requerimento foi indeferido
pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Isso significa que,
a qualquer momento, entre os dias 2 e 15 de setembro
- prazo anunciado pelo governo para que ocorra a
reintegração de posse, conforme informação
de Egon Heck, coordenador regional do Conselho Indigenista
Missionário (CIMI) no MS - as polícias
federal e militar podem cumprir a ação
de despejo e gerar mais um violento episódio
num estado profundamente marcado por mortes e conflitos
entre índios e fazendeiros.
O cacique guarani
ñadeva, Rosalino Ortiz, diz estar muito preocupado
com a situação: “a comunidade decidiu
que se tiver violência contra nós,
nós vamos resistir, não vamos sair.
Vamos enfrentar”.
Ortiz e mais duas
lideranças guarani kaiowa, Anastácio
Peralta e Nito Nelson, participaram ontem, segunda-feira
29 de agosto, de audiência com o vice-governador
do MS, Egon Krakhecke, e com o deputado estadual
Pedro Kemp (PT). Além de solicitarem o apoio
do governo do estado para impedir que sejam retirados
da área, entregaram uma carta pedindo urgentemente
a demarcação e homologação
da Yvy-Katu como forma de resolver os problemas
na região. Estavam presentes na audiência
também Egon Heck e Rogério Batalha
Rocha, advogado do CIMI. O documento segue abaixo,
reproduzido na íntegra.
Dia 25 de agosto
de 2005
Porto Lindo, Yvy
Katu
Excelentíssimo
Governador do Estado do Mato Grosso do Sul
Departamento de Assuntos
Direitos Humanos e Direitos Indígenas
Nós, comunidade
da área Yvy Katu, vimos através deste
documento reafirmar que vamos permanecer na nossa
área para sempre, e pedimos a demarcação
e homologação.
Salientamos que,
aguardamos incansáveis a decisão da
posse total da nossa área Yvy Katu, enquanto
os proprietários dito dono daquela área,
mantém um clima constrangedor naquela região,
podendo até mesmo a causar clima de conflito
a qualquer momento.
Por essa, e outras
razões, estamos pedindo a demarcação
e a homologação total de fato e concreto
pelos órgãos responsáveis da
nossa área.
Já aguardamos
mais de 1 ano e 9 meses para que demarque de fato
e concreta a nossa área Yvy Katu.
Por isso estamos
pedindo mais uma vez com máxima urgência
o reconhecimento e a publicação da
demarcação e homologação
da área que nos pertence.
Tekohá Yvy
Katu é a nossa mãe, pois possuem terreno,
córregos, matas reservas e muitas plantas
medicinais, ali viveremos alegres, contentes, mantendo
a nossa cultura tradicionais, como dança,
rituais, a nossa língua materna entre outros
para sempre.
Contamos e pedimos
o total apoio de vossas senhorias.
Povo Guarani incansáveis
na luta!
Yvy Katu, Japorã–MS.
Fonte: Instituto Socioambiental
(www.isa.org.br)
Assessoria de imprensa (Livia Chede Almendary)