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MINISTRA PREVÊ INÍCIO
DE CICLO VIRTUOSO COM GESTÃO DE FLORESTAS
Panorama
Ambiental
Manaus (AM) – Brasil
Setembro de 2005
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08/09/2005 – Em
entrevista exclusiva à Radiobrás,
a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirma
que a o Projeto de Lei de Gestão de Florestas
Públicas (PL 4776), se aprovado, dará
origem a um "processo virtuoso", em termos
sociais, ambientais e econômicos, a partir
da oferta adequada de madeira para a indústria.
Ela prevê que a lei estanque o processo de
grilagem de áreas públicas.
Segundo Marina, a
idéia é combinar a exploração
madeireira com outras atividades e promover a transformação
da matéria-prima na própria região.
Ela estima que a experiência inicial desse
sistema, em torno da BR-163 (rodovia que liga Cuiabá-MT
a Santarém-PA, e cujo asfaltamento é
previsto para este ano), pode gerar 100 mil empregos.
Radiobrás
- Em que momento e diante de que fatos o ministério
concluiu que esse modelo era a melhor solução
para o uso de áreas que correspondem a 75%
da Amazônia?
Marina Silva - Nós
tivemos a constatação que a maior
parte das terras na Amazônia – sobretudo nos
estados que têm uma grande base florestal,
como o Pará – é de terras públicas.
E havia a necessidade de um marco legal que permitisse
a utilização de florestas públicas
para o modelo sustentável a partir de critérios
que estabelecessem o uso oneroso [com cobrança]
para os grandes manejadores e a concessão
para os pequenos, comunitários. A partir
daí nós começamos a trabalhar
a idéia de um projeto de lei que estabelecesse
esse marco legal, além da criação
de mecanismos de fomento e principalmente a criação
do Serviço Florestal Brasileiro.
Radiobrás
- Menos de 5% da produção madeireira
da região é certificada. O próprio
ministério ainda não tem indicadores
para mostrar se os planos de manejo sustentável
já implantados têm obtido viabilidade
- a previsão é preparar esses indicadores
até o fim do ano. Não seria recomendável
uma experiência de transição,
em escala menor?
Marina - Pela extensão
das áreas com potencial, o que está
sendo proposto no distrito florestal [delimitado
na área de influência da BR-163], de
cerca de 5 milhões de hectares para o manejo,
é uma atividade em caráter piloto
– embora o projeto seja de grande escala. Antes
de todo o processo de fiscalização,
havia uma produção florestal que gerava
18 mil empregos sobre bases ilegais; com o distrito
florestal, isso tem um potencial de 100 mil empregos.
Além disso, estamos trabalhando a possibilidade
de fazer o inventário florestal e o disponibilizar,
estamos trabalhando com a idéia de fazer
um plano anual de outorga, teremos instituições
de pesquisa que de três em três anos
farão uma avaliação ambiental
de todo esse processo.
Radiobrás
- A senhora pode falar mais sobre o plano de transição?
Marina - Nas disposições
transitórias, o PL [projeto de lei] estabelece
a possibilidade de que aqueles planos de manejo,
embora em terra pública e mesmo que estejam
sendo feitos corretamente, fiquem em caráter
provisório, sem qualquer expectativa de posse,
até que se estabeleça o Plano Anual
de Outorga, que se faça uma concessão
pública. Eles [os contemplados nessa etapa]
depois terão que concorrer como qualquer
outra pessoa que esteja interessada em participar
do processo de concessão pública.
Radiobrás
- O Plano Anual de Outorga, que a senhora citou,
é uma das bases práticas do projeto,
uma vez que definirá que áreas, e
em que condições, serão concedidas.
Um instrumento importante para isso é o Zoneamento
Ecológico-Econômico, que busca mostrar
as condições e vocações
de cada área. Como ele está caminhando?
Marina - A parte
do Zoneamento Ecológico-Econômico está
sendo feita por alguns estados e é uma ferramenta
para o processo da dinâmica de desenvolvimento
na região. O zoneamento é importante,
mas o PL é fundamental, é em si mesmo
uma ferramenta que pode destinar áreas para
o manejo sustentável. Já está
prevista uma fase de transição até
que se crie o Serviço Florestal, até
que se possa fazer o plano de outorga, até
que se possa estabelecer o regime de concessões
públicas, exatamente para que se tenha um
período em que vamos fornecer o suprimento
de madeira adequado para o setor produtivo. A partir
daí você vai criando um processo virtuoso
em que as atividades possam se dar em bases sustentáveis,
tanto do ponto de vista quanto econômico quanto
social.
Radiobrás
- Que atividades podem se dar de forma complementar
ao manejo?
Marina - O uso de
resinas, óleos, essências da floresta
é um exemplo. A intenção é
fomentar também o processamento da matéria-prima
na própria região, com isso gerando
mais renda e mais emprego, e conduzir esse processo
com ampla participação da sociedade,
para que a gente possa avaliar os resultados não
apenas do ponto de vista econômico, mas também
ambiental e social. Uma coisa que a gente tomou
bastante cuidado foi de fazer com que os pequenos
manejadores possam ser priorizados no que concerne
ao acesso à infra-estrutura. Isso a gente
aprendeu com a experiência de outros países,
em que geralmente os grandes [concessionários]
se apropriam das áreas que estão mais
perto da infra-estrutura e os pequenos são
jogados para regiões de difícil acesso.
Radiobrás
- Como o manejo de madeira vai se relacionar com
o mercado internacional? Existiu pressão
das indústrias madeireiras pela formulação
do projeto, para que mais madeira certificada esteja
logo disponível?
Marina - Primeiro,
há uma forte determinação da
parte do governo de combater as práticas
ilegais. Quando assumimos o governo, tínhamos
apenas 300 mil hectares de floresta certificados.
O esforço do ministério, através
do Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis], e as
ações integradas do governo, combatendo
muito fortemente essas práticas – o que nos
levou à apreensão de 70 mil metros
cúbicos de madeira ilegal em 2003 e 95 mil
metros cúbicos de madeira ilegal até
a metade de 2005 –, têm expurgado os ilegais
do mercado e criado condições efetivas
para que os legais se estabeleçam. Temos
absoluta clareza de que a melhor forma de competir
com as atividades predatórias é dando
valor à floresta em pé. E o mecanismo
que propõe o PL é exatamente para
que as florestas continuem sob o domínio
da União. Porque, com a forma como [o manejo]
vinha sendo feito secularmente, acabava se configurando
uma expectativa de titulação dessas
áreas para proprietários privados,
o que com o PL acaba definitivamente.
Fonte: Agência Brasil –
Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Janaina Rocha e Pedro Biondi