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SEBASTIÃO SALGADO
DEFENDE MOBILIZAÇÃO NACIONAL
PELA AMPLIAÇÃO DO PARQUE DO
XINGU
Panorama
Ambiental
Alto Xingu (MT) – Brasil
Agosto de 2005
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O fotógrafo
brasileiro Sebastião Salgado foi presença
ilustre no Kuarup que aconteceu esta semana na aldeia
Ipatse, dos Kuikuro, no Alto Xingu. Mundialmente
conhecido por imagens que divulgam lutas sociais
e denunciam mazelas nos países em desenvolvimento,
Salgado defende a criação de um movimento
nacional em defesa do parque. Ele considera o Xingu
uma referência cultural para o Brasil e a
humanidade. "Eu espero que haja uma ação
nacional contra essa corrida ao lucro, essa ganância
do mundo da soja. É preciso tomar cuidado
para não destruir essa referencia nacional",
diz.
O fotógrafo
conta que está no Xingu colhendo imagens
para seu novo projeto, intitulado Gênesis.
"Estou procurando referências do início
da humanidade, culturas que representem o início
do gênero humano como um todo. Com muito prazer,
é o que acabei de encontrar aqui no alto
Xingu", disse ele, em entrevista exclusiva
à Agência Brasil.
O Gênesis foi
lançado em 2003, tem duração
prevista de oito anos e conta com apoio da Unesco
(Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura). No Alto Xingu há 40 dias, Salgado
documenta não só o Kuarup, mas vários
outros rituais dos xinguanos. Antes, o fotógrafo
conta que esteve nas ilhas Galápagos, no
oceano Pacífico, e também na Antártida.
Do Xingu, irá para a Namíbia, na África,
onde fotografará povos do deserto, como os
Bushmen. Depois, passará pela Etiópia
e o Sudão.
Economista, Salgado
iniciou a carreira na Organização
Internacional do Café, nos anos 70, na Europa.
A partir desse trabalho, visitou países africanos
e asiáticos em missões ligadas ao
Banco Mundial e, ali, passou a fotografar o mundo
em desenvolvimento. Hoje, é embaixador especial
da Unicef (Fundo das Nações Unidas
para a Infância) e membro honorário
da Academia de Artes dos Estados Unidos. Leia a
seguir os principais trechos da entrevista.
Agência Brasil
- Qual é a importância do Xingu para
o Brasil?
Sebastião
Salgado - O Xingu, principalmente para as pessoas
da minha geração, que estão
hoje no comando do país, em função
da idade, foi muito importante. Quando éramos
jovens, os primeiros contatos feitos aqui, na época
do Getulio Vargas, as primeiras apresentações
do Kuarup, tudo isso teve um simbolismo muito grande.
Aos poucos, isso
aqui passou a ser uma referência nacional
da tradição indígena, e hoje
é essencial a preservação desses
rituais e das culturas aqui do Alto Xingu. Tudo
isso está muito ameaçado. A fronteira
do parque hoje termina dentro de uma quantidade
imensa de fazendas de soja. Hoje, as fontes do rio
Culuene, que na realidade é a base do rio
Xingu, estão ameaçadas pela construção
de barragens. Uma barragem já começou
e houve uma liminar, graças à ação
dos indígenas aqui do Alto Xingu. A construção
foi paralisada temporariamente.
Eu espero que haja
uma ação nacional contra essa corrida
ao lucro, essa ganância do mundo da soja.
É preciso tomar cuidado para não destruir
essa referência nacional. Há muito
risco. É uma cultura aquática, eles
não comem outra carne senão a do peixe,
então eles dependem das águas dos
rios, e tudo isso está realmente ameaçado.
A minha proposta
seria a de se começar uma luta nacional para
transformar toda essa região, incluindo todas
as fontes do rio Xingu, em parte da extensão
do parque. O governo poderia fazer uma indenização
dessas fazendas de soja e replantar as matas na
região.
ABr - Como o mundo
enxerga hoje o Xingu?
Salgado - A história
das tribos do Xingu é muito anterior à
história do Brasil moderno. Existem escavações
aqui na região em que se encontraram aldeias
antiqüíssimas, com populações
imensas, com uma verdadeira cultura. Isso deveria
ser divulgado no Brasil, para a gente ter a honra
de ter as nossas origens a partir um pouco dessa
região. É uma região importante
e poderosa dentro da cultura brasileira. Não
pode só haver lucro e ganância, a cultura
tem que ser preservada.
ABr - Qual o sr.
pensa que deveria ser a atitude da população
amazônica em relação a esse
tipo de ameaça?
Salgado - A população
realmente amazônica tem que ficar atenta à
destruição da região. A região
amazônica é forte, é potente,
em função das águas, pela floresta
que tem, pelas reservas indígenas. Essa penetração
na região para a retirada da madeira, para
o lucro rápido, não serve à
população real da Amazônia,
serve apenas às empresas que estão
à cata do lucro. A ganância não
serve à população real da região.
A verdadeira população
da Amazônia tinha que lutar pela preservação,
porque essas é que são suas riquezas
reais. Se essas riquezas se forem, isso aqui passará
a ser uma região devastada e pobre. Temos
a maior reserva de água doce do planeta,
a maior reserva de floresta tropical: essa possivelmente
deve ser a maior riqueza do Brasil hoje.
Fonte: Radiobras – Agência
Brasil (www.radiobras.gov.br)
Spensy Pimentel