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DESAFIO DA AMAZÔNIA
É SUBMETER TODA ATIVIDADE A BASES
SUSTENTÁVEIS, DIZ MARINA
Panorama
Ambiental
Manaus (AM) – Brasil
Setembro de 2005
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08/09/2005 – Neste
trecho da entrevista à Radiobrás sobre
o Projeto de Lei de Gestão de Florestas Públicas,
a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, aponta
medidas adotadas pelo governo contra o desmatamento
e defende a necessidade de uma economia diversificada
para a região amazônica: "Nós
não podemos achar que, para se desenvolver,
ela vai ter que ser só soja, só agricultura,
só pecuária, só madeira".
A ministra afirma,
também, que o ministério tem conseguido
promover a "transversalidade" da visão
ambiental. Cita, como evidência disso, a participação
da pasta em várias ações multilaterais
do governo e os resultados do controle das atividades
ilegais na Amazônia.
Radiobrás
- O controle do desmatamento é apontado com
um dos principais focos do projeto de lei. Os órgãos
fiscalizadores serão fortalecidos?
Marina Silva - Isso
já está acontecendo. Nós tivemos
autorização para concurso do Ibama,
que está ingressando mais 600 analistas ambientais
e, num segundo momento, mais 350. Nossos servidores
chegaram a ter uma melhoria salarial de 120%. Estamos
contratando, em caráter provisório,
mais de 100 analistas ambientais e engenheiros ambientais
para as áreas em que a pressão é
maior. Estamos fazendo um investimento no potencial
de ação tanto na parte de fiscalização
quanto na Diretoria de Florestas e na Secretaria
de Biodiversidade e Florestas.
Radiobrás
- Com o desmatamento veio à tona a fragilidade
dos próprios órgãos fiscalizadores.
O projeto se condiciona por aí? Ou só
a partir do PL [projeto de lei] é que esse
fortalecimento começa?
Marina - O fortalecimento
já está acontecendo, como mencionei.
Nós tivemos um processo de estruturação
do Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis] , a criação
de unidades de conservação – cerca
de 8 milhões de hectares –, todo o processo
de regularização fundiária
que está sendo feito agora pelo Incra [Instituto
Nacional de Colonização e Reforma
Agrária], a criação de 16 bases
operativas, todo o trabalho integrado que vem sendo
feito por Ibama, Polícia Federal, Polícia
Rodoviária, Ministério do Trabalho,
Exército, Ministério Público.
Os dados de 2004-2005 apontam a tendência
de queda de desmatamento altamente significativa.
Vê-se no Pará, estado que em 2003 tinha
o maior índice, uma tendência de redução
de desmatamento de mais de 80%.
Radiobrás
- São resultados expressivos. Mas existe
disposição do governo de dar um caráter
mais permanente a esse trabalho?
Marina - Não
se trata de ações emergenciais. A
decisão do presidente Lula foi de agir contra
as atividades predatórias, o desmatamento.
Em 2003, nós estabelecemos grupo ministerial,
permanente, envolvendo 13 ministérios, coordenado
pela Casa Civil. Foi apresentado um plano que tem
quatro eixos estruturantes – ordenamento territorial
e fundiário, fomento a atividades produtivas
sustentáveis, apoio à ciência
e tecnologia da região e revisão de
todas as obras de infra-estrutura. E é essa
estratégia que agora está em curso.
Tivemos as operações Faroeste, Setembro
Negro e Curupira, agora temos um processo que se
estende para todos os estados.
Radiobrás
- Desde o início, a senhora defendeu que
a sustentabilidade ambiental permeasse todas as
políticas do governo. Entidades afirmam que
essa "transversalidade" não se
concretizou e que os outros ministérios,
muitas vezes, só aceitam algumas limitações
de caráter ambiental. A pavimentação
da BR-163 (rodovia que liga Cuiabá-MT a Santarém-PA)
seria uma prova disso?
Marina - Diria, neste
momento, que uma das diretrizes que mais têm
prosperado no governo é a da política
ambiental integrada. Quando chegamos, a BR-163 estava
praticamente pra ser licitada. Foi por uma decisão
do centro de governo, a partir de uma proposta do
Ministério do Meio Ambiente, que os ministérios
dos Transportes e o da Integração
Nacional pararam a licitação. Iniciamos
um processo de ampla discussão para que a
abertura da BR não fosse mais um vetor de
destruição. Isso se configurou na
criação de várias unidades
de conservação, na medida provisória
que criou a ferramenta da limitação
administrativa provisória – imobilizando
cerca de 8 milhões hectares de florestas
–, e nós conseguimos perceber, nesses dados
que o Deter [sistema de detecção de
desmatamento em tempo real via satélite do
Instituto de Pesquisas Espaciais] apresentou preliminarmente
[em 27 de agosto], que em uma das regiões
onde o desmatamento crescia 500%, em 2002 e 2003,
houve uma redução de 81% do desmatamento.
No caso da BR, 18 ministérios estão
envolvidos. O Ministério do Meio Ambiente
trabalha num conjunto de 32 grandes ações
no âmbito do governo, além das agendas
multilaterais coordenadas pela Casa Civil, nas quais,
na maior parte dos casos, tem o papel de secretaria
executiva.
Radiobrás
- É possível a soja e a pecuária
terem uma presença forte na Amazônia
em bases sustentáveis? Essas atividades podem
conviver bem com as atividades das comunidades locais
e com o respeito ao meio ambiente?
Marina - É
um desafio colocado para a Amazônia. De que
qualquer que seja a atividade produtiva ocorra em
base sustentável. A Amazônia tem que
ter uma economia diversificada. Nós não
podemos achar que, para se desenvolver, ela vai
ter que ser só soja, só agricultura,
só pecuária, só madeira. A
Amazônia tem que ter um conjunto de atividades
produtivas de pequeno, médio e grande porte
e em base sustentável que seja capaz de gerar
emprego, gerar renda, agregando valor aos produtos,
investindo pesado em ciência e tecnologia
adaptada à região. Esse é o
esforço que está sendo feito com o
plano de combate ao desmatamento, o Plano BR-163
Sustentável e o Plano Amazônia Sustentável,
que é o desaguadouro de todas essas ações.
Fonte: Agência Brasil –
Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Janaina Rocha e Pedro Biondi